É desejo sincero que a primeira parte de nossa matéria tenha contribuído para iniciar, não uma discussão, mas tratar de novos rumos de maneira democrática e esclarecedora a respeito dessa lúdica página do colecionismo de bicicletas, prática crescente em nossos dias. Os apontamentos da matéria anterior estão embasados em falas, experiências e práticas de colecionadores que visitaram e visitam o MuBi e a nossa página na internet, onde trocamos muitas opiniões que através deste trabalho dividimos com nossos amigos leitores da revista.

Assim, ao contrário da reforma, a restauração envolve paciência e muito cuidado na decisão quanto ao “o que fazer” e “como fazer”, pois envolve uma boa dose de conhecimento, além do domínio da mecânica da bicicleta. O passo seguinte envolve uma pesquisa sobre o modelo – infelizmente neste caso pouca coisa ou nada se consegue com as fábricas nacionais, pelo simples fato de não disporem de material sobre seus antigos lançamentos, o que não deixa de ser um fato complicador. Com as informações em mãos, pode-se iniciar os trabalhos mediante a utilização de ferramentas adequadas em espaço exclusivo para essa finalidade. Vale lembrar que essa é uma decisão pessoal e difícil na primeira vez e que será muito prazerosa nas seguintes. No caso da Caloi 12, por exemplo, o maior complicador foi a quantidade de reboco forte (quantidade de cimento acrescido à massa), que provocou forte oxidação e manchas na pintura metalizada por onde caiu, conforme mostrado através de fotos na primeira parte de nossa matéria.

Em casos semelhantes, a primeira coisa a ser feita é a desmontagem da bicicleta empregando as ferramentas adequadas. Depois, a remoção cuidadosa desse material utilizando uma espátula de material não cortante, preferencialmente, uma dessas espátulas em plástico rígido utilizadas em culinária (há de vários tamanhos e basta escolher a mais indicada para o serviço). Com um pincel limpo, remover todo o resíduo e finalizar com jatos de ar direcionados que concluirão esse processo. Para a etapa seguinte que vai requerer muito cuidado e atenção, será utilizada uma ou mais lixas d´água de granulação 1.000, para o lixamento a seco das partes atacadas pela ferrugem, sem a remoção dos grafismos, decais, e marcas do quadro e demais partes (laterais do garfo e na traseira da bicicleta), que devem ser protegidos para que não ocorra sua perda ou destruição. Insisto: muito cuidado e atenção nessa fase do trabalho, concluído com mais jatos de ar direcionados. Como estamos acostumados a ouvir por aí, “há casos e casos”, portanto, estamos falando de uma bicicleta que estava numa casa em reforma e que ficou “banhada” de cimento e argamassa.

Seguindo, será preciso neutralizar o processo de corrosão. Para tanto, basta escolher um dos muitos produtos que existem no mercado, os anticorrosivos/fosfatizantes uma vez que varia muito a qualidade e preço do produto. Na dúvida, converse com o vendedor e escolha o melhor. Afinal, a “magrela” merece. O segredo dessa aplicação é não utilizar o pincel. Com luvas de borracha para proteger as mãos, pegue um pano que não solte fiapos. Umedeça levemente no produto e aplique com cuidado e sem excesso, evitando a fosfatização que prejudicará o trabalho. Lembre-se, aqui o objetivo é estancar a corrosão. Após os trabalhos no quadro, garfo e paralamas (se houver), você notará que toda a pintura ficará sem brilho. Deixe secar durante 24 horas. Finalize com uma leve aplicação de verniz automotivo (pintura a ar ou spray), e deixe secar por mais 24 horas. Aos que farão esse processo pela primeira vez, proponho pegarem uma bicicleta comum e avaliar o resultado, pois requer o domínio de certas técnicas no manuseio de uma pistola de pintura e mecânica.

Quanto às partes cromadas o bom senso deve prevalecer, caso contrário, haverá uma distonia entre o brilho do cromado novo e uma pintura original restaurada. Quanto às demais peças da magrela (câmbios, cubos, aros, freios, cabos, conduítes etc), devem receber uma limpeza profunda, e a remoção de todos os restos possíveis para uma boa remontagem e lubrificação indicada (caso a caso). Não esquecer que a recentragem dos aros e todos os ajustes finos são obrigatórios.

JATEAR E IMPLANTAR O NOVO (NOVA PINTURA, NOVAS DECAIS, NOVO CROMADO, RAIOS INOX, DENTRE OUTROS), NÃO É RESTAURAR.

Segundo as pessoas com as quais conversamos, colecionadores ou não, o objetivo de uma restauração é o desejo de trazer de volta as características originais de uma peça, qualquer peça, inclusive uma bicicleta. Jatear e implantar o novo (nova pintura, novas decais, novo cromado, raios inox, dentre outros), não é restaurar. Portanto, se ao final do seu trabalho, sem importar o tempo despendido, você trouxe de volta detalhes escondidos pela sujeira, ferrugem e graxa em sua bicicleta, parabéns! Você restaurou sua bicicleta. Mais ainda, se você gostou do que fez: seja bem-vindo ao universo da restauração de bicicletas.