Conheça o grupo Belo Clan Bike Club, que reúne adeptos da cultura lowrider em Belo Horizonte. O grupo nasceu do encontro dos amigos Cane e Acusma, que contam a seguir um pouco mais sobre o surgimento desta cultura e o estilo de vida dos lowriders, além de características das bicicletas e ações do grupo na capital mineira.

Surgimento

Criado por jovens imigrantes mexicanos que viviam na Califórnia, o movimento lowrider teve início no final dos anos 1950. Esses jovens, em sua maioria pobres da periferia que não tinham condições de ter um carro novo vindo da fábrica, resolveram fazer customizações em seus carros usados. Além de uma pintura com cores chamativas, eles arrumavam uma maneira de deixar seus carros mais baixos. Geralmente, cortavam as molas ou colocavam sacos de cimento no porta-malas para rebaixá-los.

Mas a polícia começou a confiscar esses carros modificados. Para driblar a fiscalização, surgiu um sistema que permitia abaixar ou subir os carros quando o motorista quisesse. Dessa forma, quando os policiais estavam por perto eles levantavam a suspensão do carro; longe da polícia, podiam rebaixá-lo novamente.

© Magno Cane e Bruno Acusma

As crianças e jovens que não tinham carro, também aderiram ao movimento e começaram a rebaixar e customizar suas próprias bicicletas. No Brasil, onde os custos são bem mais altos, a bicicleta se tornou uma opção para o adepto que quer integrar a cultura lowrider sem desembolsar muito dinheiro para comprar um carro que suporte a montagem de bombas de suspensão hidráulica. O conceito é igual: da mesma forma que os carros, as bicicletas ganham uma pintura especial e suspensão rebaixada, além das rodas muito raiadas.

Dentro desta cultura temos muitas histórias semelhantes, do pai que montou a bicicleta com o filho ou o filho que herda o carro lowrider do pai. Então, a ideia do lowrider também acaba por se tornar uma herança cultural passada de geração em geração dentro das famílias.

Estilo de vida

O que nos atrai nessa cultura é o modo como ela é vivida pelos seus adeptos. Não existe uma pessoa dentro do movimento lowrider que é desta cultura só no final de semana. O lowrider é um estilo de vida! Está no seu dia a dia, no comportamento sempre corajoso, mas nunca injusto com o próximo, na disciplina para manejar todos os seus gastos e ter o dinheiro para manter o seu carro ou sua bicicleta, mas sem deixar faltar nada em casa, nas tatuagens que tem uma identidade própria entre os tatuados…

© Magno Cane e Bruno Acusma

São muitos os aprendizados que a cultura nos ensina. As aparências não dizem muita coisa, como as pessoas falam por aí. Aprendemos, por exemplo, a ter paciência. Acusma, por exemplo, levou 10 anos para montar sua bicicleta. Seu pai não acreditava no sonho do filho e nunca imaginou ver a bicicleta da  maneira que ela está hoje. Agora, o pai se diz orgulhoso pela perseverança do filho.

Outra característica da cultura lowrider mantida até hoje é a presença da música. Com a origem nas periferias dos Estados Unidos, era comum que os imigrantes mexicanos estivessem ouvindo rap, hip hop e ritmos latinos, ritmos muito tocados nas periferias, enquanto tornavam o velho em novo com suas modificações quase que únicas.

Características da bicicleta lowrider

As bicicletas lowrider possuem características próprias. Começando pela pintura. A pintura normalmente possui cores vivas e brilhantes, resultado da mistura de tinta “candy” com metal flakes. O cromo é outro item fundamental nas bikes.

O garfo neste estilo de bike permite a regulagem da altura e tem a função de amortecedor através da mola. As rodas possuem entre 72 a 144 raios por roda, mais do que em uma bicicleta comum. Os pneus têm a banda branca como os carros clássicos. As bicicletas são bem mais baixas que as convencionais e normalmente é preciso reduzir o pedivela para que o pedal não toque o chão.

© Magno Cane e Bruno Acusma

Mercado nacional

Como a cultura lowrider ainda é pouco difundida aqui em nossa região, Belo Horizonte, não existem profissionais especializados nesta modalidade de bike.

As bikes lowriders são um tipo de bike custom. Sendo assim, o mercado de peças e mão de obra é escasso. O adepto precisa adaptar à sua necessidade o que existe a seu alcance. Cane, por exemplo, recorreu a uma bicicletaria convencional local para aumentar a quantidade de raios de 36 para 72 em uma roda. O proprietário mesmo fez as adaptações. Mas para adquirir um par de rodas com 144 raios, como na bike do Acusma, foi necessário recorrer à mão de obra especializada em São Paulo, aumentando o custo.

No Brasil, o mercado gira apenas em torno dos praticantes da cultura. Existe uma empresa na capital paulista que produz bicicletas artesanalmente, modelos retrô e lowrider sob encomenda. Mas fica o recado: ao realizar um pedido desses, tenha certeza sobre sua compra, pois a partir do momento que você adquiri uma bike lowrider, você automaticamente passa a ter um compromisso com a cultura lowrider.

© Magno Cane e Bruno Acusma

Grupo Belo Clan

O Belo Clan Bike Club é um grupo mineiro de adeptos da cultura lowrider. “Belo” é o primeiro nome da capital, Belo Horizonte, e “Clan”, palavra inglesa que significa clã, no sentido de ser composto por um grupo de pessoas unidas por uma origem em comum, como uma família.

Magno Cane e Bruno Acusma se encontraram pela primeira vez em 2013. Magno era conhecedor da cultura lowrider. Possuía uma bicicleta custom, porém, não era uma lowrider, pois faltava o garfo lowrider, que é um item muito raro de se encontrar, principalmente em Minas Gerais. Acusma veio de São Paulo com sua bike em processo de montagem trazendo também alguns contatos de fornecedores de peças, para dar início ao crescimento da cultura em Belo Horizonte. Com os encontros ficando mais frequentes, decidimos criar o Belo Clan Bike Club.

Hoje, o grupo conta com oito membros e auxilia na montagem das bikes novas que estão chegando. O Belo Clan se reúne periodicamente visando divulgar a cultura lowrider e atrair novos membros. Antes da criação do grupo a cultura lowrider era pouco conhecida e praticada em Belo Horizonte. O Belo Clan deu visibilidade a essa cultura, dando a oportunidade das pessoas realmente interessadas em ter acesso a ela.

A partir de agosto, o grupo pretende iniciar encontros abertos ao público, promovidos mensalmente na praça da Estação Central, em Belo Horizonte, todo primeiro domingo do mês. O objetivo é levar informação para as pessoas que ainda não conhecem esta cultura.

Além das bikes, o que nos une também é o fato de alguns integrantes do Belo Clan serem militantes do movimento hip hop. MC’s, grafiteiros e tatuadores fazem parte do clube. Não definimos um pré-requisito para fazer parte do Belo Clan, mas os integrantes têm que estar realmente comprometidos com a cultura e conhecer as origens e o que ela representa. Não queremos no grupo apenas mais uma bike bonita, mas sim comprometimento com os ideais e o comportamento lowrider acima de tudo. Não conhecemos relatos de ex-lowriders: somos lowriders por toda a vida. É nosso lifestyle.

© Magno Cane e Bruno Acusma

Essa matérias tem créditos de
Magno Cane / Bruno Acusma