Overlooked. Esse é o título de uma coluna especial, lançada em 2018 pelo The New York Times. Nela, são adicionadas biografias de pessoas que fizeram história, mas que nunca receberam obituários no jornal. Entre elas, está Major Taylor (1878-1932), um ciclista negro que teve uma carreira meteórica, e se tornou um dos ciclistas mais rápidos do mundo, apesar do racismo pesado que enfrentou, mas que acabou morrendo sozinho e esquecido.

© Arquivo histórico e Divulgação

Taylor nasceu em 26 de novembro de 1878, um dos oito filhos de Gilbert e Saphronia Taylor, em Indianápolis. Eles eram pobres, e seu pai trabalhava como cocheiro para uma família rica. Taylor ajudava o pai de vez em quando e se tornou amigo dos patrões dele. Com o tempo, ele acabou se mudando para a casa da família, o que lhe deu chances de ter uma vida mais estável e de poder estudar melhor. Da família rica, Taylor ganhou uma bicicleta, e assim, ainda garoto, começou a praticar as pedaladas. Na verdade, seu nome mesmo era Marshall Walter Taylor. O apelido ‘Major’ (marechal em inglês) veio assim: depois de um tempo, Taylor voltou a morar com a sua família biológica, e começou a trabalhar fora. Suas piruetas de bicicleta chamaram a atenção de um dono de loja de bicicletas, que o contratou para fazer truques de bicicleta vestindo um uniforme militar em frente ao estabelecimento para atrair clientes. Ele acabou usando o apelido pelo resto da sua vida.

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A primeira corrida de Taylor aconteceu, acidentalmente, quando ele tinha 13 anos. Seu patrão o colocou na corrida sem ele saber. Empurrado até a linha de chegada, Taylor se inspirou com a multidão, correu e venceu. Foram 16 quilômetros vencidos facilmente.

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Aos 18 e morando em Worcester, Massachusetts, começou a correr profissionalmente. Se tornou um dos ciclistas mais famosos do mundo. Em 1898, já havia conquistado sete recordes mundiais. No ano seguinte, sagrou-se campeão nacional e internacional, tornando-se o segundo atleta campeão mundial negro, depois do boxeador canadense George Dixon. Venceu corridas por todo o mundo. Major Taylor, na época, era um nome muito conhecido.

“A vida é curta demais para um homem ter amargura em seu coração”, escreveu Taylor

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Um detalhe curioso: batista fervoroso, Major Taylor não corria nos domingos. O problema era que na Europa muitas corridas aconteciam nos domingos. A fama de Taylor era tão grande e os organizadores europeus queriam tanto ele em seus eventos, que acabaram mudando as corridas para dias de semana. E Taylor acabou vencendo todos os campeões europeus da época.

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Apesar da fama, o racismo sempre atrapalhou a carreira de Taylor. Ele foi barrado em algumas corridas, e sofreu com os competidores brancos em outras. Sofreu sabotagem mais de uma vez. Jogavam água gelada nele, e colocavam obstáculos na pista. Certa vez, em um evento em Boston, um ciclista empurrou Taylor de sua bicicleta, o jogou no chão e o sufocou. A polícia precisou intervir e Taylor ficou alguns minutos inconsciente. Em outra ocasião, ele chegou a ser banido de uma pista em sua cidade natal, porque havia derrotado ciclistas brancos, além de ter quebrado dois recordes mundiais no processo. Mas Taylor era perseverante e professava não ter animosidade. “A vida é curta demais para um homem ter amargura em seu coração”, escreveu Taylor, em sua autobiografia.

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Com o passar dos anos, é claro que novos competidores, mais jovens que Taylor, surgiram, e ele decidiu se aposentar em 1910, aos 32 anos.

“Taylor foi o segundo atleta negro a se tornar campeão mundial”

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Taylor fez fortuna durante a sua carreira, se tornando um dos atletas mais ricos do seu tempo. Mas a vida pós-corrida não foi fácil como ele imaginava. Na tentativa de continuar capitalizando seu sucesso, fez investimentos ruins, acabou perdendo muito dinheiro e ficando sozinho. Em 1928, Taylor escreveu e publicou sua autobiografia “The Fastest Bicycle Rider In The World”. Mas o livro vendeu mal. Nessa época, a febre da bicicleta havia acabado e as pessoas já estavam hipnotizadas pelo automóvel. Ninguém mais queria ler histórias de um campeão de ciclismo. Sua saúde também piorava, e Taylor morreu em 21 de junho de 1932, aos 53 anos, em um hospital de Chicago. Sem ninguém para procurar por seu corpo, foi enterrado como indigente no Mount Glenwood Cemetery. Dezesseis anos depois, um grupo de ex-pilotos, com a ajuda de Frank Schwinn, da Schwinn Bicycle Company, transferiu seus restos mortais para um local mais proeminente do cemitério.

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Na década de 80, Major Taylor foi introduzido no Hall da Fama dos Estados Unidos, e em Indianápolis foi construído o Major Taylor Velodrome. Mas, infelizmente, o “Ciclone Negro”, como foi chamado quando pedalava, não chegou a ver nada disso acontecendo. “Imaginar o que ele passou na década de 1890 é inimaginável”, disse Edwin Moses, medalhista olímpico de ouro em pista e presidente honorário da Major Taylor Association. “Eu não poderia imaginar competir e ser um vencedor com o que ele passou’’. Randal C. Archibold, escritor da matéria do The New York Times que homenageia Major Taylor escreveu que “ele viveu uma vida de triunfo e tragédia aparentemente feita para Hollywood, mas no final de sua vida mal conseguia vender cópias de seu livro”.

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Na última edição do Super Bowl, em fevereiro de 2019, Taylor foi o foco de um anúncio da fabricante de bebidas Hennessy. O vídeo de 30 segundos mostra o piloto correndo em várias cenas, e ao fundo um narrador lembrava os espectadores de que Major Taylor era um dos melhores atletas do planeta em 1901.   

“Um atleta honesto, corajoso e temente a Deus, cavalheiro de vida limpa”

Vídeo Hennessy

Vídeo The Six Day Race: The Story of Marshall “Major” Taylor:

Em seu túmulo, existe a inscrição: “Ciclista campeão do mundo que veio pelo caminho difícil sem ódio em seu coração, um atleta honesto, corajoso e temente a Deus, cavalheiro de vida limpa. Um crédito para sua raça que sempre deu o melhor de si. Passado, mas não esquecido”.