Não há situação mais desagradável para um ciclista que uma “fina”. Desculpem-me o trocadilho mas nem pneu furado, nem sobrar de roda com os amigos no “pega-prá-capar” semanal “passa perto” da famigerada “fina”.

“Fina”, segundo o vernáculo ciclístico, é aquele momento em que um energúmeno-condutor de algum veículo movido a combustão passa “tirando tinta” da sua perna, geralmente a uma velocidade muito superior a sua, provocando o susto apavorante de um quase atropelamento. Em uma fração de segundo você fica branco como um fantasma e seu bronze já acelerado do esforço explode em arritmia. Quase sempre, paramos de pedalar por um momento, a concentração se vai e chega a impotência e uma ira justificada. Até os mais polidos e educados desqualifica a mãe e excomunga todas as gerações possíveis do imprudente que some no horizonte.

Sou ciclista, mas também sou condutor de um carro e noto que no trânsito sempre é possível ter a gentileza de não chegar tão perto de ciclistas e pedestres. Um pequeno gesto de girar em poucos graus o volante, desviar sutilmente e passar a uma distância segura do ciclista vale demais e custa pouco. É uma boa ação de civilidade, como ajudar uma senhora a atravessar a rua.

Não conheço um ciclista que não tenha passado por uma fina na vida! Se existir, é a exceção que confirma a regra. Infelizmente, quem pedala, com frequência relata ter encontrado a “danada”. Mas boa parte de nossa segurança depende de nós, logo, aconselho evitar música em fones e nunca mudar de linha\faixa de direção – mesmo que seja em centímetros! – sem conferir visualmente e “com os ouvidos” o cenário atrás de sua roda traseira. Sua audição deve ficar atenta ao som característico de pneus rolando no asfalto. Lembrou do barulhinho? Sou ortodoxo nisso, som para pedalar é imprudência! Isso vale também para pelotões onde mudanças de rumo repentinas e toques de roda são, de longe,  a causa da maioria dos tombos coletivos. Ao evitar mudanças de rumo laterais bruscas você evita ser surpreendido por alguém ou algo te ultrapassando. Isso é simples e importante porque evita o pior!

O primo da Fina todo mundo conhece: é o Buzinaço. Você está concentrado, tirando forças não sabe de onde e de repente, muito mais que de repente, surge aquele Scania cara chata, bi-trem carregado de soja a 120 km/h e logo do seu lado o condutor dispara uma buzina aguda de centenas de decibéis: você quase sai catando mamona no cerrado e ainda fica com  “sinal de ocupado” até depois do almoço. E quando junta a “Fina” e o “Buzinaço” na mesma situação?! @#$%¨&*(), cobras e lagartos!!!

Enfim, vida dura de ciclista!  Onde for de sua alçada, cuide de sua segurança! Use E.P.I.s, roupas de cores fortes, luzes piscando, fique atento, não escute música pedalando junto com veículos (você precisa de sua audição), sempre dê uma olhadela antes de converter à direita ou esquerda. Sendo prudentes e atentos, mesmo nessas situações, evitamos quedas e atropelamentos.