Na atualidade, muitos procuram novos adjetivos e redução de peso nas bicicletas. Contudo, para que isto seja uma realidade é preciso um grande desenvolvimento tecnológico aplicado no segmento das bicicletas.

Excelente acabamento no Cr-Mo.© Roberto Furtado

Costuma-se dizer que a retirada de peso tem um elevado valor, alguns ciclistas arriscam dizer que abaixo dos 11 kg, cada quilo retirado custa pelo menos mais R$ 1.000. Esta suposição é apenas uma referência sobre o elevado valor da tecnologia aplicada em bicicletas de competição, pois é uma verdade que em muitos casos estes valores superam cifras maiores que a indicação referida.

Do carbono e ligas não ferrosas extraordinárias ao simples aço, devemos entender as propriedades dos materiais para construção com cada uma destas opções. Quais delas nos servem de acordo com a aplicação, quais vantagens e propostas elas devem descrever. Dificilmente alguém comprará uma bicicleta de 30 mil reais simplesmente para ir a padaria, ou fará as competições com uma bicicleta de aço.

Junto de cada proposta construtiva, surgirá um novo leque de componentes para equilibrar e dar novo sentido ao conjunto. Não veremos freios hidráulicos em bicicletas do tipo confort, pois a proposta não é esta. Não podemos afirmar que estas combinações estranhas inexistem, elas podem existir, mas geralmente são vistas em protótipos de grandes marcas, ou até mesmo como um atrativo “fake” (falso) para casos de bicicletas simples de fabricantes emergentes que procuram uma “brecha” de mercado. Estes fakes tentam cativar o público que ignora os motivos de algumas características dos projetos audaciosos. Motivados pelo desconhecimento do consumidor, um fabricante produz uma sugestão de comparativo entre algo verdadeiro e caro, com propostas de custo muito menor. Muitos são os consumidores atingidos por tais intenções. Este é um problema do sistema, e alguns fabricantes tiram proveito disto. Acontece em todo segmento de consumo de materiais tecnológicos.

Nas modalidades de triatlo, downhill, contra relógio, cross country, bmx, marathon, ciclismo de estrada de longa distância, em cada uma destas modalidades reside uma técnica específica no modo de conduzir a bicicleta e no uso dos materiais. Os elementos tem perfil de resistência e leveza, outros leveza e desempenho, sendo difícil unir todos os adjetivos em um único projeto. Em cada material, uma característica marcante. Este diferencial quando atingido, forma a sugestão de uma lenda comercial, onde todos são convencidos que o produto é o ideal para ser construir um campeão ou simplesmente para tirar o máximo proveito de um potencial.

Excelente acabamento no Cr-Mo. © Roberto Furtado

Nas preocupações de um fabricante esta a precisão quanto à resistência dos materiais. É necessário executar um estudo prático dos fenômenos específicos sobre os danos que invadem o mundo dos materiais. A fadiga, comum resultado em componentes de grande desempenho, é o maior e mais estudado dos fenômenos dos materiais. Deve-se isto ao fato de que ele é também conhecido como um inimigo silencioso, estando muitas vezes ainda invisível a poucos passos de uma ruptura. A fadiga, nos metais, ocorre de dentro para fora, portanto, em alguns casos é muito complicado comprar bicicletas de competição que foram usadas por muitas temporadas, ou por atletas pesados ou muito radicais. A fadiga surge como um defeito interno. Imagine um bloco de aço que é submetido a esforços contínuos com oscilação de carga até os limites, no centro do material surge o primeiro deslocamento de planos, ou defeito. Se fosse visível, poderia se assemelhar a um fio de cabelo ou uma “bolha” no centro do material, uma “sujeirinha”. A partir desse instante começa a contagem regressiva na cronologia do material em questão. De acordo com o uso, este material vai partir em questão de dias, meses ou anos. O processo é progressivo, e quanto maior o defeito, menos material para resistir haverá, e mais próximo do fim ele estará.

Giant Cadex da década de 90. © Roberto Furtado

Raramente este fenômeno ocorre na família dos aços porque geralmente a finalidade não é competitiva. Os aços possuem propriedades naturais mais resistentes ao fenômeno, e quando tecnológicos, passam a ser quase perfeitos a estas aplicações. Podem ser extremamente “duros” e elásticos, ou duros e secos ao impacto. O alumínio não apresenta tantas variações de comportamento, assim mesmo é o material mais empregado no mundo da bicicleta. Apresenta mais histórico de fadiga, principalmente no surgimento desta aplicação. O alumínio e suas primeiras ligas! Felizmente os processos de tratamento após soldagem minimizaram os riscos da atualidade. Isto porque no início muitos dos esforços não eram totalmente compreendidos pela engenharia da bicicleta, os materiais não eram específicos para ela, e a própria técnica construtiva era deficiente em quesitos básicos, como inclusive de soldagem.

