O ciclismo se diferencia dos outros esportes e a bicicleta contribui para a autoestima, mesmo quando não se alcança o topo do pódio.

Iniciei na prática esportiva aos seis anos de idade. Meu pai amava nadar e por conta disto o primeiro esporte que me ensinou foi a natação. Éramos sócios de um clube muito perto do bairro onde residíamos. De lá para cá nunca mais parei. Neste clube tive a oportunidade de conhecer e praticar diversos esportes, entre eles natação, vôlei, remo, basquete, ginástica olímpica, esgrima, entre outros.

Diversos esportes em diversas fases da vida

Já adulta me apaixonei por corrida e tênis. Dediquei-me muito ao tênis, participava de campeonatos, treinava ferrenhamente e todas as manhãs dos meus finais de semana eram reservadas para a prática deste esporte. Mesmo viajando muito a trabalho, eu sempre levava comigo minha raquete, pois sabia que se sobrasse um tempinho iria procurar uma quadra para poder jogar, nem que fosse meia hora!

Também me envolvi com esportes aquáticos, rafting, wind surf e wake board.

Nunca é tarde para novas descobertas

Exatamente há quatro anos descobri as delícias da bicicleta e passei a me dedicar totalmente à prática do mountain biking e mais recentemente ao ciclismo.

Converso com muitas mulheres que também ingressaram recentemente no uso esportivo da bicicleta e todas compartilhamos do mesmo sentimento: pedalar é mágico, é um sentimento indescritível, sensação imensa de prazer, algo que é para sempre e não dá para parar.

Há um tempo venho intrigada com a questão desta “magia”. De onde vem? Porque é tão forte? Porque é transformadora? A bicicleta representa um grande desafio, principalmente para o universo feminino.

As mulheres em geral ainda veem a bicicleta como algo a ser conquistado, dominado e superado. É como olhar para aquele cavalo maravilhoso, ficar cheia de vontade de montá-lo, mas antes ter que domar o animal. É um misto de poder e superação.

A bicicleta parece ser o espelho de diversas barreiras a serem superadas. Entre elas está a barreira que representa os medos. Medo de cair, medo de se machucar, medo da velocidade, medo do desequilíbrio, medo de não dar conta de pedalar em meio a muita gente, medo de descida, medo de subida e por aí vai.

Outra barreira é representada pelos sentimentos equivocados gerados por puro preconceito ou desinformação, tais como inadequação da idade, pensar que é tarde demais para começar ou que as crianças aprendem mais rápido e melhor. Puro mito. Sentir-se inadequada por motivo de altura ou peso, sentir-se incapaz por nunca ter aprendido a pedalar ou não saber pedalar com domínio.

Coragem: capacidade de lidar com o medo

À medida que a pessoa, mesmo diante de algum tipo de barreira, se lança a encarar o desafio, persiste e segue em frente com o objetivo de dominar a bicicleta, quase que em 100% das oportunidades encontrará em seu caminho uma situação extremamente favorável para o envolvimento cada vez maior e mais profundo.

O ponto alto da magia da bicicleta é perceber que no ciclismo, seja qual modalidade for, a derrota não existe!

Participei de muitas competições, treinos em grupo e cicloviagens. Em competições, por exemplo, mesmo não vencendo, e às vezes até não terminando a prova, o ciclista nunca finaliza a experiência com o sentimento literal e duro de derrota. A bicicleta tem este poder!

Independentemente do seu nível de intimidade com a pilotagem da bicicleta e com o tipo de prática (lazer, montanha, urbano ou estrada), a bicicleta traz em seu bojo o profundo sentimento de superação.

Em algumas competições das quais participei, mesmo não tendo conseguido chegar ao pódio, apenas pelo fato de ter conseguido completar a prova, senti-me uma verdadeira campeã. Os amigos ciclistas engrossam o coro nas atitudes e palavras positivas que te deixa ainda mais motivada a não parar e a seguir em frente com a prática.

© Guto Gonçalves / Estúdio 13

Cada ciclista tem um nível e uma experiência diferente do outro, porém, todos são admirados e respeitados por cada uma de suas pequenas conquistas.

Quando eu jogava tênis e participava de competições, em muitas ocasiões fiz conquistas incríveis. Derrotei muitas competidoras fazendo uma campanha extraordinária.

A magia da bicicleta está aí…

Porém, em diversas ocasiões, na última partida mesmo empatando em diversos sets e levando o jogo para o tie-break, ao perder a partida o único sentimento levado embora era o gosto amargo da derrota, a sensação de incapacidade e em muitas vezes até a vergonha!

Todos os treinos, todos os esforços feitos e conquistas realizadas para chegar naquele estágio eram simplesmente perdidos, apagados e anulados no quicar da bolinha no chão fora do alcance da minha raquete. Voltava para casa como perdedora!

Com a bicicleta sempre voltei para casa com o sentimento de campeã, de ter me superado, de ter vencido a mim mesma e ainda de receber a admiração de terceiros pelo simples fato de eu ter tentado.

A magia da bicicleta está aí. Ela te coloca no topo a cada pedalada, ela reconhece o seu esforço, o seu empenho e te dá um dos maiores prêmios do mundo: elevação da sua autoestima!

© Ricardo Soares / Revista VO2bike