O nervosismo já tomava conta há tempos, e ali, naquele 14 de novembro de 2015, chegara finalmente a hora de subir ao altar. Enquanto Paulo se preparava para entrar na igreja e viver aquele que seria o momento mais importante da sua vida, os padrinhos chegavam com uma surpresa que sua amada Michele preparara: “A” bicicleta dos sonhos.

Faltavam duas semanas para o casamento. Com quase tudo preparado, Paulo Roberto Salvadori resolveu dar uma voltinha na Loja 100 Limites Off Road, na cidade vizinha, Bento Gonçalves – RS. Morador de Garibaldi, também na serra gaúcha, estava à procura de uma bicicleta Speed para revezar com sua MTB. A menina dos olhos: uma Cannondale Caad8, devidamente apresentada e testada. “Cara, quero muito essa bike, porém, estou com os preparativos do meu casamento e não é o momento de definir isso. Quando eu voltar em 20 dias, conversamos”, disse ao vendedor Cleiton Minussi antes de ir embora.

“Alô, aqui é Michele. Quero fazer uma surpresa ao meu noivo no dia do casamento, ele está procurando uma bicicleta Speed…”. Cleiton não teve dúvidas: era a noiva de Paulo. Sem saber, ela estava ligando justamente para a loja que ele estivera dois dias antes. A bicicleta estava até regulada para ele, em seu tamanho correto. “Com esse presente você acha que ele pode fugir?”, ela quis saber…

© Arquivo pessoal

Logicamente, ele não fugiu. Ao contrário, a bicicleta com um enorme laço azul na porta da igreja representou a dedicação dela em atender os desejos dele, e a paixão de ambos pela bike. Foi com essa emoção a mais que o corretor de imóveis Paulo Roberto Salvadori, 32, e a dentista Michele Ceccagno, 29, casaram-se.

“Quando eles chegaram com a Speed, eu fiquei sem palavras”, diz Paulo, “fiquei uns segundos congelado, sem reação, olhando de boca aberta… E quando meu cérebro começou a voltar eu só conseguia pensar na minha então noiva, em como ela se importa comigo e com as coisas que eu gosto. Como o fato de eu estar feliz é importante para ela, e eu chorei muito mais que uma criança, chorei como poucas vezes na vida, e só consegui parar de chorar no meio da cerimônia religiosa. Na verdade, a bike foi um instrumento que ela encontrou para representar o quanto me ama, e isso foi muito emocionante para mim”.

Durante a recepção dos convidados, a bicicleta reapareceu no salão e foi para o meio da festa. “Pedalei, dancei com a bike e no final da festa, quase às 7 h da manhã, fui do salão até o nosso apartamento pedalando, de terno e com um baita sorriso no rosto. Feliz, casado com a mulher que eu amo, que me ama e me deu uma bcicleta… Ao invés de dizer que não sei se caso ou compro uma bicicleta, eu digo que casei e ganhei uma bicicleta. Melhor impossível”, relata Paulo.

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Depois da lua de mel nos Aparados da Serra e Serra Geral, onde não faltou espaço para as MTB’s, o troco veio no último natal. Em meio a toda a família dela, Paulo entrou na sala carregando a Cannondale CaadX com um lindo laço vermelho e uma carta com algumas palavras carinhosas que ela leu na hora para todos. Segundo ele, “foi muito emocionante, e melhor que receber o presente é poder retribuir e fazer ela feliz também”.

Paulo pedala desde criança, mas foi em 2011 que ele começou a percorrer maiores distâncias. Michele começou a pedalar também no final de 2014, por influência dele, depois de relutar por algum tempo. “É sempre dito que a relação entre um casal é para somar qualidades, somar prazeres, alegrias e amores”, diz Paulo, “ao mesmo tempo sabemos que o casal precisa cada um do seu espaço e da sua individualidade, por isso eu sempre convidei, mas nunca forcei ela a pedalar, isso despertou ao natural. Quando ela começou a me acompanhar foi maravilhoso, passei a vivenciar com ela sensações, sentimentos que antes eu sentia sozinho. Quero cada vez mais que ela sinta a bicicleta como uma extensão do seu corpo e que a faça feliz, que a bike seja uma extensão da felicidade dela. Andar de bicicleta permite ao sujeito outra perspectiva da vida, permite conhecer o seu corpo, sua mente e a forma como eles trabalham em conjunto, e andar com o amor da sua vida ao seu lado é uma felicidade tão genuína que é difícil descrever”.

A cumplicidade também exige cuidados. Segundo o casal, é preciso respeitar os limites de cada um: “um detalhe pode ser suficiente para levar uma pessoa do amor ao ódio ou vice-versa, então, tem que cuidar com o que se fala e a forma como se fala, ser paciente no pedal tentando explicar detalhes sobre a bike, mecânica ou sobre o trajeto. Um fazer o outro se sentir amparado e acolhido durante o pedal”.

Paulo e Michele pedalam bastante no interior de Garibaldi, Carlos Barbosa e Vale dos Vinhedos. Na época do verão, especialmente, é muito bonito em função dos parreirais e clima agradável. Por meio da bicicleta, eles afirmam vivenciar cores, gostos, cheiros, tudo em uma perspectiva única. A bici chega de mansinho e se torna uma filosofia, um estilo de vida, e quando se torna uma paixão em comum do casal, contribui com a união e fortalece o amor.

© Arquivo pessoal

“À Michele, desejo com todas as minhas forças que o nosso amor seja eterno e que seja renovado a cada pequeno projeto que construirmos juntos. Para nós dois enquanto casal, o ciclismo só tem sentido, pois é embalado pelo nosso amor. Aos amigos leitores da revista: que a nossa história sirva de inspiração, somos pessoas comuns, amadores e amantes da bicicleta. Para começar basta dar o primeiro pedal, devagarzinho ir ganhando a rua e se apaixonar. Ah, só um aviso: cuidado porque isso vicia”, finaliza Paulo. Que bom se todos os vícios fossem pelo pedal, e se todos os casais pudessem encontrar na bicicleta um meio de fortalecer a mente, o corpo e o coração…