Qualquer terreno

Em se tratando de terreno ou pavimentos, a Fat Bike é uma bicicleta capaz de ultrapassar praticamente qualquer tipo de solo, de plano a média inclinação. No ângulo de inclinação que é possível para uma bicicleta comum, será possível também para este conceito. A grande área de contato do pneu com o chão permite que este conceito se mantenha sobre uma “profundidade” na lama, também na areia e até mesmo sobre a vegetação baixa, como em alagados rasos. Quem já trilhou por desertos ou praias, ou até mesmo por banhados, consegue entender com facilidade estas diferenças sobre os pneus. Uma road bike possui uma área de contato tão pequena que seu desempenho é atribuído justamente a esta característica. Os pneus de pequena área de contato, quando em solos “deformáveis” ou macios, tornam-se impraticáveis. Neste caso, salienta-se o surgimento e constante evolução de bicicletas e de pneus específicos para cada tipo de solo, como aconteceu com as bikes de montanha e de obstáculos que se encaixam em variáveis de XC, XCM, DH, AM e outras menos comentadas, mas igualmente divertidas. Em cada uma destas modalidades ocorre um propósito que pode se estender até mesmo a práticas de passeio ou turismo, dependendo do desejo do seu condutor. Esta intenção descreve o perfil da bicicleta que o praticante vai procurar. É baseada nesta necessidade que surgiu o conceito Fat Bike. Os terrenos mais sugestivos para uso da Fat Bike são areia, lama e neve, que são condições ambientais sempre abordadas pelos fabricantes, em exemplos de propagandas impressas ou audiovisuais. Sempre que é reforçada a necessidade de um conceito, o fabricante demonstra através deste impacto visual, e neste caso tão específico das Fat Bikes, o apelo é sempre relacionado ao pavimento, em dois casos muito comuns:

  • › na neve de regiões extremamente frias onde praticamente não ocorre alternativa para pedalar;
  • › nas regiões arenosas ou desérticas com areia fofa.

Em qualquer menção ao uso destas extraordinárias bicicletas, qualquer usuário ficará irredutível: são únicas e insuperáveis nestes terrenos. Elas podem ser usadas em pavimentos comuns sem grandes prejuízos. Seu usuário pode optar por aplicar pneus menores no cotidiano, tais como 26 x 2.1 em opção de medida. Geralmente as Fat Bikes possuem pneus de medida 26 x 4.0, para fins de entendimento comparativo. A utilização de pneus menores gera um menor esforço de uso em trajetos longos e de fácil transposição, como nos centros urbanos. A bicicleta tem finalidade específica, contudo, pode ser usada praticamente em qualquer lugar.

© KHS Divulgação

Geometria das Fat Bikes

Existe um pouco de exagero especulativo sobre o conceito de design das Fat Bikes. Ao comparar uma bicicleta fat com uma tradicional mtb de 26” podemos perceber que todos os tubos foram deslocados de alguma maneira com a intenção de viabilizar o encaixe de rodas tão grandes. É verdade, mas isto pode ser observado também em bicicletas de roda 29”. As rodas 29” são tão grandes que se tornou inevitável uma alteração de design na geometria destas bicicletas. Isto é necessário em qualquer modelo diferente do conceito mais tradicional e comum dotado de rodas 26”. Ao analisar as distâncias de selim e guidão, angulação de seat tube, e outras medidas, percebe-se que praticamente se mantiveram. Não ocorre prejuízo de conforto. A posição de pilotagem é bastante agressiva em alguns casos, mas de forma geral, elas conceituam um misto de esportividade e mobilidade.

O Brasil e seu potencial “touring”

Não há transeunte que não se faça surpreso ao observar uma Fat Bike pela primeira oportunidade. As bicicletas de pneus “gigantes” são uma sensação que se estende dos meros entusiastas de bicicletas com resposta atrativa ao novo conceito, até aqueles que realmente necessitam do perfil de pneu para trafegar em vias com neve, areia fofa ou lama.

