Polêmica retomada

  • Não é de hoje que se ataca o ciclismo por causa dessa questão.
  • Afinal, andar de bicicleta faz mal à saúde sexual?
  • Como identificar, evitar e tratar problemas comuns associados à saúde sexual e ao ciclismo
  • Que tipo de ciclista e ciclismo é mais vulnerável?
  • Há realmente motivos para preocupação?
  • Esse assunto interessa também às mulheres?
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Disfunção erétil, dormência genital e muito mais explicado

Os inúmeros benefícios de pedalar você já deve conhecer, e muito bem.

Mas, o que dizer da velha polêmica sobre a questão da saúde sexual de quem pedala?

A galera do BIKERADAR fez uma super pesquisa sobre o assunto… vale a pena verificar

Sem rodeios, indo reto e direto, o estudo mostra que é um fato que muitos ciclistas sofrem de dormência genital, disfunção erétil e impotência. A saúde sexual tanto das mulheres como dos homens pode ser afetada, embora de formas ligeiramente diferentes.

Outro fato é que, apesar de sua prevalência, este continua sendo um tema estranho ou embaraçoso para muitos. Mas todos os ciclistas devem estar conscientes dos potenciais problemas que o ciclismo pode causar e de como evitá-los.

Esse artigo descreve os impactos comuns na saúde sexual causados ​​pelo ciclismo, com conselhos de especialistas sobre como identificar e tratar problemas.   

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Como o ciclismo pode afetar a saúde sexual das mulheres?

A polêmica e interesse na ligação entre o ciclismo e a saúde sexual das mulheres não é novo. Lá no início muitos estavam preocupados com o impacto que o ciclismo poderia ter na pureza sexual das mulheres devido ao estímulo da bicicleta e do selim – uma preocupação que, sem surpresa, nunca deu em nada. Apesar disso, o impacto do ciclismo na saúde sexual das mulheres ainda é um tema tabu para muitos. 

Domínio público

Dormência genital, esse é o principal problema entre as ciclistas. Que pode vir acompanhado de problemas relacionados, incluindo dificuldade em atingir o orgasmo, edema vulvar (inchaço dos tecidos moles externos à vagina) devido à drenagem prejudicada da área e dor genital. 

Esses problemas podem surgir devido a fatores exclusivos do ciclismo, que podem lesar os nervos que irrigam os tecidos genitais sensíveis. O nervo pudendo é importante para inervar (proporcionar sensação) aos órgãos genitais.  

Ao pedalar, o estiramento e a compressão deste nervo pode causar danos, assim como a compressão crónica dos órgãos genitais contra o selim. Da mesma forma, danos aos vasos linfáticos (os sistemas que drenam o líquido dos tecidos) podem causar inchaço. Os sintomas associados incluem dormência, dor, inchaço e dificuldade em atingir o orgasmo com redução da satisfação sexual. 

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Falando ao BikeRadar, uma triatleta e agora ávida ciclista de estrada (que desejou permanecer anônima) disse que sentiu dormência genital ao começar a andar de bicicleta: “A experiência me levou a acreditar que o ciclismo e a intimidade sexual eram incompatíveis”. 

Um estudo de 2019 realizado por pesquisadores de Stanford descobriu que a pressão do selim no períneo (a área entre o ânus e os órgãos genitais) pode prejudicar a excitação e a ereção do clitóris.  Ao entrevistar ciclistas , descobriram que 58 por cento dos entrevistados tinham experimentado dormência genital, com a frequência de episódios de dormência ligada à diminuição da excitação, diminuição da capacidade de orgasmo e menor satisfação sexual. 

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Resultados semelhantes foram observados em um estudo de 2021 com 875 mulheres , com 52% relatando disfunção sexual. Uma associação significativa entre disfunção sexual e dormência também foi observada. Estes estudos recentes não são os primeiros a demonstrar o possível impacto do ciclismo na função genital das mulheres. 

Uma pesquisa anterior da Universidade de Yale descobriu que as ciclistas tinham redução da sensação genital quando comparadas a um grupo de controle de corredoras. 

