Ficha Técnica:

Caloi Sprint 10, ano 1975, aro 27, quadro masculino, equipada com câmbio traseiro Suntour Honor e dianteiro Suntour Spirt, engrenagens frontais com 52 X 40 dentes, e pinhões com 14, 17, 20, 24 e 28 dentes. Alavancas de acionamento dos câmbios Shimano, freios tipo “Center-pull” e pedais esportivos Ducor. Acessórios: farol/dínamo, campainha e bolsa porta-documentos.

  • Origem: Brasil.
  • Condição: original/reformada.
  • Acervo: MuBi.

Talvez o maior patrimônio do Museu da Bicicleta (MuBi) não seja o acervo constituído por bens materiais, porém, as histórias que permeiam cada peça. Pode ser um simples par de manoplas de guidão, a melhor e a mais rara de nossas bicicletas, qualquer coisa.

Portanto, não é o quanto, mas o como e o porquê, valores que extrapolam a monetarização de qualquer coisa. Essa Caloi 10 segue esse roteiro.

© Valter F. Bustos

O aparecimento da “10” no mercado nacional foi um marco e sacudiu a poeira da criatividade mórbida, acostumada com a mesmice de um mercado cativo ao apresentar um novo conceito de bicicleta, aliada ao forte apelo da prática do esporte, lazer, qualidade de vida e um produto diferenciado.

O ícone do consumo trouxe embutido um sentimento de frustração, numa época de inflação alta e que afastava potenciais compradores devido ao baixo poder de aquisição dessa população interessada na bicicleta. Isso foi corrigido tempos depois, com o lançamento da Caloi Sprint 10, uma bicicleta mais popular e com o mesmo atrativo, apesar de uma enorme diferenciação em seus componentes e acabamento.

© Valter F. Bustos

O senhor Gilberto, um conhecido de Barra Velha-SC, viveu essa época e foi com muito esforço, trabalho e economia que adquiriu sua Sprint 10. “Foi um sonho realizado. Eu trabalhava, passeava, e viajava com ela para todo lugar. Fiz várias reformas nela, sempre procurando melhorar um pouquinho e deixar ela mais bonita”, disse ele.

Durante nossa conversa o senhor Gilberto contou que muitas peças foram substituídas devido ao desgaste. Segundo ele, a bicicleta foi comprada em 1975. Como ele pedalava muito, inclusive pela BR – 101, não duplicada, portanto, pista única com acostamento bem apertadinho, pensando na sua segurança, a bike sempre teve espelho lateral, campainha e todos os refletores. A última “mexida” faz uns cinco anos, quando foi acrescentada a bolsa porta-documento, além do selim amarelo para combinar com a magrela. Perguntei a razão do amarelão e a resposta veio rápida: “É minha cor preferida”.

© Valter F. Bustos

Imagino que os leitores de Raridades devem estar imaginando qual seria o motivo do senhor Gilberto se desfazer da bicicleta? Na realidade foram dois. O seu genro quase destruiu a bicicleta devido a uma bobeira, e, o segundo (mais triste), devido a sua idade avançada. Pesou a meu favor a certeza de que a velha companheira estaria bem cuidada, uma vez que já nos conhecemos há bastante tempo.

“Mas eu não vou dar a bicicleta a você, Valter, eu vendo”. “

Sem problema senhor Gilberto, quanto?”

“Quero cinquenta reais nela”.

“Negócio, fechado!”

Ao senhor Gilberto, um forte e fraterno abraço, onde ele estiver.