Montadoras de automóveis que fazem bicicletas – Antítese e paradoxo

“Quem diria, há três ou quatro décadas atrás, que as fábricas de carro um dia investiriam na produção de bicicletas. “

Justamente as poderosas montadoras dos potentes carros e motos (veículos automotores em geral) que, por assim dizer, destronaram a “pobre” bicicleta, infestaram as cidades e as estradas com suas máquinas – incluindo todos os seus efeitos colaterais –  e tentaram convencer o mundo que este seria mais feliz, se motorizado. Era um símbolo da modernidade, de estar up to date com a inovação e com o poder que ter um carro passou a significar.

Não há a menor necessidade de detalhar o legado que a máquina deixou para a sociedade e o planeta. Sinal dos tempos? Não, sinal de falta de bom senso.

Não, não estamos, ingenuamente, achando que haverá uma reversão de conceito de mobilidade automotor a ponto de o carro se tornar secundário ou não prioritário enquanto bem, enquanto forma de consumo das paisagens, enquanto fetiche de poder e exclusividade sobre a ocupação da paisagem urbana. Pelo menos, cremos que não se percebe um profundo câmbio no formato administrativo e conceitual desse sistema, do qual todos fazemos parte, chamado trânsito.

Também não estamos, ingenuamente, achando que as fábricas de carros, na sua maioria, estão realmente preocupadas com a mobilidade, as pessoas e o planeta, a ponto de desejar que a bicicleta sobressaia ao automóvel. Chega ao ponto de complexa ironia quando se percebe marcas de automóveis acrescentando à “venda casada” seus modelos de bicicleta. É claro, lembramos daquele momento histórico quando a Peugeot fabricava bicicletas, mas a frota de automóveis cresceu vertiginosamente e o comportamento dos usuários tende ao individualismo exacerbado, portanto, nem há como comparar um momento com outro.

Sabemos que se trata, digamos, de uma estratégia de marketing – o chamado marketing verde, –  afinal, a bicicleta alcançou protagonismo tanto nas mídias sociais quanto nos demais meios de comunicação. É o objeto de desejo de 3 em cada 5 cidadãos brasileiros para fugir do caos urbano que acomete a modernidade e também enquanto escolha de lazer ativo qualificado. Está presente desde as vitrines das lojas em shopping centers às propagandas de TV.

“Então, precisamos cortejá-la e fazer parecer que realmente queremos vender bicicleta também”, talvez pensem as montadoras. Pode ser que algumas delas até queiram uma fatia desse mercado, mas os modelos apresentados pela maioria delas, deixa bem claro o contrário, modelos que custam dezenas de milhares de dólares, ou modelos meramente “simbólicos” – como que uma edição especial limitada.

Intenções à parte, seja qual for o real objetivo das montadoras, listamos alguns fabricantes e suas respectivas bicicletas.

E vale uma ressalva: alguns modelos são riquíssimos em design, tecnologia, detalhes e beleza.

MCLAREN

A bicicleta da McLaren foi criada, em uma série especial, em parceria com a Specialized, em 2015. Com apenas 250 unidades fabricadas, a bicicleta tem na composição fibra de carbono para diminuir o peso, e foi feita com base nas medidas de cada comprador. No Brasil, foram enviados 3 exemplares, cada um custando 75 mil reais.

BUGATTI

A marca francesa (mas fundada por um italiano), famosa por fabricar super-carros, lançou a PG Bugatti Bike, feita em fibra de carbono, e extremamente leve (aproximadamente cinco quilos). Produzida na Alemanha para uso esportivo, o modelo teve apenas 667 unidades produzidas. O preço? US$ 39 mil.

MERCEDES

A Mercedes-Benz disponibilizou três modelos de bicicletas: trekking 29”, fitness 29” e bicicleta de montanha, além de uma versão para crianças. A marca alemã também possui uma linha de acessórios originais para bicicleta, incluindo vestuário e peças. O preço das bicicletas parte dos 3.300 euros.

