O fatídico dia 5 de junho de 1989 na China

A fotografia ‘Casal escondido debaixo da ponte’ foi tirada por Liu Heung Shing em 5 de junho de 1989, durante o dia fatídico conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial. 

Na primavera de 1989, muita coisa aconteceu na China. Entre 4 e 5 de junho que o desejo de liberdade de milhões de pessoas foi interrompido em Pequim após semanas de manifestações. Durante essas horas, um número desconhecido de civis, provavelmente milhares, foram mortos quando tanques, veículos blindados ou helicópteros interromperam os protestos. Mas, além de máquinas militares ameaçadoras, nas poucas imagens que restam daquela época é comum vermos bicicletas. E é lógico: a bicicleta era então o principal meio de transporte do país.

Em uma bicicleta

Esta foto de Liu Heung Shing não é tão famosa quanto ‘Tank Man’, de Jeff Widener, a imagem mais lembrada do Massacre. Mas é quase tão emocionante quanto. A foto de Widener reflete a capacidade humana de resistir e se rebelar contra a injustiça, e refletir essa grandeza a tornou tão popular. Um casal escondido debaixo da ponte é bem diferente: os tanques são os mesmos, foram levados no mesmo dia e a distância entre os dois eventos é de apenas quatro quilômetros, mas mostram atitudes quase opostas. Este jovem casal não quer enfrentar nada, mas, compreensivelmente, esconder-se para que o pesadelo acabe de vez.

A foto do homem nos tanques e a foto do casal na ponte têm relação. Atualmente ambas estão juntas na casa de Heung-Shing, a apenas um quilômetro de onde ocorreu o massacre. Widener conseguiu enviar sua fotografia para o Ocidente evitando o exército chinês graças a Heung Shing, que o aconselhou a esconder o filme no banheiro pouco antes da invasão militar.

Inclusive, foi o próprio Heung Shing quem enviou a foto dos tanques à Associated Press. E, ainda por cima, a foto da ponte foi tirada logo em seguida: “Assim que enviei a foto de Widener”, lembra Heung-Shing, “o fotógrafo Jan Wong, do jornal canadense The Globe and Mail, me ligou para dizer que tanques estavam indo para onde eu estava. Então eu corri para o telhado do Complexo Diplomático de Jianguomenwai e vi os tanques girando sobre a ponte do segundo anel viário”. Foi aí, então, que Heung Shing os viu e fotografou: eram o jovem casal de bicicleta escondido debaixo da ponte.

Heung Shing também conseguiu enviar a foto dele e, no dia seguinte, o presidente da Associated Press, Lou Boccardi, enviou-lhes um telegrama de parabéns. Ambas as fotos chegaram aos olhos do mundo, revelando a verdade e humanizando a barbárie. Identificando-se com suas vítimas e tornando-se, quase instantaneamente, história. 

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