É muito comum as pessoas ficarem surpresas quando comento que sou praticante de mountain biking. Invariavelmente, imaginam cenas radicais do esporte, por trilhas cujas descidas colocaria pavor no mais experiente atleta. Confesso humildemente que dependendo da situação, até gosto deste espanto, o meu ego fica inflado, mas com os pés no chão, trato logo de desmistificar esta imagem.

Atualmente, até me aventuro a pedalar por algumas trilhas mais radicais, porém, a grande maioria das pessoas que praticam o mountain biking buscam o equilíbrio entre o prazer, relaxamento, diversão, socialização e, claro, uma dose moderada de adrenalina para sentir a satisfação da superação.

Portanto, é importante saber que existem diversos níveis de prática de mountain biking. Imagine uma estrada de terra bem batida, lisinha, com poucos pedregulhos e cheia de árvores, seja no topo ou na base de uma montanha. Pedalar por este cenário já poderá dizer que está praticando mountain biking. Antes do mountain biking, o que existia eram bicicletas usadas como meio de transporte e lazer, e as bicicletas de corrida.

A mountain bike, bicicleta de montanha, nasceu na Califórnia em meados da década de 50, através de brincadeiras de alguns ciclistas e surfistas que procuravam desafios bem diferentes das competições de estrada tradicionais e atividades para dias sem ondas. O primeiro nome a aparecer foi James Finley Scott, provavelmente a primeira pessoa a adaptar uma bicicleta para andar na terra – em 1953.

O termo de que mais gosto e é utilizado em alguns países é o BTT, bicicleta para todo terreno, pois este tipo de ciclismo é praticado em estradas de terra, trilhas de fazendas, trilhas em montanhas, dentro de parques e até na cidade.

Se você não tem nenhuma bicicleta, minha indicação é que compre uma mountain bike, desta forma poderá pedalar em qualquer lugar ou situação. Se comprar uma bicicleta passeio, para lazer, ou uma speed (bicicleta de estrada) e surgir uma oportunidade de pedalar em alguma trilha, certamente terá que declinar do passeio ou ter um custo adicional para alugar ou comprar uma bicicleta adequada ao evento. Portanto, fique tranquilo, mountain biking pode não ser radical, e sim uma grande diversão para quem quer estar em contato direto com a natureza.

E viajar de bicicleta? Sempre digo que quando se viaja de carro temos apenas o ponto de partida e o de chegada, quando se viaja de bicicleta, haverá a partida, o percurso e o destino. Viajar de bicicleta é uma atividade de imenso prazer e contemplação. Durante o percurso integra-se com a natureza e com as comunidades ao entorno de forma ímpar, além da satisfação de chegar ao destino com o próprio esforço físico.

Aqui no Brasil, o Cicloturismo acaba se confundindo com o mountain biking porque nossas rodovias não são apropriadas, nem seguras ou atrativas para pedalar. Por esta razão, o Cicloturismo no Brasil envolve o uso da bicicleta para mountain biking, porque a grande maioria das viagens se dará em trilhas e estradas de terra, longe das grandes autoestradas.

Segundo Guilherme Cavallari, mountain biker, cicloturista, escritor, autor do Guia de Trilhas Enciclopédia,  e responsável pelo mapeamento de mais de 8.500 km de trilhas para mountain biking, no Brasil (SP, MG, RJ, ES, PR, SC e RS) e na Patagônia chilena (Carretera Austral), “o Brasil tem enorme potencial como destino internacional de turismo aventura. Somos um continente. Possuímos área territorial de 8.514.876 km², quase 48% de todo o território da América do Sul. Nossa costa marítima se estende por 7.408 km e temos uma das maiores redes hidrográficas do planeta. Nosso clima é ameno o ano todo, e em quase todo o país. Esses números significam, em termos gerais, infinitas possibilidades de trilhas para mountain bike e cicloturismo”.

Diferente do turismo convencional, o turismo de aventura, por exemplo, o cicloturismo não demanda grandes investimentos ou infraestrutura. Muito pelo contrário. Ao invés de rodovias asfaltadas, quanto mais estradas de terra e trilhas, melhor. No lugar de hotéis e restaurantes de padrão internacional, bastam pousadas aconchegantes e fazendas com quartos originais, com comida de fogão a lenha.

Enquanto o turismo convencional busca a padronização internacional, o turismo de aventura valoriza a genuinidade, a originalidade, a expressão cultural local e a preservação ambiental. O primeiro exige uma reforma radical do país. O segundo implora o cuidado com o que já possuímos.

”Vale perguntar: qual dos dois é mais próximo da nossa personalidade? Qual dos dois é mais fácil de alcançar? Qual dos dois deixará um legado melhor às futuras gerações?”, finaliza Guilherme.

Dicas para iniciar na prática do mountain biking e/ou cicloturismo:

  • Comprar uma bicicleta adequada ao propósito. Quanto maior o número de marchas, quanto maior o curso da suspensão dianteira e quanto melhor a qualidade dos freios, maior será o conforto do ciclista. Itens mínimos a serem analisados.
  • Conhecer técnicas básicas de mountain biking, como transpor obstáculos, trocar as marchas de forma adequada, saber como frear corretamente, vencer subidas e descidas íngremes. Utilizar a bicicleta com o posicionamento correto de forma a não sobrecarregar musculatura e articulações, são detalhes importantes para que o iniciante na prática possa tirar proveito e faça o passeio ou viagem com conforto. Se você não domina as técnicas ou tem um pouco de insegurança, recomendo que participe de um mountain biking ou cicloturismo. É uma boa forma de conhecer um pouco mais a respeito da prática, como também conhecer pessoas que tem o mesmo propósito.
  • Integre-se a um grupo legal de pessoas que são praticantes. É uma forma rápida de se “enturmar” e conhecer todas as possibilidades da prática. Frequente mais de um grupo de passeio ou cicloviagem, assim terá parâmetros para escolher o que mais se aproxima da sua expectativa.
  • Uma forma de integrar-se a grupos legais é buscar informação junto às lojas de bicicletas próximas de sua residência ou trabalho. Muitas lojas já tem grupos formados para pedais noturnos e passeios de mountain biking aos finais de semana.
  • Viajar de bicicleta fora do Brasil é muito comum e há diversas operadoras de viagem especializadas no assunto. Diversos países da Europa e outros como Canadá, Estados Unidos, Chile ou Argentina são destinos incríveis para a prática do cicloturismo e do mountain biking.
  • Antes de participar de uma cicloviagem ou passeio de mountain biking é importante ter ciência do seu nível de condicionamento físico para poder escolher o tipo de percurso e distância mais adequados ao seu “fôlego”.