Existem questões muito conhecidas nos dias de hoje, onde as tensões internas criadas pelo processo construtivo de ação mecânica geravam “pontos” favorecidos para o nascimento de fadiga. Um tratamento de alívio destas tensões, através de reaquecimento em temperaturas específicas para cada material, é capaz de solubilizar estas tensões e reduzir a níveis muito satisfatórios a durabilidade do material. Este é um processo industrial, que pode ser feito em larga escala, traz qualidade ao produto final. Quadros que quebram junto da solda são um claro sinal de que o tratamento térmico após a soldagem foi inexistente ou ineficiente. No mundo das MTBs e outras versões da bicicleta que recebe esforços não é raro escutarmos histórias de frames que se quebram. Muitos pensam que foi o esforço daquele momento, ou de outro grande desafio da semanas atrás. Ás vezes, isto é fruto de um tombo vivido em um passado mais distante. Uma pancada não suportada pelo objeto, em que aparentemente nada foi modificado, embora ali tenha sido “plantado” o começo de uma trajetória que levará o projeto ao seu fim. A percepção natural do instinto do homem o leva a crer que o dano foi ligado a algo do imediato. Algumas destas quebras são previsíveis e previstas pelo fabricante em alguns segmentos.

Cubo Nexus de 8V com dispositivo de freio. © Roberto Furtado

A tecnologia nos frames de bicicletas está em crescente evolução, nítido por projetos de grande refinamento, as evidências vão de designs hidroformados, ou com complexas compensações de esforços, evidentes em bicicletas full suspension para competição de DH e XC. Nestes projetos existe a necessidade do desempenho com a alta resistência, e somente projetos bem elaborados podem garantir uma temporada competitiva de excelência.

A necessidade de suportar outros esforços existe em modalidades não competitivas e aparentemente menos radicais aos materiais. Em uma bicicleta de touring imagine a carga suportada pelo frame, aros e raios… É comum ouvir histórias de ciclistas que atravessaram o mundo com 25 a 40 kg de peso em suas bicicletas. O peso do conjunto somado ao ciclista pode ultrapassar os 140 kg. Não é qualquer projeto que suporta este peso. Por isto, nestes casos, muitos ciclistas procuram por frames fabricados em Cr-Mo ou aços nobres, pois são geralmente mais flexíveis e muito resistentes à fadiga. Em outros casos, o cicloviajante troca de bicicleta de forma preventiva.

Cubo Alfine de 11V e correia de borracha, em quadro de Cr-Mo. © Roberto Furtado

Se tratando de tecnologia dos materiais empregados em bicicletas, não podemos deixar de destacar a grande gama e a evolução dos componentes, bem como dos processos para obtê-los. Hoje, existe muito material encaixado, colado, soldado com tecnologias recentes no segmento. Aos cubos de marchas internas, fica evidente que eles estão sendo elaborados com processos equivalentes ou até superiores aos aplicados em automóveis. Engrenagens com obtenção por delicadas fresadoras, e com acabamento superficial polido, camada externa cementada etc. Confecção a laser de peças complexas, em outro exemplo. Técnicas que passam despercebidas pelos usuários, mas que acumulam carga de conhecimento técnico aprimorados nos últimos 100 anos. Não é de hoje que as técnicas evoluem, nasceram muitas no tempo em que nossos avós pedalavam, mas a popularização e viabilização é fruto da atualidade. Pensemos nos rolamentos fabricados nesta década, que em condições ideais são tidos como eternos pelos fabricantes de mecanismos complexos. Com esta “enxurrada” de componentes, acessórios e tecnologia, não podemos deixar de reconhecer a evolução progressiva em que nos encontramos. O futuro da bicicleta nos reserva novas tendências, ela está na mira dos fabricantes de automóveis. A bicicleta está sendo observada de perto por suas qualidades, seja ela mecânica na totalidade, ou elétrica. O ciclista ou piloto, em qualquer modalidade extrema que esteja envolvido com a bicicleta, precisa ser um conhecedor do seu material. Para cada modalidade e esforço estará à disposição um material com as condições propostas. É importante que se saiba sobre os limites e que nada é eterno, nem mesmo com tanta tecnologia, embora o futuro nos reserve muitas surpresas.