TOKYO 2020 E O CICLISMO – RESUMÃO

É notório o quanto a grandeza de um evento olímpico tem repercussão na ideia de mundo e de humanidade que temos, ainda mais nas circunstâncias globais que nos envolvem a todos. No Ciclismo, enquanto esporte olímpico, por exemplo, cinco modalidades representaram a entrega irrestrita de atletas, equipes, treinadores e patrocinadores para que os resultados surgissem, para muito além das medalhas.

Não há como negar que o Ciclismo, possivelmente, tenha sido uma das únicas modalidades que uniu em si, tanto o caráter esportivo quanto o da mobilidade. Já pensaram nisto? Falam tanto em promessas de futuro, mas o compromisso em potencializar condições para que os atletas e suas equipes alcancem o seu melhor possível, ainda são pífios em nosso país. Grande parte dos atletas do ciclismo brasileiro profissional estão abandonados à própria sorte e aos seus hercúleos esforços pessoais.

O impacto que queríamos ter visto no quadro de medalhas é desproporcional às expectativas que criamos. Vale apenas lembrar, quem sabe, sobre a desproporcionalidade no investimento em estruturas, incentivos, políticas, programas e ações concretas que nos possam levar a patamares mais altos, mais rápidos e nos tornem mais fortes, como declara o imortal lema olímpico: Citius, Altius, Fortius.

(Miriam Jeske/COB)

Tokyo 2020

Dizem que o tempo voa. Numa olimpíada parece que voa ainda mais rápido. Se você é fã de esportes, com certeza já está com saudades do evento. Mesmo ficando acordado até tarde da noite, virando a madrugada ou levantando cedo pra assistir, sempre é muito legal ver as competições olímpicas e atletas de vários lugares do mundo em busca de desafios, superações, medalhas e recordes. Foi uma Olimpíada que desafiou a saúde mental e emocional dos atletas e trouxe histórias interessantes sobre lutas pessoais e triunfos.

Brasil bateu recorde de medalhas.  Atletas daqui surpreenderam e quebraram barreiras. É uma pena que no ciclismo – pouco assistido – as coisas não deram muito certo. Não ganhamos medalhas em nenhuma das modalidades da bicicleta. Confira, agora, o que de melhor aconteceu e os resultados de cada modalidade.

Ciclismo de estrada

As medalhas não vieram pra gente. O que não quer dizer que não ficamos felizes quando o equatoriano Richard Carapaz tascou o ouro no ciclismo de estrada. O pelotão da final era estreladíssimo, e lá no meio, estava o equatoriano. Carapaz atacou nos últimos 25 km e venceu com mais de um minuto de vantagem. É o segundo ouro olímpico da história do Equador! Até então, o Equador só tinha conquistado duas medalhas na história, com Jefferson Pérez na marcha atlética um ouro (Atlanta-1996) e uma prata (Pequim-2008). O esloveno Tadej Pogacar também participou e mostrou que não tá pra brincadeira: acabou de vencer o Tour de France e saiu com o bronze.

A prova de ciclismo de estrada feminina foi maluca, e rendeu um final engraçado. A prova foi bem curta, e a primeira fuga já começou no apito de largada. 30 km depois, essa fuga já havia aberto 10 minutos e o pelotão teve que reagir. Por fim, ninguém mais sabia quantas atletas estavam na fuga. Como nos Jogos Olímpicos as atletas são proibidas de usarem os rádios comunicadores, como tradicionalmente o fazem nas provas da primeira divisão do ciclismo, as atletas não tinham referências muito concretas de quem estava na fuga. Faltando pouco menos de 5 km para a chegada, a seleção holandesa, que já havia trabalhado muito para neutralizar a fuga, achou que havia concluído a sua tarefa e começou a montar sua dinâmica para decidir a medalha. Porém, mal sabiam elas que haviam neutralizado toda a fuga, exceto a austríaca Anna Kiesenhofer, que cruzou a linha sozinha como remanescente daquela fuga lá no início da prova, para garantir a sua medalha de ouro. A 1 minuto e 15 cruzou Annemiek Van Vleuten, comemorando muito, feliz com seu suposto ouro, para só descobrir que na verdade havia ganho a prata, quando foi abraçar a sua equipe.

Kiesenhofer chegou em Tóquio desconhecida e sem contrato com uma equipe. Ela é matemática de profissão, com dois diplomas e um doutorado, e não faz parte de nenhuma equipe profissional e ciclismo. Agora, se tornou a primeira medalhista da Áustria nesse esporte.

