Therbio Felipe entrevista Mabilia Lourenço

Ela é santista, administradora de empresas, aposentada. Se apenas isto pudesse resumir Mabilia, já seria válida nossa matéria. Mas, ela não fica por aí. Aos cinquenta e dois anos, Mabilia atua como bike courier da Carbono Zero, uma empresa de entregas sustentáveis. Entrevistamos esta simpática e super animada esportista que acredita na mudança para romper as barreiras do preconceito com sua bicicleta pela cidade.

T. Mabilia, qual a lembrança mais antiga da bicicleta em sua vida? Como era, naquele momento, a sua relação com a bicicleta?

M. Sempre tive bicicletas na minha infância, mas uma coisa que ficou marcada na minha lembrança foi quando comecei a trabalhar, aos doze anos, usei o meu primeiro salário como entrada para comprar minha Caloi Sprint 10. Nessa época já existia um grupo de amigos que pedalava e curtia passeios pela orla de Santos e São Vicente.

T. Você poderia nos contar como se deu seu início como bike courier na Carbono Zero? Como é o seu dia a dia? Como você se preparou para aceitar este novo desafio?

M. Depois de trabalhar por mais de vinte anos na área financeira, eu me aposentei e comecei a procurar alguma atividade para ocupar meu tempo ocioso. Foi quando conheci a Carbono Zero Courier e me interessei pela atividade e proposta da empresa – a entrega expressa sustentável, feita com bicicletas – inovação e sustentabilidade.
Comecei a pedalar como freelancer e me tornei uma bike courier fixa, na Baixada Santista. Me senti super orgulhosa, principalmente pela minha idade e por estar concorrendo com pessoas mais jovens.

© Arquivo Pessoal

Meu dia a dia é dividido em afazeres de casa e pedaladas pela Carbono Zero. Hoje, procuro viver da maneira que eu gosto, o que tinha que plantar já plantei. Tenho um filho de vinte e cinco anos que me apoia nas minhas aventuras e agora quero curtir minha vida de forma saudável e sem estresse.

Quando comecei a trabalhar pela Carbono Zero era como freelancer e não pedalava todos os dias. A partir do momento que recebi a proposta de pedalar como fixa, tive que me conscientizar que teria que ir para a rua todos os dias, com sol ou chuva. Então, resumindo, você tem que gostar de pedalar, como qualquer outro esporte, independentemente do tempo temos que enfrentar os desafios. Eu saio todos os dias e mentalizo que vou treinar, assim trabalho meu psicológico e fica mais fácil encarar o dia.

T. Você é uma maratonista reconhecida no meio. Cumpriu com êxito a Meia Maratona de Buenos Aires, fez pódio em outros eventos, como o Circuito Caixa, em 2012, por exemplo. Realizou a XX Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro, o Indomit Ultra Trail Costa Esmeralda, o IV Desafio do Forte de Itaipu, um ano atrás, e de igual maneira se desafia em corridas de aventura como a Patagonia Run, em San Martin de los Andes, Argentina. Como foi que a bike ganhou um lugar especial em sua vida tão cheia de ação?

M. Maratonas e Ultras requerem muitos treinos. Precisamos de muita disciplina para conquistar longas distâncias, principalmente quando se trata de terrenos montanhosos. Como tenho histórico de lesões, inclusive com cirurgia no joelho, uso a bike como um complemento para reforçar meus treinos. A bicicleta ajuda no cardiovascular, no fortalecimento das pernas, lombar, abdômen, enfim, em tudo que precisamos nas corridas, melhorando assim minha performance.

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T. A atividade de Bike Courier é bastante exigente no que tange à velocidade e ao cuidado com os conteúdos das entregas. Quais foram os principais desafios que você encarou para atuar nesta área? Que cuidados com a saúde você toma para estar pronta para a rotina das ruas?

M. O trabalho de bike courier tem sido um diferencial, no que tange às entregas. Não só pela preocupação com o meio ambiente, mas procuramos ser diferentes quanto a maneira como o profissional trabalha.

Me preocupo em atender bem o cliente, de uma forma que possamos interagir para poder finalizar bem as entregas. Os documentos são sempre bem protegidos, para chegar sem danos, pois a responsabilidade é grande. No pedal, temos que ter todo o cuidado, pois a velocidade não é o importante, temos que ter responsabilidades com segurança pessoal e com os pedestres. Respeitar o trânsito é essencial para um pedal seguro.

O biker tem que estar bem preparado fisicamente. Procuro me alimentar, hidratar bem e sair preparada para eventuais mudanças de tempo. Protetor solar diariamente é fundamental.

© Arquivo Pessoal

T. Como diz o Leonardo Lorentz, “a Carbono Zero foi criada com o singelo propósito de mudar o mundo”. Em seu ponto de vista, Mabilia, como a bike pode contribuir para mudar nossas vidas, cidades, país, enfim, nosso mundo?

M. A bike traz muitos benefícios para nossa saúde e para o meio ambiente, a única coisa que falta é vontade e acreditar nas mudanças. As pessoas precisam acreditar que simplesmente mudando os hábitos, passamos a ter uma saúde e um mundo melhor. É certo que as cidades precisam melhorar e muito os meios para podermos transitar com segurança, pois a mudança e incentivos tem que vir das autoridades também. Teria que haver mais projetos e infraestruturas para usarmos as bikes, como mais ciclovias, estacionamentos e um trabalho direcionado para os motoristas se conscientizarem que temos direito às vias públicas.

T. Mabilia, nossa revista tem milhares de leitoras que irão se inspirar com a sua história de vida. Pedimos que deixe aqui uma mensagem a todas elas, por favor.

M. A vida é um caminho de altos e baixos, muitas cobranças, violências e ninguém está imune de tais fatos. A melhor forma de preservar nossa saúde é buscar alternativas de controlar nossa ansiedade e estresse, buscando um momento para relaxar.

“As pessoas precisam acreditar que simplesmente mudando os hábitos, uma saúde e um mundo melhor.”

Saia de casa e mexa-se, corra, caminhe ou pedale.

Faça o que gosta, mas não se deixe abater!