Ocorre no Brasil sempre um atraso no surgimento das novidades. O interesse por uma Fat Bike deve surgir um pouco da atração pelo diferencial da novidade, mas também ocorre por uma necessidade em alguns casos. Certas regiões são intransitáveis através de bicicletas tradicionais. Sabemos bem… O Brasil é um país enorme e dotado de mercado para este e outros perfis de bicicleta. Temos muito potencial ciclístico, mas pouco entendimento, pouco investimento, nenhum interesse por parte do governo, alimentado pela própria indústria automotiva.

Não possuímos neve em quantidade para tal aplicação, mas possuímos muitas paisagens naturais próprias ao desbravamento por cicloturistas. Em muitos estados brasileiros temos regiões inexploradas por ciclistas, intransitáveis com as bicicletas comuns. A Fat Bike poderia ser aplicada em roteiros de muito barro, areia fofa e charcos. Muitas vezes, observam-se relatos de viajantes que foram obrigados a descer da bicicleta e empurrar as mesmas por dezenas de quilômetros. Isso não ocorreria em uma fat. Talvez ocorra outro prejuízo, uma vez que sejam mais pesadas. O fato é que esta é uma escolha do aventureiro e ao que parece, muitos estrangeiros optam por este perfil, por esta nova opção. A costa brasileira é repleta de longos trajetos de areia, em parte destes, não é possível trafegar de bicicleta. Quantos são os sonhos desbravadores limitados por um pneu?

Uma estranha curiosidade e conveniente realidade de uma Fat Bike: elas são muito funcionais em muitos aspectos, mas poucos poderiam imaginar que elas “flutuam”! Sim, esta observação já foi realizada por alguns proprietários. Ao atravessar um rio de profundidade viável ao pedestre, uma bicicleta empurrada tende a virar de lado. Devido ao grande volume de ar nos pneus, uma Fat Bike flutua. Se ela for largada em um rio ou lago, ela flutuará.

Conceituam um misto de esportividade e mobilidade

Uma bicicleta capaz de ultrapassar praticamente qualquer tipo de solo, de plano a média inclinação.

Impressões de um conceito

Elas são extremamente confortáveis, seguras e estilosas. Devido ao grande pneu, muitos fabricantes desconsideram o uso de suspensões neste conceito. O próprio pneu possui uma boa ação que absorve as imperfeições do solo, favorecendo o conforto que se transmite pelo selim, pedais e manoplas ao ciclista. Os freios, em 95% dos casos são sistemas a disco. Elas são um pouco lerdas em arrancadas e curvas, mas bastante eficientes nas frenagens, com aquela impressão de “muita borracha e pneu murcho” que se percebe num efeito de “mola”. Espera-se que sejam extremamente resistentes a qualquer fenômeno, dentro dos mais comuns, a fadiga; não há comentários, talvez por ainda existirem poucas referências a respeito. Mesmo assim, grande parte delas é fabricada em aços, do comum de qualidade ao Cr-Mo, algumas em alumínio, e algumas raras em carbono e até mesmo titânio. Alguns entusiastas não abrem mão do Cr-Mo, nem mesmo com pneus tão grandes, e isto se deve ao fato do material possuir uma resposta aos esforços de torção e flexão que poucos materiais conseguem reproduzir.

Como acontece em quase todo início de um conceito, as Fat Bikes foram concebidas a um público com um maior poder aquisitivo, entretanto, espera-se a mudança disto com estas novas apostas em projetos simples construídos em aços mais comuns que foram apresentadas na feira de Las Vegas.

As Fat Bikes são um resultado muito claro das tendências e das necessidades recreativas e da mobilidade, combinadas à tecnologia e conhecimento atual. Não haveria uma Fat Bike tão aprimorada em tempos passados, este foi um projeto que amadureceu aos poucos, com necessidade e viabilização. As bicicletas bem calçadas, ao que parece, vieram para garantir seu espaço específico no mercado. Resta esperar para que apareçam aqui em terras tupiniquins.