Paris – Roubaix

Conhece uma prova de bicicleta mais icônica que o Paris – Roubaix? Abril é por excelência o mês das clássicas da primavera, Volta a Flandres, Paris – Roubaix, Scheldeprijs, Amstel Gold Race, Fleche Wallonne e Liége-Bastogne-Liége. No que se refere às clássicas que fazem parte dos cinco monumentos, a Milão – San Remo realizada em 18 de março teve como vencedor Mathieu Van Der Poel (Alpecin-Deceuninck), na Volta a Flandres no dia 2 de abril, o triunfo pertenceu a Tadej Pogaçar (UAE-Team Emirates), segue-se no dia 9 de abril Paris – Roubaix, a 23 Liége-Bastogne-Liége, com a Il Lombardia a realizar-se em final de temporada no dia 7 de outubro. 

© A.S.O.

Apelidado de “Inferno do Norte”, a 120.ª clássica Paris – Roubaix tem partida de Compiégne e final no Velódromo de Roubaix depois de percorridos 256,6 km. O percurso inclui 30 troços em paralelepípedos (Pavé), que depois de catalogados pelo grau de dificuldades, conta com três de 5 estrelas, Trouée d’Arenberg com 2.300 metros, Mons-en-Pévéle com 3.000 e Carrefour d l’Arbre com 2.100 metros, seis de quatro estrelas, Quiévy à Saint-Python, Haveluy à Wallers, Hornaing à Wandignies, Tilloy à Sars-et-Rosiéres, Auchy à Bersée e Champin-en-Pévéle, catorze de três estrelas, cinco de duas e duas de uma estrela.

Quanto ao percurso deste ano, não difere muito dos anos anteriores e apresenta poucas surpresas, as alterações pontuais surgem os primeiros 120 km, muito longe da meta em Roubaix. A partida em Compiégne tornou-se uma tradição, o que acontece desde 1977, cidade situada a 85 km de Paris, a meta está instalada no Velódromo de Roubaix, final da clássica desde 1943. Os primeiros 100 km são percorridos em asfalto, o primeiro troço em paralelepípedos surge aos 96 km, em Troivilles à Inchy, seguem-se os setores 29 e 28, este de quatro estrelas em Quiévy à Saint-Python. A Floresta de Wallers, designada por Trouée d’Arenberg, é considerado como um troço ícone do Paris – Roubaix, com cinco estrelas a 95 km do final. O pelotão avança para mais 19 troços, dois dos quais de cinco estrelas, na parte final lá está o mítico Carrefour de l’Arbre a 17 km do Velódromo. Ultrapassadas as principais dificuldades surgem as secções de Gruson, Hern e Roubaix a 500 metros da chegada, o que significa que os ciclistas têm que dar uma volta e meia ao Velódromo.

Equipes de 2023. Além das 18 World Teams, completam o pelotão, Israel-Premier Tech, TotalEnergies, Bingoal-WB, Lotto-Dstny, Uno-X, Flandres-Baloise e Q36,5, com 175 corredores a alinharem à partida. Na ausência de Tadej Pogaçar, surgem com candidatos Wout Van Aert, Mathieu Van der Poel, Christophe Laporte, Matej Mohoric, Mads Pedersen, Stefan Kung, Filippo Ganna, Dylan Van Baarle, Kasper Asgreen, Jasper Stuyven e Sep Vanmarcke. Dos 16 portugueses que participaram no Paris – Roubaix, apenas seis chegaram ao fim, o melhor resultado pertence a Maria Martins na 19.ª posição em 2021, seguem-se 27.º Acácio da Silva em 1983, 58.º Rui Costa em 2009, 61.º Nuno Bico em 2018 e 98.º Alves Barbosa em 1957. André Carvalho (Cofidis) e Rui Oliveira (Emirates) são os portugueses pré-inscritos. Ambos participaram na edição de 2021 mas não conseguiram chegar ao fim.

© A.S.O.

A mais antiga do mundo

 “Paris – Roubaix começa como uma festa, mas termina como um pesadelo”, escreveu o jornalista Guy Lagorce, que foi editor chefe do jornal L’Equipe. O “inferno do Norte” não pode ser comparado a nenhuma outra competição, talvez por isso seja uma corrida especial para muitos corredores, entre os quais Nelson Oliveira, que participou por cinco vezes. As passagens por Trouée d’Arenberg, Mons-en-Pévéle e Carrefour de l’Arbre, constituem obstáculos terríveis para os ciclistas, que os conduzem à fama eterna para os amantes do ciclismo.

Paris – Roubaix, na sua 119ª edição, é a clássica mais antiga do mundo. A primeira edição data de 19 de abril de 1896, teve a extensão de 280 km e como vencedor Josef Fischer (ALE) que gastou 9.17,00 h, seguido de Charles Meyer (DIN) a 25 minutos e Maurice Garin (ITA) a 28 minutos. Dois fabricantes de têxteis de Roubaix, Theo Vienne e Maurice Perez, foram os impulsionadores da corrida depois de terem acompanhado a clássica Bordéus – Paris, que entretanto desapareceu. Levaram o projeto ao jornal francês Le Vélo e o seu editor, Victor Breyer decidiu reconhecer de bicicleta o percurso proposto. Naquele dia as condições meteorológicas foram terríveis e Breyer, hipotérmico e exausto, conseguiu chegar a Roubaix. A sua conclusão foi de que seria muito perigoso organizar uma corrida de ciclismo naquelas condições e com tão larga quilometragem, mas decidiu mesmo assim ir em frente.

