Apesar de ser uma disciplina esportiva menos popular no Brasil em comparação ao mountain bike, o ciclismo de pista tem grande importância e um longo capítulo dentro da história da bicicleta. A modalidade terá 10 disputas nas Olimpíadas do Rio 2016.

O ciclismo de pista é uma competição esportiva de velocidade disputada em pistas especialmente construídas para esta modalidade, os chamados velódromos. Há modalidades com disputas individuais ou em equipes.

Como nasceram os velódromos O ciclismo em pista surgiu na Europa, especialmente como forma dos ciclistas treinarem durante o inverno. À medida em que as primeiras corridas de ciclismo de estrada aconteciam, no desenrolar da segunda metade do século XIX, alguns organizadores de eventos britâni.

cos pensavam em como controlar o público que assistia às provas para rentabilizar esses eventos. Há relatos de que na década de 1870, Birmingham, Sheffi eld, Liverpool, Manchester e Londres se tornaram pioneiras ao sediarem competições de ciclismo em pistas fechadas onde era cobrada uma taxa de entrada dos espectadores. Essas primeiras provas atraíam até 2.000 pessoas!

Assim nasceram os primeiros velódromos. No início não havia um padrão para a sua construção. Eles surgiam em vários lugares, como ao redor de pistas de atletismo, sem nenhuma referência de padrão de tamanho ou material de construção. O velódromo construído em 1877 em Preston Park, Brighton, por exemplo, considerado o primeiro do mundo, tinha 579 m de comprimento e o formato de quatro retas ligadas por curvas inclinadas.

Incluído na primeira edição dos Jogos Olímpicos, realizados em 1896 em Atenas, na Grécia, o ciclismo de pista passou a contar com um formato padrão de velódromo, oval com duas retas unidas por duas curvas inclinadas e superfície composta de concreto ou madeira. Nas Olimpíadas de Atenas 1896, a pista tinha 500 metros. Hoje, a regra olímpica exige no mínimo 250 metros, medida da maioria dos velódromos, inclusive o utilizado nas Olimpíadas de Londres 2012, com capacidade para 6.000 espectadores.

A bicicleta utilizada

A bicicleta para provas de pista tem algumas características peculiares. A principal diferença entre estas Speeds para aquelas utilizadas no Ciclismo de Estrada é o fato de não terem roda livre, nem freios e marchas. Há um ditado que diz que “a pista é a mãe de todas as modalidades”, e muitos ciclistas afirmam isso justamente porque o fato da bicicleta ser fixa aprimora a pedalada, fator que beneficia um atleta de BMX, de Mountain Biking ou de Estrada.

Embora sejam bastante leves, as bicicletas de pista prezam mais pela rigidez do que pela leveza, para suportarem as pedaladas fortíssimas em Sprint. Por exemplo, a distância entre o quadro/ garfo e as rodas é mínimo, o que torna a bike mais firme e com melhor desempenho ao fazer curvas mais fechadas. A geometria do quadro possui ângulos maiores, o que garante uma boa dirigibilidade em uma pista sem buracos ou lombadas, como é o caso dos velódromos. O ângulo da caixa de direção em uma bicicleta para ciclismo de pista costuma ter 75 graus de ângulo de caixa de direção, enquanto que em uma speed estradeira varia de 70,5 a 73 graus. Interessante observar também que os capacetes utilizados são bastante aerodinâmicos, e as rodas também, sendo comum a utilização das chamadas rodas disco, que são totalmente fechadas.

© Ronan Merot / Scott

Eddy Merckx nas pistas

O belga Eddy Merckx ficou marcado na história como um dos melhores ciclistas de estrada de todos os tempos. Ele venceu cinco Tours de France, cinco Giros d’Italia e uma Vuelta a España. Mas você sabia que ele também competiu em velódromos? Foi campeão europeu em pista quatro vezes e campeão belga em pista sete vezes.


Um papo com Gabriela Yumi, atleta da seleção brasileira de ciclismo de pista.

© Divulgação CBC

Principais conquistas recentes:

Vice-campeã Pan-americana na prova de Keirin 2014 (México) Campeã da Keirin no Irish International Track GP 2014 (Irlanda) Bronze por equipes nos Jogos Sulamericanos 2014 (Chile) Campeã Brasileira Elite Keirin 2013 (Maringá) Vice-campeã Brasileira Elite de Velocidade 2013 (Maringá)

“Meu primeiro contato com a bicicleta foi através do Triatlo, bem nova, aos nove anos de idade. Mais tarde fui migrando para o ciclismo e comecei a participar de competições, então, não parei mais.

