Devolva nossas bicicletas!
O grande roubo de bicicletas nazista.

Em 21 de junho de 1988, Holanda e Alemanha Ocidental duelaram pelas semifinais do Campeonato Europeu de Futebol em Hmaburgo. Em um momento do jogo, a torcida holandesa grita da arquibancada: ‘Devolvam nossas bicicletas!’

Todo mundo ficou surpreso, e a explicação remonta a um episódio da Segunda Guerra Mundial.

©historiablog.org.  –  Membros de tropa ciclística alemã em desfile durante o 50º aniversário de Adolf Hitler (20 de abril de 1939)

Em 1940, a Alemanha nazista invadiu a Holanda após uma batalha de uma semana. O governo holandês se rendeu após o bombardeio e a destruição total de Roterdã, dando início a uma ocupação que duraria cinco anos, até o fim da guerra.

Com uma produção anual de bicicletas que, em 1940, girava em torno de 471 unidades, a Holanda chamou a atenção dos nazistas. O novo governo holandês, que colaborava com os nazistas, pediu aos proprietários de bicicletas que as levassem às estações de trem para entregá-las às forças armadas alemãs, sob pena de punição severa para quem não obedecesse. A operação foi vendida como empréstimo às forças invasoras, mas as bicicletas nunca foram devolvidas aos seus proprietários.

Embora não tenham desempenhado um papel tão decisivo como na Primeira Guerra Mundial, em parte por causa da introdução massiva das motos, as bicicletas eram usados ​​na retaguarda, principalmente na espionagem ou no trabalho do correio, e também na frente, principalmente por causa da falta de combustível durante os últimos anos da guerra, bem como no transporte de armas e munições. O NSU Wehr Sport alemão ou o BSA britânico tornaram-se comuns: as unidades de paraquedistas eram lançadas ao vazio com modelos dobráveis ​​e, as bicicletas apreendidas na Holanda foram de grande ajuda para as tropas de Hitler. Não surpreendentemente, naquela época (especificamente em 1942), o slogan de guerra “Raeder muessen rollenaging for den Sieg” tornou-se famoso na Alemanha (“As rodas devem girar para a vitória”).

Confiscar milhares de bicicletas trouxe consequências para a vida de civis holandeses, que já estavam sendo punidos por bombardeiros sangrentos e outros eventos militares. Para muitas famílias, a bicicleta era seu único meio de transporte: uma parte fundamental de sua economia e seu principal meio de subsistência.

Em 5 de setembro de 1944 aconteceu a chamada Crazy Tuesday: a BBC anunciou que as forças aliadas haviam cruzado a fronteira holandesa, causando um pânico geral entre os alemães e colaboradores locais, que apreenderam todos os veículos que encontraram em seu caminho para fugir. Depois de alguns dias, a maioria voltou e, no inverno seguinte, os cidadãos enfrentaram o notório Hongerwinter, a fome holandesa, que matou pelo menos 20.000 pessoas.

A passagem do tempo e o número infinito de atrocidades nazistas enterraram o roubo de bicicletas, até transformá-lo, ao longo dos anos, em algo pouco divulgado para os próprios holandeses. Quando em 1965 foi anunciado que a princesa da Holanda ia se casar com um alemão, Claus von Amsberg, muitos de seus súditos foram às ruas com faixas dizendo “Eerst mijn fiets terug”, ou seja, “primeiro queremos nossas bicicletas de volta”.

E, como você leu no início da matéria, a afronta militar foi vingada pelos holandeses: liderados por estrelas como Van Basten, Gullit e Koeman, os holandeses venceram a semifinal contra a Alemanha por 2 a 1, e acabaram levando o título após vencer, na final, outro grande protagonista da Segunda Guerra Mundial: a URSS.