A influência das Gravel Bikes

Só mais uma invenção pra faturar… logo acaba em nada… 

Foi o que muitos disseram quando as Gravel Bikes surgiram. Porém, hoje, a modalidade está totalmente consolidada. E dá até pra dizer que se enquadra dentre as grandes revoluções do ciclismo.

E vai além, está até influenciando a centenária estradeira – quem diria.

A atração do cascalho

A modalidade Gravel, com cerca de uma década de existência apenas, parece uma modalidade antiga já, lá do século 20. Reconhecida pela UCI no final de 2021 como categoria e com o seu próprio campeonato mundial (desde 2022), e vide as seletivas para o Mundial, que vem atraindo cerca de 1200 inscritos por etapa, além das provas nos Estados Unidos, sendo, algumas delas, com mais de 4 mil inscritos.  Atingiu grandes níveis de popularidade, a ponto de ser cada vez mais comum a gente se deparar com uma por aí. Virou o sonho de consumo de muita gente – inclusive de quem ainda não pedala – e tem um poder de atração em simples olhar.

Quando surgiu, porém, poucos confiavam nela. Um enxerto frustrado de MTB com ROAD, diziam muitos, a enésima tentativa da indústria de nos fazer comprar uma bicicleta que não precisávamos. Bicicletas que nada mais fizeram do que voltar aos primórdios do MTB, num eu quero e não posso, que tentou fazer tudo, mas não cumpriu nada adequadamente. Ledo engano!

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O desconhecido

Parece que a grande questão – que gerava a resistência – era o fato de não viver a experiência com uma Gravel. Muitos que não experimentaram o que a Gravel era capaz de oferecer, falaram sem conhecimento, sem sequer experimentar um pedal com este tipo de bicicleta. Mas, o tempo os silenciou. O conceito versátil acabou fazendo com que muitos ciclistas se apaixonassem por um tipo de bicicleta capaz de proporcionar satisfação nas mais diversas situações: rodovias, estradas de terra, trilhas leves, cicloviagens, ultramaratonas, competições de diversos níveis de exigências… e praticamente tudo ao mesmo tempo, e com a mesma bike. Um nível elevado dada a qualidade e as soluções técnicas que estas bicicletas proporcionam.

©SCOTT

Influência

As Gravels trouxeram algumas inovações que até transcenderam a disciplina de cascalho, e acabaram sendo adotadas em maior ou menor grau pelos ciclistas estradeiros, adeptos às bicicletas de estrada. Guidões dropados, geometrias mais relaxadas, menor absorção de impactos, pneus mais largos com mais aderência e segurança, entre outros, acabaram por influenciar as bicicletas de estrada. Inclusive, outra nova geração de bicicletas de estrada está surgindo agora na paralela do cascalho e opções de pneus mais largos. Este é o segmento All Road, uma evolução das bikes de longa distância para um conceito muito mais aventureiro.

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Coroa única

Embora o debate entre usar uma ou duas coroas ainda esteja vivo nas Gravel Bikes, como ocorreu no mundo do MTB, a solução 1x possui muitos adeptos pela simplicidade que traz ao conjunto. Uma configuração que, graças à chegada de 12 engrenagens nos grupos, permitiu um escalonamento melhor e uso de cassetes maiores, mesmo para a estrada, bem como um alcance suficiente para enfrentar muitas situações que encontramos. Porém, diferentemente das MTB´s, o uso de duas coroas também é muito utilizado, proporcionando um range excelente, fazendo com que possam ser utilizadas principalmente no asfalto, com performance muito próxima às Road Bikes, mostrando a versatilidade das Gravels. A influência do MTB nas Gravels, acabou por influenciar as Roads. Já vimos ciclistas líderes usarem uma única coroa em dias decisivos de competição, como a de Primoz Roglic na reta final do Giro d’Italia ou Jonas Vingegaard, que não hesitou em usar esta configuração durante as etapas planas do último Tour de France. A cada cenário o ciclista poderá escolher sua melhor configuração. A certeza disto é que a diversão é totalmente garantida.

Admitam isso ou não, as estradeiras se beneficiaram com os “empréstimos” que fizeram das Gravels. Algumas soluções práticas para obter maior eficiência. Obviamente, as Gravels também herdaram muito das Roads – justiça seja feita. Um bom intercâmbio, com certeza!

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Futuro

O que mais veremos? Se em apenas uma década houve tamanha transformação no envolto das Gravels, e tendo em mente a velocidade dos desenvolvimentos tecnológicos, certamente podemos esperar, para os próximos anos, muitas mudanças e influências no universo da bicicleta como um todo – que venham as mudanças! E como diz o Gabriel Antonoff do BH Gravel: Gravelemos!!


Gabriel Antonoff do BH Gravel

O que me atraiu na modalidade Gravel?

Sempre gostei de novidade. Após quase duas décadas pedalando de MTB e Road, fui apresentado à modalidade em 2018. Ainda desconfiado, resolvi experimentar.

Reencontrei o prazer de pedalar. Descobri (e redescobri) roteiros inimagináveis. E mudei totalmente meu conceito sobre pedal, sobre treinos e sobre competições.

Recomendo fortemente experimentar o Gravel. Irá se surpreender.

Gravelemos !!


Helena Carvalho Coelho – Advogada, Ciclista de gravel, embaixadora da Swift Carbon BR, e organizadora do Mulheres de Gravel (MDG) – @UNOGRAFIA

O que me atraiu na modalidade Gravel

Queria experimentar uma bicicleta que me possibilitasse ir mais longe, com mais conforto e performance. Já andava de MTB aro 26, bem adaptada ao uso urbano, mas fazia absolutamente tudo com ela. Em um primeiro momento, pensei em ir para a road, não conhecia a modalidade gravel. Mas no primeiro contato já tive certeza que era um caminho sem volta: uma bicicleta que me permitia absolutamente tudo.

Não tenho carteira e me divirto com meu “mapa de calor do strava” (os traçados por onde pedalei), gosto de ir mais longe e sou apaixonada por conhecer novos lugares, desbravar o desconhecido e poder fazer isso apenas com uma bicicleta é uma sensação inexplicável, me aventurar na rapidez das rodovias às trilhas desconhecidas no caminho. É uma modalidade que eu me identifico pela versatilidade e adaptabilidade e me conecto, porque isso também, de certa forma, nos conecta enquanto mulher e bicicleta. A capacidade de adaptação à vida, aos diferentes terrenos!