Porsche

A Porsche já fabrica bicicletas há alguns anos. Os modelos são em sua maioria compostos de fibra de carbono, e todos vêm de fábrica com uma etiqueta anti-roubo, aplicada sob a pintura do quadro, que contém um código único utilizado on-line para reportar o roubo, dificultando a venda da bicicleta.

PININFARINA

A Pininfarina se tornou um dos ateliês mais famosos do mundo em desenhar carros. E depois de um tempo decidiu diversificar seus projetos, apresentando diversas bicicletas. Uma delas é a Pininfarina Fuoriserie Bike, que teve apenas 30 exemplares fabricados. A Fuoriserie é uma bicicleta bem retrô, com quadro cromado e guidão e banco cobertos por couro trançado.

BMW

A marca alemã disponibilizou modelos de bicicletas no mercado nacional, e também tem uma linha de bicicletas elétricas. A marca começou na produção das e-bikes com os modelos i3 e i8 (híbrido). Conhecida pelas autonomias (em modo 100 por cento eléctrico), a marca desenvolveu a BMW Cruise E-Bike, uma bicicleta eléctrica que consegue acelerar até 25 km/h.

FORD

A Ford prefere bicicletas dobráveis. São três modelos, a MoDe:Me, mais compacta, MoDe:Pro, que permite carregar umas coisinhas a mais, e a MoDe:Flex, voltada para proprietários de carros. Esta última é uma evolução dos outros dois modelos e tem tecnologia inovadora: seu guidão vibra quando um carro o ultrapassa, e os pedais se ajustam ao pé com base na frequência cardíaca, recebendo informações de múltiplos sensores.

A Ford integra essas informações com dados do veículo e do proprietário, em um app chamado MoDe: Link, que mostra também condições de tempo e trânsito.


FERRARI

A Ferrari não produz apenas seus carros de luxo e de competição. Não mesmo. A marca divulga diversos produtos, como relógios, perfumes, roupas e bicicletas. A Ferrari também já “emprestou” o seu logo a várias bicicletas. Na verdade, foram a Ferrari e a Colnago que iniciaram as parcerias entre bikes e carros, nos anos 80, quando Ernesto Colnago entendeu o potencial da fibra de carbono para as bicicletas, e contatou Enzo Ferrari para tentar uma parceria. A parceria deu certo e a Colnago ainda produz bikes com a Ferrari. Outras parcerias, com outras marcas, vieram depois disso.

Uma das últimas foi a Bianchi SF01, bicicleta de estrada resultado da parceria entre a Ferrari e a icônica fabricante de bicicletas italiana. A Bianchi se destaca pela sua leveza, com um quadro de fibra de carbono de 790 gramas. O modelo começou a ser comercializado ainda em 2017.

LAMBORGHINI

Em 2012, a Lamborghini, em parceria com a suíça BMC, lançou a BMC impec Automobili Lamborghini Edition. Limitada a apenas 250 unidades, é inspirada na Lamborghini Aventador e produzida em homenagem aos 50 anos da marca italiana. E nesse ano, no Salão de Genebra, a marca anunciou outra parceria. Dessa vez, com a Cervélo Cycles. A PX5 é amarela e preta e teve apenas 25 peças criadas. No processo de criação, a bicicleta passou 180 horas em testes de túnel de vento.

MAZDA

No caso da marca japonesa, a bicicleta não está à venda. A Mazda´s Bike by Kodo Concept foi um projeto concebido com inspiração no estilo da marca. Com uma estrutura minimalista, composta por um número mínimo de componentes, tem um quadro feito a partir de uma única folha de aço e um selim com as mesmas costuras em vermelho que os bancos de uma versão MX-5.

ASTON MARTIN

A Aston Martin também está no ramo das bicicletas. Sua mais recente parceria foi com a Storck Bike, baseada na Storck Fascenario, que gerou uma edição limitada de 107 unidades chamada Aston Martin Edition. Segundo os desenvolvedores, o que há de melhor e mais avançado em fibra de carbono e aerodinâmica está nessa bicicleta.

