Conexão intermodal

Helena Coelho, ciclista, advogada e pesquisadora em Planejamento Urbano

Há alguns anos venho pesquisando sobre mobilidade urbana e o tema da conexão intermodal se tornou uma peça chave na minha vida, virando minha tese de doutorado.

Recentemente saí de São Paulo e desci para Santos pedalando. E vivi a experiência completa de conexão intermodal que trato na minha tese: usei metrô, ônibus e balsa! Vou contar um pouco mais em detalhes como foi essa experiência, vamos lá?

Peguei o metrô em Pinheiros e fui até a Estação de trem Grajaú, para quem não sabe, é permitido levar bicicleta no metrô em São Paulo aos sábados, domingos, feriados e dia de semana (de 10h às 16h e de e 21h em diante). O metrô e o trem possuem vagões destinados à bicicleta, sendo no metrô o vagão indicado com sinalização (desenho de uma bicicleta no chão e adesivo na porta) e no trem sempre no último vagão.

© Danilo Lessa

Da Estação Grajaú seguimos pedalando e pegamos duas balsas pelo caminho, a primeira em Bororé, a outra logo em seguida. As balsas são gratuitas, sendo permitido a entrada de pessoas, bicicletas e carros. Entramos de bicicleta como se estivéssemos a pé, sem nenhum entrave. Não existia espaço destinado às bicicletas, o que pode ser um indicador de que não há conflito no espaço com os demais usuários e os ciclistas.

© Danilo Lessa

Seguimos pedalando, conhecemos a belíssima estrada da Márcia Prado, sem dúvidas uma das rotas de cicloturismo mais bonitas do Brasil. Uma sensação indescritível de sair de São Paulo e entrar numa estrada de Mata Atlântica fechada, quase sem carros, com uma vista para o mar no fundo.

© Danilo Lessa

De bicicleta chegamos a Santos: na praia. Almoçamos e poderíamos ter passado o dia lá, consumindo nos quiosques, aproveitando a programação de verão. E essa poderia ser a programação de centenas de ciclistas todos os finais de semana, por que não?

© Danilo Lessa

Para finalizar o dia, logo depois do almoço fomos pedalando para a Rodoviária de Santos e pegar ônibus para São Paulo. Na rodoviária fomos muito bem recebidos pela cia Expresso Luxo, onde a atendente nos prometeu que teríamos um bagageiro só para as bicicletas e, para nossa surpresa, nas passagens constavam nosso nome e “bicicleta” ao lado (Helena Coelho Bike, por exemplo). Esse comportamento demonstra, muito mais que uma empresa amiga do ciclista, a percepção no desenvolvimento do cicloturismo como gerador de renda.

© Danilo Lessa

Por fim, descemos do ônibus na Estação de metrô Jabaquara. Sem barreiras, já saímos do ônibus e descemos as escadas para o metrô. Um ótimo exemplo de conexão física entre ônibus e metrô (além de bicicleta, claro!). De lá fui até a estação mais próxima de casa e terminei pedalando.

A mensagem é clara: não precisamos buscar rotas de cicloturismo em outros países ou em locais distantes, isso pode ser vivido nos arredores das nossas próprias cidades. Para que isso seja possível, é imprescindível haver investimento em infraestrutura cicloviária que conecte as malhas com os demais meios de transporte e que estes meios permitam, sem entraves, o ingresso de ciclistas com suas bicicletas.

© Danilo Lessa
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