Como tudo começou

Marcella cresceu numa época de poder brincar além do portão de casa; correr, nadar e pedalar eram as atividades das horas vagas, ainda sem nenhuma pretensão esportiva, mas com olhares atentos da família.
Em São Paulo, devidamente matriculada em um clube, inscreveu-se simplesmente em todas as modalidades que podia, e a natação foi o esporte que competiu até os 12 anos, quando sentiu necessidade de mudanças. 

Encontrou aos 17 anos sua nova turma na corrida de aventura, fazendo as provas em equipe e já encaixando algumas etapas de mountain bike nas folgas disponíveis.

Dentro das provas de aventura, que exigem um esforço no limite físico, Marcella foi moldada desde cedo para alta performance por sua mentora Cris Carvalho, que incentivou o desempenho e rendimento, despertou o espírito competitivo de buscar sempre o máximo e principalmente a trabalhou para o mindset de crescimento.

Outros caminhos

Entre as atividades esportivas e a vida acadêmica, formou-se em administração de empresas, encarou uma carreira corporativa de sucesso, foi convidada a trabalhar e morar em Londres por um bom tempo, e os treinos passaram para um segundo plano. O cinza da cidade começou a tomar conta do espírito de Marcella, que já não se sentia feliz e não enxergava sentido nenhum em continuar.

Marcella precisou tomar a difícil decisão de mudar: largar tudo ou manter-se no que muitos classificam de vida de sucesso e estável. Optou por voltar para o Brasil, trabalhou em uma ou outra empresa, treinou, e na primeira prova que fez de ciclismo subiu ao pódio, levou pra casa o troféu e a certeza de um caminho a seguir.

As Lulus

O ciclismo hoje vem crescendo, seja através da mobilidade ou pelo esporte. Outro grande movimento, ainda pequeno ao número total dos homens, mas com crescimento imenso, é o das mulheres buscando seu espaço, deixando seus receios, ficando muito mais confiantes e ganhando força e volume.

Dentro desse cenário, Gisele Gasparotto convidou Mati para fazer parte de um clube de ciclismo exclusivamente feminino, a Lulu 5 (Lulu Five), e juntas passaram a acompanhar os treinos de mulheres, seja para as que estão começando ou para as que querem subir no pódio.

O objetivo principal vai um pouco além dos resultados. Marcella explica: “nosso papel principal é tocar a vida de outras mulheres através do esporte.”

O crescimento na autoestima, a confiança, a sensação de poder, o ser feliz, são as bases dos clubes de ciclismo feminino que aparecem por todo o Brasil.

E elas querem ir mais longe. As meninas inauguraram recentemente um treino na USP, para acolher todos os grupos e mulheres que queiram sentir o poder que o esporte, a bicicleta ou a união traz.

A equipe Cylance

Marcella foi convidada para correr por três meses na Europa, e o ciclismo passou para outra fase: vivenciando o dia a dia e buscado entender as diferenças entre os mundos, Mati colocava os dois pés no profissional, onde cada detalhe é cuidadosamente estudado.

Passou a se conhecer melhor, seu mapa metabólico apontava onde estavam as deficiências a serem trabalhadas. As inovações em treinamento e a convivência com as melhores do mundo fazem toda a diferença nesse processo evolutivo.

Nessa temporada de volta ao Brasil, foi buscar algum lugar onde pudesse desenvolver as capacidades adquiridas nos treinos feito fora do país, e encontrou na Power Cycle um excelente centro de treinamento indoor. Tudo que a alta performance exige se encontra lá, desde as watt bikes que foram desenvolvidas pelos ingleses para as Olimpíadas, exercícios respiratórios, aulas funcionais e uma equipe de médicos de alto nível que fazem a leitura minuciosa do seu mapa metabólico e ajustam sua máquina para o melhor rendimento.

“Temos que nos entregar de corpo e alma, independente do que aconteça, ganhar ou não, ambos tem pontos positivos e mensagens lindas, apresentam lições, devemos aproveitar toda a beleza que elas tem, o lado daquele resultado que não era o que queríamos é tão bonito quanto, precisamos conseguir absorver a plenitude de toda  experiência que vivemos”, comenta Marcella sobre o que aprendeu com o esporte.

© Ricardo Gaspar
© Ricardo Gaspar

O que eu vi da Marcella

Mati ou Marcella, é além de uma excelente atleta, humana, acessível, carrega no braço uma oração, que é objeto de sustentação em vários momentos que o limite já havia ficado para trás, tem consciência do seu papel, está abrindo a porta para que novas gerações encontrem uma estrutura e um caminho muito melhor, seja como atletas ou como mulheres.

Apesar dos resultados expressivos, coloca tudo na conta do treinamento e não esquece os nomes que acompanharam essa jornada, fala sempre no coletivo, não tem a vaidade obsessiva dos atletas, o que faz termos uma empatia sincera pela talentosa ciclista, e gostarmos mais ainda da menina que pedala pelas estradas da Europa com o mesmo brilho nos olhos com que nadava no rio da fazenda do avô lá em Sapucaí.