Uma das coisas mais incríveis da vida é conhecer um ídolo. Em se tratando de ciclismo, quem não gostaria de conhecer o Eddy Merckx? Se não fosse pela Biene, nunca o teria conhecido.

Já trabalhava direto com meu pai há algum tempo. O ir e vir de ciclistas, subindo e descendo as escadas lá no Bom Retiro era constante. Em 1990 tinha começado no Brasil o mountain bike, e as speeds ficaram lá, meio perdidas. Mesmo assim, ainda existiam corridas, equipes e tudo o mais, mesmo não sendo mais como era antes.

A gente levava uma rotina diferente, não tinha internet, celular, fax nem nada. Computador? Era coisa de filme de ficção científica. As coisas levavam anos para chegar ao Brasil.

Certo dia o telefone tocou, eu atendi. Era o Wanderley Magalhães.

– Oi Cícero, o Seu Nadir está por aí?

– Putz, Wanderley, ele está lá na produção, posso ajudar?

– Então, Cícero, estou levando o Eddy Merckx para o Brasil, e a gente teve a ideia de fazer uma camisa para usarmos no lançamento da Caloi Eddy Merckx. Seria uma para mim, outra para o meu irmão Tonny e uma para o Eddy Merckx.

Nisso meu pai entra no escritório. “Que foi?”

– É o Wanderley, ele quer que o senhor faça uma roupa pro Eddy Merckx.

Meu pai deu uma baita gargalhada e pegou o telefone, achou que fosse brincadeira do Wanderley. Era comum o Gilson Alvaristo e outros ciclistas de ponta no Brasil fazerem algum tipo de brincadeira e vice e versa. Mesmo assim ele pegou o telefone e disparou, seriamente:

– Oi Wanderley, o que você manda?

– Olha, Seu Nadir, estou levando o Eddy Merckx para o Brasil para lançar a Caloi Eddy Merckx na 9 de Julho. A gente precisa de 3 camisas. Dá para fazer? Mas precisa ficar pronta amanhã, a Caloi passa e pega.”

– Wanderley, quais são as medidas do Eddy Merckx?

Posto isso, o Wanderley passou as medidas do Eddy, e mais que depressa meu pai disse o que eu tinha de criar, porque a gente iria vestir mesmo uma lenda. As 3 peças, mais que exclusivas, ficaram prontas no dia seguinte. Fomos conhecer o Eddy Merckx. Havia reparado que um senhorzinho, bem idoso mesmo, estava rasgando o maior italiano com o Eddy Merckx, que lhe sorria e conversava, autografando as revistas carcomidas pelo tempo, provavelmente trazidas da Itália, há muito, muito tempo.

Da esquerda para a direita: Sr. Bruno Caloi, Tonny Magalhães, Wanderley Magalhães e Eddy Merckx.

Banquei o intérprete entre o Eddy Merckx e meu pai, que arranhava um inglês. Mesmo com meu inglesinho ali, de escola pública, conduzi a conversa e, percebi que um cara como o Eddy Merckx possuía uma generosidade e humildade típica dos grandes homens. Seguro do seu brilho, não temia jamais que alguém o ofuscasse, afinal estamos falando do cara que ganhou mais Tour de France e Giro D’Italia no mesmo ano. Mais que isso, é uma lenda viva do esporte. Hoje existe gente que precisa de E.P.O para tentar superar o cara. Eddy Merckx, meus amigos, é o cara. Acredite, eu estava lá.

– Tell your father that I am very surprised to know exists someone like him. I never heard in Brazil was a brand who does it.

– Really, sir? You are very polite to flattering us like this. We are very small, very insignificant tiny little company, nothing to compares to companies like Santini or Castelli.

– Yes, Cícero, but I only seen something like this in Europe. Congratulations to your father. Tell you father that I’m admires him.

Lógico que detalhes assim fogem ao tempo, afinal isso foi há 26 anos. E, uma coisa tão marcante não se apaga com facilidade. Fico imaginando se o Eddy Merckx levou essa camisa para a Bélgica e está lá, guardada num lugar esquecido, de uma vez que ele veio até o Brasil. Se marcar, ele duvidou que existisse gente que o conhece no país do futebol. Gostaria de falar com ele novamente, pedir um testemunho para um documentário que quero fazer sobre meu pai. Quem sabe ele lembra. Não custa tentar, não!?

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