Contrarrelógio FemininoTempo
Annemiek van Vleuten (NED)30:13:49
Marlen Reusser (SUI)31:09:96
Anna van der Breggen (NED)31:15:12
Ciclismo de Estrada FemininoTempo
Anna Kiesenhofer (AUT)3:52:45
Annemiek van Vleuten (NED)3:54:00
Elisa Longo Borghini (ITA)3:54:14
Ciclismo de Estrada MasculinoTempo
Richard Carapaz (ECU)6:05:26
Wout van Aert (BEL)0:01:07
Tadej Pogacar (SLO)0:01:07
Contrarrelógio MasculinoTempo
Primoz Roglic (SLO)55:04:19
Tom Dumoulin (NED)56:05:58
Rohan Dennis (AUS)56:08:09

Cross Country

(Jonne Roriz/COB)

No Cross Country, Mathieu Van der Poel, que, segundo ele, abandonou o Tour de France no começo pra se concentrar na conquista do ouro olímpico, acabou se machucando na final e precisou abandonar a prova. Ao saltar de uma pedra, ele tentou passar sem pular, embicou e foi pro chão. Van der Poel criticou o fato de não ter sido avisado sobre a retirada de uma rampa que estava sendo usada na recepção do salto onde ele caiu. “Quem é próximo de mim sabe o quão duro trabalhei pra essa prova e como queria ganhá-la. Eu posso andar nessa pista de olhos fechados, mas não sabia que removeriam a rampa no dia da corrida”, contou o ciclista, indignado. O ocorrido causou polêmica, teve quem culpou a organização da prova, teve quem achou que foi falta de atenção de Van der Poel. Ele acabou deixando a prova pra ir pro hospital com fortes dores no quadril.

Nessa prova, quem levou o ouro foi o inglês Tom Pidcock, de 21 anos. Henrique Avancini concorria nessa modalidade, mas terminou em 13º. Ele começou bem, puxando o pelotão por uma volta inteira. Mas no início da segunda volta, Nino Schurter puxou uma arrancada, Avancini perdeu fôlego e foi ficando pra trás. Apesar da colocação final, essa foi a melhor posição de um brasileiro no mountain bike das Olimpíadas. “Não estou aqui para ser o melhor brasileiro em prova nenhuma. Trabalhei para alcançar os melhores do mundo. Estava aqui para buscar uma medalha inédita. Arrisquei muito para isso. É muita frustração. A satisfação é pelo que trabalhei para estar aqui. Mas fico decepcionado, busquei defender o país da forma mais honrosa possível. Infelizmente não consegui transferir em performance na pista o que treinei. A prova foi bastante pesada. Comecei bem. Mas na segunda volta o Nino lançou um ataque e respondi. Ali eu comecei a me perder na prova. Me perdi bastante dentro da corrida e não consegui me achar”, disse Avancini.

Jonne Roriz/COB

Luiz Henrique Cocuzzi também estava lá e terminou em 27º. “Eu levo muita coisa dos Jogos Olímpicos. Nessa prova você aprende no que tem que melhorar. Com a pandemia, eu perdi muito no ranking e acabei largando um pouco atrás. O que eu levo desses Jogos é que por mais que você treine, trabalhe, sempre tem algo a melhorar, um detalhe para acertar. Quando você chegar num evento desse, que é uma chance só, não cometer erros e conseguir chegar no melhor resultado”, disse Luiz.

Divulgação

A colega Jaqueline Mourão também competiu. Mas a Suíça decidiu dominar essa modalidade. O pódio foi todo de lá: Jolanda Neff com o ouro, Sina Frei com a prata e Linda Indergand com o bronze. Mourão, de 45 anos, terminou em 35º. Com Tóquio, ela entrou para o hall dos atletas com mais participações olímpicas do país. Entre jogos de verão e inverno, são sete participações. Jaqueline estreou em Atenas, 2004, no ciclismo MTB. Depois, participou de Torino, na Itália, em 2006, no esqui cross-country. Em Pequim, na China, no ano de 2008, voltou a competir nos Jogos de verão, no ciclismo. Depois, uma sequência de três Jogos de Inverno: Vancouver, no Canadá, 2010, Sochi, na Rússia, 2014, em que participou de duas modalidades: no biablo e no cross country, e em PyeongChang, na Coreia do Sul, em 2018. “Foi a prova mais desafiadora da minha carreira, circuito num outro nível, muito técnico, exigência de atenção o tempo todo. Me preparei muito para essa prova. Estou com o ombro lesionado, então, foi um grande desafio. Estou feliz com a minha parte técnica. Senti a respiração e não consegui entrar no ritmo da prova. Mas minha 7ª participação olímpica, fazendo história, está fechando um ciclo muito bonito de 30 anos no mountain bike”, pontuou a atleta mineira nas redes sociais.