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 A escolha e a posição do selim são essenciais para evitar problemas – MXBIKES

O mesmo grupo descobriu mais tarde que usar o guidão mais baixo em relação à altura do selim poderia ser um fator de risco para dormência genital, com as ciclistas que usam posições mais “agressivas” na bicicleta e experimentam uma diminuição da sensação vaginal e labial. 

Infelizmente, como não é incomum na saúde das mulheres, existe uma lacuna de dados quando comparados com a saúde sexual dos homens e o ciclismo. 

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E os homens, como o ciclismo pode afetar a saúde sexual?

Pedalar também pode impactar negativamente a saúde sexual dos homens. A neuropatia pudenda – ou “síndrome do ciclista”- é um dos problemas mais comuns. 

Como nas mulheres, o nervo pudendo fornece a maior parte do movimento e da sensação da região pélvica, incluindo a genitália externa (pênis e escroto nos homens) e o ânus.

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As causas subjacentes também são semelhantes – compressão e isquemia (falta de oxigênio) durante o ciclismo podem causar danos ao nervo.  O fluxo sanguíneo peniano também pode ser reduzido ao andar de bicicleta na posição sentada, assim como a pressão sanguínea dentro do pênis. 

Um bom número de ciclistas não quer falar desse assunto, ou buscar ajuda, mas é importante reconhecer que qualquer um desses sintomas relacionados ao ciclismo não deve ser ignorado. Um ciclista disse que acreditava que era “normal” ter órgãos genitais dormentes depois de um longo dia na bicicleta e atribuiu isso a parte da experiência de andar de bicicleta. Outro ciclista disse que só procurou orientação médica para o problema depois de sofrer de disfunção erétil durante meses. 

Embora a discussão aberta sobre questões de saúde sexual possa ser limitada, a dormência peniana associada ao ciclismo é uma consulta comum na internet. Vários tópicos que discutem sintomas e conselhos sobre o que fazer a respeito podem ser facilmente encontrados. E as pesquisas confirmam que a dormência é uma complicação comum do ciclismo em homens e está bem documentada há muitos anos.  

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Postura e tempo de pedal

Outro aspecto importante é o tempo que o ciclista fica na bike, bem como o posicionamento em cima dela. Além disso, o tipo de ciclismo que você pratica pode aumentar o risco de complicações de saúde sexual. Um estudo de 1997 relatou sintomas de dormência genital em 22% dos participantes do sexo masculino em uma corrida de 540 km. Além do tempo longo de pedal, nesses casos – uma competição – o ciclista tende a ficar a maior parte do tempo na mesma posição. A dormência persistiu durante mais de uma semana num terço destes casos e a impotência esteve presente em cerca de dois terços dos que relataram sintomas. Foi observada uma ligação entre o tempo prolongado no selim – por exemplo, num audax – e a dormência genital.

Desde então, vários investigadores relataram descobertas semelhantes, com um estudo a revelar que 61% dos ciclistas do sexo masculino que pedalavam mais de 400 quilómetros por semana sofriam de dormência genital e 24% acusaram  disfunção erétil. 

O estudo sobre envelhecimento masculino de Massachusetts comprovou, como o tempo em cima do selim, faz realmente diferença. Foi feita uma associação entre participantes que pedalavam menos de três horas por semana e uma redução na disfunção erétil. No entanto, foi observado um risco aumentado de disfunção erétil em homens que pedalavam mais de três horas por semana. 

Então, parece que existe mesmo uma relação entre as horas passadas no selim e a probabilidade de sintomas, embora nenhum estudo até agora tenha analisado especificamente ciclistas profissionais (sejam mulheres ou homens), que provavelmente têm o maior volume de treino. 

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Tratamento e prevenção

A boa notícia é que podem ser tomadas medidas para minimizar o risco e ajudar na recuperação das pessoas afetadas. Dr. Benjamin Breyer, Professor e Distinguished Chair of Urology da Família Taube, da Universidade da Califórnia em São Francisco, é médico e pesquisador ativo na área. 