© Divulgação CBC

Os motivos que a levaram ao ciclismo de pista

A partir dos meus 14 anos comecei a notar, ainda nas provas de estrada, que a minha característica era o Sprint, que eu não tinha muita resistência mas era rápida nas chegadas. Em 2011 corri meu primeiro Campeonato Brasileiro de Pista, ainda na categoria Junior, e me saí muito bem. Foi quando me mudei para Maringá e comecei a competir pelo Clube Maringaense de Ciclismo, equipe que defendo até hoje. Como Maringá possui um velódromo, facilitou bastante e comecei a me dedicar ao Ciclismo de Pista, especializando-me nas provas de velocidade.

© Divulgação CBC

As expectativas para Rio 2016

A expectativa da Seleção Brasileira está boa em relação aos Jogos Olímpicos do Rio. Estamos participando de frequentes intercâmbios de treinamento na Suíça (Centro Mundial de Ciclismo), o qual proporcionou uma grande evolução para os atletas, além de dar a oportunidade de participarmos de provas válidas para o ranking mundial. Dessa forma vamos marcando pontos. No Campeonato Pan-americano de Ciclismo que disputamos neste ano, por exemplo, tivemos ótimos resultados e a quebra de vários recordes brasileiros.

As dificuldades dos atletas desta modalidade no Brasil Eu acredito que a maior dificuldade dos atletas do ciclismo de pista é o local de treinamento. O Brasil é um país que tem poucos velódromos, e no momento nenhum coberto, o que faz com que não consigamos manter uma sequência de treinos devido ao tempo desfavorável em diversas épocas do ano. Como consequência do fato de ter poucos velódromos, são poucas as provas no calendário anual. Apesar disso, vejo que o Ciclismo de Estrada está evoluindo bastante e acredito que estamos no caminho certo. O projeto de intercâmbio no Centro Mundial de Ciclismo proporcionado pela Confederação Brasileira de Ciclismo e patrocinadores do ciclismo tem sido primordial para este desenvolvimento.


Provas olímpicas

O ciclismo de pista estreou já nos primeiros jogos olímpicos em Atenas, 1896, e só ficou ausente em Estocolmo, em 1912. Disputas femininas só passaram a integrar os jogos olímpicos a partir de Seul, em 1988. Nas Olimpíadas do Rio 2016 serão dez provas desta disciplina, sendo cinco para homens e cinco para mulheres. Conheça cada uma:

Keirin

Os atletas percorrem 2 km na pista. A prova inicia com velocidade controlada por uma bicicleta motorizada que não pode ser ultrapassada pelos competidores. Na prova masculina, a velocidade inicial controlada é de 30 km/h, aumentando até 50 km/h. A prova feminina inicia em 25 km/h e vai até 45 km/h.

Masculino Velocidade inicial: 30 km/h Velocidade máxima: 50 km/h

Feminino Velocidade inicial: 25 km/h Velocidade máxima: 45 km/h

Faltando cerca de 600 m a 700 m (duas voltas e meia em uma pista de 250 m) para o fim da prova, a bicicleta motorizada que controla o ritmo sai da pista e os atletas arrancam até a linha de chegada, alcançando até 70 km/h. O primeiro a cruzar a linha de chegada vence.

O atleta que ultrapassar a linha da roda traseira da bicicleta motorizada que dita o ritmo é desclassificado. A largada é dada com os seis atletas lado a lado. O keirin é uma das provas do ciclismo olímpico mais propensa a acidentes.


Omniun

Esta prova estreou nos jogos olímpicos de Londres 2012. A forma da disputa é semelhante ao pentatlo moderno, mas ao invés de agregar cinco modalidades, agrega seis provas diferentes para determinar os vencedores. Ganha quem conseguir o melhor resultado somando o desempenho em todas as provas. São elas:

Flyin Lap Os ciclistas têm duas voltas para ganhar aceleração e entrar na terceira e decisiva volta, a única cronometrada. Ganha quem fizer o melhor tempo.


Corrida de pontos

A cada 10 voltas, um sino soa indicando que aqueles que cruzarem aquela volta na frente ganharão.

Ao fim da prova, ganha aquele que somar mais pontos.

Há ainda um bônus de 20 pontos para o atleta que conseguir dar uma volta no pelotão.