Cross Country FemininoTempo
Jolanda Neff (SUI)1:15:46
Sina Frei (SUI)1:16:57
Linda Indegrand (SUI)1:17:05
Cross Country MasculinoTempo
Tom Pidcock (GBR)1:25:14
Mathias Flueckiger (SUI)1:25:34
David Valero Serrano (ESP)1:25:48

BMX

(Wander Roberto/COB)

E Renato Rezende? Ele se classificou para as semifinais do BMX Racing, mas não conseguiu avançar para a final. Começou bem a primeira descida fechando em quarto lugar. Mas, na segunda disputa, acabou sofrendo uma queda e terminou em último.  Ainda assim, conseguiu um resultado histórico para o Brasil, terminando em 14º. O holandês Niek Kimmann ganhou o ouro nessa modalidade, em uma final cheia de imprevistos por causa da chuva que caiu mais cedo no dia.

© Timebrasil

“Essa foi a minha melhor participação em olimpíadas, cheguei muito bem preparado e me sentindo confiante. Mas eu sabia que agora, na semifinal, tinha que andar muito próximo dos adversários, arriscando bastante e diminuindo qualquer zona de segurança, devido ao nível muito alto da competição. Isso acabou acarretando na minha queda, durante a segunda corrida da semi, e depois disso ficou bem difícil recuperar a pontuação para entrar na final”, declarou Renato Rezende.

“Eu estou muito, muito feliz de ter representado o Brasil e sair com um resultado histórico para o nosso país. Entreguei tudo que eu consegui para defender a nossa bandeira da melhor maneira. Foi emocionante ver tanta gente me apoiando, incentivando, muito obrigado mesmo”, completou o brasileiro.

© Timebrasil

Já no BMX feminino, Priscilla Carnaval Stevaux parou nas quartas de final. Após três descidas, ela terminou na sexta colocação de seu grupo e se despediu dos jogos. A final consagrou a britânica Bethany Shriever. Após a eliminação, Priscilla admitiu que não conseguiu chegar onde queria, e que a pandemia atrapalhou muito seus treinos para os Jogos. Ainda assim, soma a experiência que teve. “Eu levo pelo lado positivo de pegar essa experiência e vir ainda com mais garra para os próximos Jogos em Paris”, disse a atleta de 27 anos.

BMX Racing FemininoPontos
Bethany Shriever (GBR)44.358
Mariana Pajon (COL)44.448
Merel Smulders (NED)44.721
BMX Racing MasculinoPontos
Niek Kimmann (NED)39.053
Kye Whyte (GBR39.167
Carlos Alberto Ramirez Yepes (COL)40.572
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BMX Freestyle

Estreante nos Jogos, o BMX estilo livre não teve representante brasileiro. A modalidade consiste em apresentações individuais de um minuto. O que vale é pontuar mais alto com manobras de diferentes graus de dificuldade.

No masculino, a Austrália apostou em um dos maiores nomes do BMX Freestyle e Dirt: Logan Martin, campeão mundial de 2021. Os EUA levaram dois grandes nomes também: Nick Bruce e Justin Dowell. E o venezuelano experiente Daniel Dhers foi pra Tóquio brigar por medalha.

No feminino, a americana Hannah Roberts dominou o ciclo olímpico quase por inteiro. Junto com ela, a também americana Perris Benegas era favorita ao pódio. Charlotte Worthington, da Grã-Bretanha, entrou pra ameaçar as americanas. E conseguiu ameaçar e vencer.

A britânica entrou para a história do esporte por ser a primeira campeã olímpica no evento. A final foi marcada por quedas. A própria Charlotte caiu em sua primeira volta e não conseguiu uma boa nota. Roberts foi super bem na primeira volta, e chegou muito perto do ouro, com nota 96.10.

Worthington voltou e fez uma volta impecável: nota 97.50. Roberts acabou desistindo na segunda volta porque estava machucada.

No masculino, o australiano Logan Martin confirmou o favoritismo e levou o ouro. Ele já mostrou que queria medalha na primeira volta. Exibindo muitas manobras, conseguiu 93.30. Os americanos não chegaram a ameaçar Martin. Nick Bruce, por exemplo, estava com uma lesão no ombro, fez algumas manobras na primeira volta e desistiu. Dowell cometeu erros e terminou em penúltimo.

