Quando se ouve aquela célebre frase “crianças são todas iguais”, não há qualquer demérito ou desdém contra os pimpolhos. Na verdade, elas gosta

m de coisas boas, legais e que, preferencialmente, provoquem alguma emoção no seu dia a dia. Por essa razão, as bicicletas são e foram o nosso primeiro veículo, portanto, inesquecíveis.

© Valter F. Bustos

Nós queríamos a nossa e fazíamos qualquer coisa para ganhar uma rapidinho, inclusive, o “milagre” de estudar. À véspera do Natal ou no Dia das Crianças, era uma tortura, porque as horas não passavam. Nossos pais sabiam valorizar a coisa toda e não tinha jeito. Cama, e só no dia seguinte. Era tomar o café da manhã e correr para a rua, encontrar os amigos e partir para nossa primeira aventura sobre os pedais voadores. Depois da famosa “pauleira” era o momento da parada, e contar vantagens (sempre umas maiores do que as outras), e admirar nossas bicicletas.

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Nesse momento, nós nos dávamos conta de que no meio das bikes havia uma que era diferente. Era uma Fórmula C, bicicleta com um quadro e pneus diferentes, tanto no tamanho como na largura. Para o conjunto ficar ainda mais bonito, faixas vermelhas nos dois lados dos pneus. Entre o selim e o guidão em “v”, quase no meio do quadro, tinha uma alavanca. Mas o que seria aquilo? Alavanca para o acionamento de um câmbio com três velocidades embutidas no cubo, um Shimano GT-3, uma derivação do SS-3 que equipava outras bicicletas da Caloi.

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O câmbio GT-3 foi uma cópia do excelente e confiável Sturmey Archer inglês, e que chegou ao Brasil através das bicicletas inglesas do pós-guerra, principalmente as Humber, Raleigh e Rudge. Infelizmente, esse câmbio GT-3 tinha um problema com o desgaste prematuro de suas engrenagens internas. Com o tempo, uma pequena folga era sentida durante as pedaladas, chegando, nos casos mais sérios, a quase uma volta, e nos casos mais graves, a escapar uma ou mais marchas, quando era o momento de ser substituído. 

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Hoje, a história é outra e a empresa é uma referência mundial. A linha Nexus, sem dúvida, é uma evolução do velho SS-3, porém, de qualidade inquestionável. Sempre foi uma prática comum da Caloi, até pelo interesse em atingir todo o mercado, lançar o mesmo modelo de bicicleta com e sem marcha. Assim foi com a Ceci, Peri, Poti e Barra Forte. Com a Fórmula C não podia ser diferente e o modelo era colocado no mercado com as duas opções.

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Outra diferença entre as bicicletas era o tipo de freio. A Fórmula C era equipada com freios tipo side-pull, e a C-3 com um jogo de freios um pouco mais eficiente que era o center-pull, ambos com acionamento através de cabo. Outra característica marcante da linha C era os pneus com faixa vermelha. O dianteiro na medida 20 X 1.75, e o traseiro 20 X 2.125 (super balão).

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Outro detalhe da bicicleta que tornou essa bike o desejo de consumo da geração teen em formação era o selim tipo banana com suas longas pernas cromadas, emprestando um ar mais agressivo ao modelo, pensado e criado para concorrer com a Monark Tigrão, outro ícone que encantou pelo menos duas gerações.

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Não tem como negar que a Fórmula C foi um marco na linha de produtos da empresa, que raramente ousava em criar modelos arrojados e de impacto para atender um mercado sempre desejoso de coisas novas. O monopólio do mercado lhes dava a tranquilidade de produzir o que desejassem e no momento considerado mais oportuno. Naquela época, a bicicleta era considerada brinquedo de criança e meio de locomoção das classes menos favorecidas. Para nossa sorte e alegria, isso faz parte de um passado nem tão remoto assim, mas é passado e isso basta.

Ficha Técnica

Bicicleta Caloi modelo Fórmula C, aro 20, ano 1979, montada com pneus 20 X 1.75 na dianteira, e 20 X 2.125 na traseira (faixa vermelha/especial tração). Equipada com freios side-pull de ação sobre cabos.
Origem: Brasil
Condição: Original/Conservada
Acervo: MuBi