© A.S.O.

Assim, Paris – Roubaix tornou-se rapidamente uma corrida popular, imbuída de heroísmo. Muitas histórias heroicas foram escritas, nas quais se destaca o vencedor, mas não são esquecidos os perdedores. A história do neerlandês Theo De Rooij em 1985 é significativa, quando se encontrava sozinho e com larga vantagem a caminho de Roubaix, sofreu uma queda e lá se foi a vitória. No final da corrida o repórter da televisão americana CBS, perguntou em direto; «Esta corrida é um absurdo. Você trabalha que nem um animal, não tem tempo para mijar, faz xixi nos calções, segue em frente, escorrega na lama e cai, levanta-se, prossegue e acaba por desistir. É muita merda e quer voltar a correr de novo?». Resposta de Theo De Rooij; «Claro, que quero correr de novo, é a corrida mais bonita do mundo», De Rooij nunca conseguiu vencer a Paris- Roubaix. É difícil descrever por palavras o “Inferno do Norte”, uma corrida de sofrimento, quedas, furos e avarias, uma autentica agressão ao corpo e à mente, que os ciclistas anseiam por correr. Henri Pélissier afirmou em 1919; «Não é uma corrida de ciclismo mas uma peregrinação», ou como Tom Boonen também a definiu; «Quando tomo banho em Roubaix, começo a preparar-me para o próximo ano».

Um paralelepípedo. É isso que o vencedor recebe como prémio, uma corrida que levou os fabricantes de bicicletas ao desenvolvimento do quadro, rodas, pneus mais largos e travões duplos. Ao longo do percurso encontram-se vários postos de assistência, principalmente com rodas suplentes para eventuais trocas por furos ou avarias. Dois ciclistas são recordistas com quatro vitórias, Roger De Vlaeminck (BEL) vencedor em 1972, 1974, 1975 e 1977 e Tom Boonen (BEL) primeiro em 2005, 2008, 2009 e 2012, seguem-se com três triunfos, Octave Lapize (FRA) Gaston Rebry (BEL), Rik Van Looy (BEL), Eddy Merckx (BEL), Francesco Moser (ITA), Johan Museeuw (BEL) e Fabian Cancellara (SUI).   

Prova feminina

As mulheres de aço. Paris – Roubaix também pode ser considerado um evento brutal, hediondo e muitas vezes demasiado cruel, talvez por isso as mulheres demorassem muito tempo a entrar na corrida. A 5 de fevereiro de 2020, foi dada luz verde para que a competição fosse alargada a setor feminino, numa altura em que a pandemia tirava algum brilhantismo ao ciclismo, obrigando ao cancelamento de todas as competições nesse ano. A primeira edição da Paris – Roubaix feminina, realizou-se a 2 de outubro de 2021 e foi uma corrida memorável, com as estradas cheias água e lama, que resultaram em quedas e algumas fraturas. O triunfo pertenceu à britânica Elizabeth Deignan (Trek-Segafredo), seguida de Marianne Vos (Jumbo-Visma a 1,17 m e Elisa Longo Borghini (Trek-Segafredo) que gastou mais 1,47 m.

Na ocasião, entre as 132 ciclistas que alinharam à partida, encontrava-se a ribatejana Maria Martins (Drops-Le Col) que terminou em 19.º com mais 5,55 m que a vencedora, com apenas 61 corredores a chegarem ao fim. Para a história fica a presença de uma portuguesa natural de Moçarria, concelho de Santarém. O ano passado o triunfo pertenceu à italiana Elisa Longo Borghini (Trek-Segafredo), com Lotte Kopecky (SD Worx) e Lucinda Brand (Trek-Segafredo a completarem  pódio.   

Esse ano a corrida tem início em Denain e final em Roubaix, depois de percorridos 145,4 km, um percurso mais longo que nas edições anteriores, com 17 troços em paralelepípedos, que incluem Mons-en-Pévéle e Carrefour de l’Arbre com cinco estrelas e três de quatro estrelas. Das 23 equipas que vão alinhar à partida, destacam-se os nomes de Lotte Kopecky, Lucinda Brand, Marianne Vos, Elisa Cahbbey, Victoire Berteau, Silvia Persico, Pfeiffer Georgi, Elisa Longo Borghini, Floortje Mackaij e Grace Brown, como candidatas aos primeiros lugares.

Histórico dos Campeões

  • 2022 Dylan Van Baarle (NED)            2022 Elisa Longo Borghini (ITA)
  • 2021  Sonny Colbrelli (ITA)               2021  Elizabeth Deignan (GBR)
  • 2020 Não se realizou
  • 2019  Philippe Gilbert (BEL)
  • 2018  Peter Sagan (SKV)
  • 2017  Greg Van Avermaet (BEL)
  • 2016  Mathew Hayman (AUS)
  • 2015  John Degenkolb (ALE)
  • 2014  Niki Terpstra (NED)
  • 2013  Fabian Cancellara (SUI)
  • 2012  Tom Boonen (BEL)