O venezuelano Daniel Dhers foi quem chegou mais perto de Martin. Quatro vezes campeão do X Games, ele se apresentou bem e recebeu a prata. Essa foi a terceira medalha da Venezuela nos Jogos de Tóquio.

BMX Freestyle FemininoNota
Charlotte Worthington (GBR)97.50
Hannah Roberts (USA)96.10
Nikita Ducarroz (SUI)89.20
BMX Freestyle MasculinoNota
Logan Martin (AUS)93.30
Daniel Dhers (VEN)92.05
Declan Brooks (GBR)90.80
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Ciclismo de estrada

A última competição de ciclismo nas Olimpíadas foi o ciclismo de pista. Foram seis tipos de provas para cada gênero. O Brasil não teve representantes nessa modalidade.

Os pódios foram variados. Nas qualificatórias para as finais, a equipe feminina da Grã-Bretanha quebrou o recorde mundial, com 4:06.748 e eliminou os Estados Unidos, favoritos para a prova, que ficou com o bronze. No entanto, a marca não durou muito. As alemãs bateram novamente o recorde nas semifinais com 4:06.166. E na final, ultrapassaram a marca novamente com 4m04s242.

A equipe italiana conquistou a única medalha de ouro no ciclismo de pista dos jogos ao vencer a prova masculina de perseguição por equipes. Simone Consonni, Filippo Ganna, Francesco Lamon, e Jonathan Milan derrotaram na final o quarteto dinamarquês, formado por Lasse Norman Hansen, Niklas Larsen, Frederik Madsen e Rasmus Pedersen, com um tempo de 3:42.032, novo recorde mundial da distância. A vantagem dos italianos sobre os dinamarqueses foi de apenas 166 milésimos.

Laura Kenny, bicampeã olímpica, era uma das favoritas na prova de corrida rasa. Mas na final, um grande acidente lhe afastou a chance do terceiro ouro. A inglesa se envolveu em um engavetamento com outras atletas na bateria de perseguição omnium. Um oficial de pista acabou se machucando.

No keirin masculino, Jason Kenny venceu e se tornou o britânico mais vitorioso nos jogos. Foi o seu sétimo ouro. Ao todo, ele tem nove medalhas olímpicas (mais duas de prata). Ele também é o atleta de qualquer país a conquistar oito medalhas olímpicas no ciclismo de pista.

Veja abaixo todos os resultados do ciclismo de pista:

Ciclismo keirin MasculinoTempo
Jason Kenny (GBR)0.000
Azizulhasni Awang (MAS)+0.763
Harrie Lavreysen (NED)+0.773
Ciclismo keirin FemininoTempo
Shane Braspenninck (NED)0.000
Ellesse Andrews (NZL)+0.061
Lauriane Genest (CAN)+0.148
Omnium MasculinoPontos
Matthew Walls (GBR)153
Campbell Stewart (NZL)129
Elia Viviani (ITA)124
Omnium FemininoPontos
Jennifer Valente (EUA)124
Yumi Kajihara (JPN)110
Kirsten Wild (NED)108
Sprint Individual Masculino
Harrie Lavreysen (NED)
Jeffrey Hoogland (NED)
Jack Carlin (GBR)
Sprint Individual Feminino
Kelsey Mitchell (CAN)
Olena Starikova (UKR)
Lee Wai Sze (HKG)
Sprint por equipes MasculinoPontos
Países Baixos (R. van den Berg, J. Hoogland, M. Buchli e H. Lavreysen)41.369
Grã-Bretanha (R. Owens, J. Carlin e J. Kenny)44.589
França (S. Vigier, F. Grengbo, R. Helal)42.331
Sprint por equipes FemininoPontos
China31.895
Alemanha31.980
Comitê Olímpico Russo32.252
Madison MasculinoPontos
Dinamarca (M. Morkov / L. N. Hansen)43
Grã-Bretanha (M. Walls / E. Hayter)40
França (D. Grondin / B. Thomas)40
Madison FemininoPontos
Grã-Bretanha (Laura Kenny / Katie Archibald)78
Dinamarca (Amalie Dideriksen / Julie Keth)35
Comitê Olímpico Russo (Gulnaz Khatuntseva / Mariia Novolodkaia)26
Perseguição por equipes MasculinoTempo
Itália3:42:032
Dinamarca+ 166 milésimos
Austrália
Perseguição por equipes FemininoTempo
Alemanha4:02:242
Grã-Bretanha4:10:607
Estados Unidos4:08:040
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