Masculino: 30km

Feminino: 20km


Contrarrelógio

Cada ciclista vai para a pista sozinho para completar o percurso no menor tempo possível. A prova tem 1 km para os homens e 500 m para as mulheres.

Masculino: 1 km

Feminino: 500m


Scratch

A Scratch é a corrida tradicional. O pelotão larga junto na pista e ganha quem concluir o percurso primeiro.

Masculino: 16km

Feminino: 10km


Perseguição Individual

Nesta prova, dois atletas largam em lados opostos da pista, mas no mesmo sentido. Vence a prova quem alcançar o adversário ou fizer o melhor tempo.

Masculino: 4km

Feminino: 3km


Eliminação

O pelotão disputa Sprint eliminatórios. A cada duas voltas, quem cruzar a linha de chegada por último é eliminado da competição. Ganha quem ficar até o final.


Velocidade por equipes

A prova de velocidade por equipes conta com três ciclistas no masculino e dois no feminino. Cada ciclista deve completar uma volta na frente dos demais e abrir caminho para o próximo. A equipe que cruzar a linha de chegada em primeiro vence. Na final e em etapas eliminatórias, as equipes largam simultaneamente em lados opostos da pista.


Perseguição por equipe

A disputa é realizada por equipes de quatro ciclistas cada. A partir do momento que os oito melhores times são definidos, a disputa é sempre entre duas equipes. A largada é simultânea, em lados opostos da pista. Os atletas de cada equipe vão revezando a primeira posição, já que os atletas que vão atrás aproveitam o vácuo. Na disputa por medalhas, se uma equipe alcançar a outra, a prova termina.


Velocidade individual

A primeira parte da competição é classificar os 18 participantes. Para isso, todos dão uma volta rápida na pista sozinhos. Depois de classificados, começam as eliminatórias. A prova é sempre disputada entre dois atletas. Quem vence avança para a próxima fase. A partir das quartas de final, as disputas são em melhor de três baterias. Quem chegar na frente em duas delas se classifica.

Primeira fase: 18 participantes

Eliminatórias

Quartas de final: Melhor de 3 Baterias

Chegou na frente 2 vezes, classificou!


Velódromos no Brasil

© Divulgação CBC

A cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, foi incluída no projeto federal de levar o legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro para outras regiões e estados. Um velódromo está sendo construído na cidade, e a primeira etapa da obra – a pista – já foi concluída. A segunda fase do projeto prevê a construção do Centro de Formação de Atletas de Ciclismo, o que engloba arquibancada para cinco mil pessoas, bloco das equipes com boxes, banheiros, ambulatórios, sala de imprensa, administração, cozinha, despensa, refeitório e terraço. A obra iniciou em junho, com entrega prevista para 15 meses. O velódromo de Maringá – PR, inaugurado em junho de 2008, é o principal local de treinos da seleção brasileira no país, e é também sede das principais competições da modalidade. Até 2016, está em fase de licitação a construção de um velódromo em Pinhais – PR e haverá também o velódromo do Rio de Janeiro – RJ, sede dos Jogos Olímpicos. Betim – MG, Curitiba – PR, Caieiras – SP e Americana – SP também possuem velódromos.

© Divulgação CBC

Final sem medalhas

Nas Olimpíadas de Londres, em 1908, a prova de velocidade individual teve como finalistas o francês Maurice Schilles e os britânicos Benjamin Jones, Victor Johnson e Clarence Kingsbury. O percurso de 1 km deveria ser completado no tempo limite de 1 min 45 s. Johnson e Kingsbury não completaram a prova, pois suas bikes tiveram pneus furados. Os demais completaram, mas acima do tempo limite, e a disputa não teve medalhistas.

Ciclistas na Copa Mundial de Ciclismo de pista da UCI no Velódromo, Parque Olímpico de Londres. © Divulgação Olimpíadas de Londres

A conclusão…

O Ciclismo de Pista constitui uma diversidade muito interessante dentre as disciplinas ciclísticas esportivas, e nos jogos olímpicos rende um grande número de medalhas. Apesar da carência de infraestrutura para a prática deste esporte no Brasil, torcemos para que nosso país tenha representantes nas Olimpíadas do Rio 2016 e, mais do que isto, que o esporte ganhe cada vez mais adeptos que fomentem sua prática, contribuindo não apenas para a formação de atletas talentosos, mas especialmente para transformações sociais que só o esporte é capaz de realizar na vida de muitas crianças e jovens país afora.