Das observações do Dr. Já se conclui que o primeiro passo é fazer um bom Bike Fit, uminvestimento que vale muito a pena. Uma altura incorreta do selim pode agravar os problemas de dormência.

Segundo o Dr. Breyer a melhor estratégia para prevenir problemas é compreender os riscos. “A coisa mais importante para alguém que está começando ou desenvolvendo um interesse sério [no ciclismo] é fazer com que um profissional faça o ajuste na bicicleta.

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Outra dica do Dr. Breyer: “eu usaria bermudas acolchoados de alta qualidade e sairia do selim regularmente (em pé de forma intermitente).

Dr. Breyer explica que a altura do guidão e o tipo de selim podem aumentar o risco de dormência: “Uma posição mais agressiva na bicicleta coloca mais pressão no períneo. Se você sentir que está ficando adormecido, é uma boa ideia experimentar selins diferentes.” 

E o que dizer dos Aero Bars pra melhorar o desempenho no pedal? Um estudo sugere que, se você quer evitar dormências, o uso dessas barras não é uma boa ideia. 

Então, parece que temos um ponto quase que unânime: a posição na bike é um fator a se levar em conta para evitar a tal dormência e seus efeitos colaterais.

Além disso, reduzir o tempo de pedal na mesma posição, pode ajudar na recuperação quando afetado. Os “micro descansos” durante a atividade – pedalar numa velocidade mais elevada fora do selim ou fazer pausas na bicicleta durante um pedal – também podem dar ao nervo a oportunidade de recuperar da compressão. Foi demonstrado que  ficar em pé mais de 20% do tempo enquanto andava de bicicleta reduz significativamente as chances de dormência genital.

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Observou-se que a compressão prolongada por mais de oito horas aumenta o risco de danos. Diferentes modalidades, ou disciplinas, apresentam diferentes níveis de risco. Qualquer tipo de pedalada que envolva tempo prolongado de selim em posições invariáveis ​​– como contra-relógio, triatlo de longa distância ou longas sessões em bicicleta estática – apresenta um risco maior de danos aos nervos.

Em muitos casos, os sintomas podem ser passageiros, mas se os sintomas persistirem apesar das medidas preventivas, deve-se procurar assistência médica. A dormência e o comprometimento da função sexual resultantes do ciclismo não são normais e os atletas gravemente afetados podem precisar de intervenção médica, ou fisioterapia, para resolver o problema. 

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Resultado final positivo

De maneira geral, o ciclismo tem um impacto positivo na sua saúde sexual, mas pode também apresentar alguns problemas, como os estudos citados acima parecem confirmar.

Grande parte da pesquisa citada sugere que esses problemas são bastante comuns.

Por outro lado,  um estudo em grande escala baseado em inquéritos concluiu que a função sexual dos ciclistas era geralmente melhor do que a da população em geral, devido aos grandes benefícios dessa atividade física, junto com a boa alimentação e boa atitude.

Dr Breyer resume: “Em sua essência, o ciclismo é uma atividade extremamente saudável. Afasta coisas que afetam a saúde sexual, como obesidade e diabetes.Embora longos períodos intensos no selim possam criar dormência, a conexão entre dormência e disfunção sexual é muito menos clara nos homens do que nas mulheres.”

Ele acrescentou: “Se eu fosse um atleta preocupado com meu bem-estar sexual, tentaria evitar a dormência, ajustando minha bicicleta adequadamente, usando o equipamento certo e tendo o melhor selim”.

Em suma:

  • Continue pedalando
  • Faça um Bike Fit
  • Tenha uma boa bermuda
  • Tenha um bom selim
  • Evite posição extrema prolongada
  • Saia do selim de vez em quando
  • Faça paradas durante o pedal
  • Esteja atento aos sinais de alerta
  • Pedale tranquilo e sem neura

E… bom pedal!

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Baseado no artigo de Alice Thompsom de site BIKERADAR