AUDI

Com auxílio elétrico e focada em alto desempenho, ela traz o que há de melhor da engenharia europeia. E ainda é uma mountain-bike! Seu selim pode se retrair para permitir manobras e mais agilidade em trilhas técnicas. É fabricada principalmente em fibra de carbono, com auxílio elétrico nos pedais (eixo central) e não nas rodas, o que mantém o câmbio convencional. É robusta, mas tem um desenho limpo, que a faz parecer mais leve. O preço? Ninguém sabe. Ainda é um protótipo.

FIAT

A Fiat possui alguns modelos de bicicletas feitos para combinar com seus automóveis, incluindo uma bike dobrável, modelo 500, que combina muito bem com o Fiat 500, tanto em desenho e cores quanto em tamanho. Há também um modelo chamado “Trekking”, que pode fornecer bom uso em ambiente urbano e off-road leve, combinado com um desenho elegante. E ainda temos as Fiat by Mopar, bikes off-road que na versão de alto-desempenho chegam a custar mais de 15 mil dólares, ainda que não sejam tão exclusivas quanto outras bikes mostradas nesta matéria.

CHEVROLET

A aposta da Chevrolet é que seus donos saibam dividir o uso do carro com a bicicleta. Para isso, a marca disponibiliza alguns modelos, com a principal aposta em um modelo de mountain-bike 27,5” e 27 velocidades, suspensão dianteira.

HUMMER

A Hummer, marca pertencente à GM, ficou famosa na década de 90 pelas “humvess” – quase inquebráveis veículos de combate – que hoje são um símbolo do espírito de aventura. Mas a sua versão de bicicleta ficou bem diferente: pequena, prática e projetada para o uso na cidade. Custa 700 euros.

JEEP

A Jeep tem uma ampla linha de produtos que vão além dos carros. Incluindo bicicletas. Sim, no plural. São vários modelos, a maioria de baixo custo – não espere nada demais nelas além da logo da Jeep.

LEXUS

A Lexus possui um modelo de estrada, de produção limitada a 100 unidades e preço rondando os 10 mil dólares. Seu quadro é de plástico. Plástico?!? Sim, plástico, mas reforçado com fibra de carbono. O mesmo material usado nos melhores veículos da Lexus. Segundo a companhia, a bicicleta é uma comemoração do uso deste material pela marca.

ALFA ROMEO

O nome dela é 4C IFD. Pesa pouco mais de 7 quilos, é projetada para asfalto e seu desenho é baseado nos carros da marca. Se perguntou o que significa o nome? O 4C vem do veículo, Alfa Romeo 4C, que utiliza em seu chassi os mesmos materiais usados na fabricação da bike. E “IFD” significa Innovative Frame Design, ou Desenho Inovador de Quadro. O preço vai de $4,700 a $12,000, conforme o modelo.

RENAULT

A Renault fez nas bicicletas uma aposta parecida com a dos carros. Bicicletas de entrada para venda em grande quantidade. Parecida com a proposta da Jeep, mas ainda mais barata. Mais uma vez, o que elas têm de diferente é a logo no quadro.

VOLKSWAGEN

Disponível por encomenda nas concessionárias do Brasil, as bikes da Volks são focadas em off-road e saem da loja a partir de R$9.700,00. Disponíveis em aros 27,5” e 29”, com grupos Shimano.

KIA

A marca coreana começou fazendo bicicletas antes dos carros. Recentemente, ela voltou às origens com as K Velo City.  Agora, a fabricante coreana presta um tributo à sua origem humilde com a nova K Velo City, que tem uma cesta frontal com formato parecido com o da grade dos veículos Kia. As rodas têm aro 20 e o câmbio, onze marchas. Há também uma versão Speed, de alta velocidade, com quadro de alumínio leve.

MINI

A Mini é uma marca inglesa de 1969, famosa por fabricar o Mini Cooper. Começou a vender a sua bicicleta dobrável por R$ 5.907,00 no Brasil. O modelo tem câmbio de oito marchas, rodas de 20 polegadas e couro marrom no banco acolchoado e nos guidões. A bicicleta pesa aproximadamente 11 quilos, em quadro de alumínio na cor cinza escuro fosca com detalhes prateados e o logotipo da Mini na barra transversal.