Superar o medo

O medo de cair ao andar de bicicleta pode ser extremamente incapacitante, criando até mesmos bloqueios na mente. Mas, alguns medos podem ser superados com trabalho, e o de cair de bicicleta é um deles.

O ciclismo é um esporte maravilhoso, mas tem um pequeno desafio: é feito numa máquina de duas rodas que se move num perfeito equilíbrio de forças. Quando este equilíbrio falha, podemos acabar no chão, na maioria dos casos sem mais danos do que o nosso orgulho e vários arranhões, mas noutros casos sofrendo alguns danos graves, como ossos quebrados.

Pensar nas consequências de cair no chão faz com que muitos ciclistas sintam uma tensão constante ao subir na bicicleta, o que não só esgota a força essencial para pedalar, mas também não lhes permite desfrutar plenamente da experiência. Algo que tende a ser mais comum quanto a pessoa começa a andar de bicicleta mais tarde na vida. Quem anda regularmente desde criança passou por aquele tempo em que não tem medo de nada e isso o ajudou a adquirir domínio técnico da bicicleta e experiência em quedas, o que geralmente significa que não têm esse medo, mas em vez disso, caia como parte do jogo de andar de bicicleta.

Porém, quem descobriu a bicicleta com idade mais avançada não teve essa formação técnica e não tem domínio da bicicleta. 

Obviamente, superar estes medos é necessário se quisermos desfrutar plenamente do ciclismo além de simplesmente pedalar, nem que seja para poder admirar o ambiente que nos rodeia em vez de nos preocuparmos constantemente em permanecer na nossa máquina, algo que deve ser muito cansativo.

Além disso, pedalar com medo muitas vezes se traduz em pedaladas menos seguras. Ou seja, se você fica pensando o tempo todo que vai cair, o que acaba acontecendo é que no final você acaba caindo, o que só retroalimenta esse medo. Um círculo vicioso que para alguns significa acabar abandonando a bicicleta.

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Dicas para não ter medo de cair de bicicleta

O problema é que o medo é um sentimento irracional em relação a algo que não podemos controlar, por isso não é tão simples como dizer a alguém: “não tenha medo”. Isso não funciona. Em vez disso, o primeiro passo deveria ser dar ao ciclista ferramentas para entender como a bicicleta se comporta em diferentes situações e como o que o ciclista faz afeta as reações da bicicleta.

Se o ciclista souber que se fizer tal coisa, a bicicleta se comportará de tal forma, ele passará a ter ferramentas para controlar o que está incontrolável em sua cabeça. Isso envolve realizar atos conscientes que muitas vezes são inatos. Por exemplo, saber que se virarmos o guidão para a esquerda, a bicicleta inclina-se para a direita e vice-versa; ou que se modificarmos a posição dianteira-traseira, variamos a distribuição dos pesos nas rodas e alteramos a tração e a capacidade de giro da bicicleta.

Claro, não é apenas teoria. Devemos colocar em prática estas explicações. Encontrar um parque ou uma praça com degraus ou uma grande superfície onde possamos colocar alguns cones para praticar o domínio da bicicleta será uma ajuda inestimável para ganhar confiança e começar a aplicar a teoria em um ambiente controlado onde é difícil se machucar se formos para o chão.

A partir daí, aos poucos, podemos aplicar o que aprendemos em percursos reais e veremos como aos poucos vem à tona aquela confiança que temos adquirido em nosso treinamento técnico. 

Em outras ocasiões, o medo não surge da ignorância, mas sim de termos sofrido uma queda com consequências severas, especialmente se sofremos uma fratura óssea que nos impediu de trabalhar por vários meses. É inevitável pensar que não podemos cair novamente ou que não queremos passar por isso novamente, o que diminui a nossa confiança.

É extremamente importante, após uma queda, fazer uma análise minuciosa para procurar a causa da queda. Pense no que fez de errado, se foi algo que podia ter evitado ou nas possibilidades de uma circunstância semelhante acontecer novamente.

Isso pode ajudar a não repetir o erro, já se cairmos e não conseguirmos explicar por que isso aconteceu, na nossa cabeça isso ficará incorporado entre aquelas coisas que não conseguimos controlar, o que acaba se traduzindo em medo.

Em qualquer caso, não podemos banir completamente o medo, pois, quando andamos de bicicleta, há sempre uma pequena percentagem de situações que não podemos controlar. Porém, esse pequeno ponto de respeito tem que nos ajudar a não ultrapassar os nossos limites e a poder entrar em zonas difíceis ou descidas com pelo menos 99% de controle.

Como você pode perceber, além das habilidades técnicas para andar de bicicleta, que precisam ser praticadas continuamente para ficarem fortes e internalizadas, para se tornarem recursos que saem por conta própria quando precisamos deles, a cabeça é a principal limitação quando se trata de superar o medo de cair. 

Converter o que parece incontrolável num ato consciente e saber como a bicicleta reage a cada uma das nossas ações será fundamental para alcançar a confiança necessária para dissipar esses medos. 

Além disso, se estivermos relaxados na bicicleta e não formos dominados pelo medo, é menos provável que nos machuquemos se cairmos no chão.

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