Um estudo, de nível internacional, realizado com atletas que participaram nos Jogos Olímpicos Rio 2016 mapeia as lesões mais comuns em atletas de alto rendimento

Médicos radiologistas brasileiros participaram de pesquisa internacional que caracterizou as lesões diagnosticadas na Olimpíada. Publicado na Radiology, o estudo traz os dados de 1.015 exames de imagem realizados durante o evento.

Um grande receio dos atletas que sonham em representar o seu país na maior competição esportiva do mundo é ter o seu desejo, construído ao longo de um ciclo de quatro anos com treinos de alta intensidade, interrompido por uma lesão. Um estudo publicado na edição atual da revista científica Radiology mostra que mais de 700 atletas tiveram ao menos uma lesão diagnosticada durante os Jogos Olímpicos de Verão do Rio 2016.

Durante a maior competição esportiva do planeta, foram realizadas 304 radiografias (30% do total de exames), 104 ultrassonografias (10,2%) e 605 exames de ressonância magnética (59,8%), na Clínica Médica da Vila Olímpica. Os dados obtidos foram categorizados de acordo com sexo, idade, país participante, tipo de esporte e parte do corpo. Ao todo, foram diagnosticadas 1.101 lesões entre os 11,2 mil atletas, de 206 países, de todas as modalidades esportivas. Os esportes que mais ocasionaram lesões musculares foram atletismo, futebol e levantamento de peso, enquanto ferimentos por estresse foram mais comuns no atletismo, vôlei, ginástica artística e esgrima. Já as fraturas foram mais identificadas no atletismo, hóquei na grama e ciclismo.

Esses são os principais dados trazidos no estudo Sports Injuries at the Rio de Janeiro 2016 Summer Olympics – Use of Diagnostic Imaging Services – que reuniu pesquisadores dos Estados Unidos, Noruega, França, Alemanha e Brasil. Dentre os coautores brasileiros estão os médicos radiologistas Rômulo Domingues e Abdalla Skaf, da Clínica Multi-Imagem, CDPI – Clínica de Diagnóstico por Imagem e Alta Excelência Diagnóstica, laboratórios do Grupo Dasa, um dos mais importantes players de saúde do país e quinta maior empresa de medicina diagnóstica do mundo. O Brasil também está representado no estudo pelo cirurgião ortopedista João Grangeiro, do Comitê Organizador do Rio 2016.

De acordo com o radiologista Abdalla Skaf, a ressonância magnética foi responsável por 6 em cada 10 diagnósticos por ser o exame de imagem com alto potencial para detectar lesões em tecidos moles, como músculos, tendões, articulações e ligamentos. “É um método de alta sensibilidade, essencial para diagnósticos extremamente precisos”, afirma.De acordo com Ali Guermazi, professor e vice-presidente do Departamento de Radiologia da Boston University School of Medicine e autor principal do estudo, os atletas treinam para chegar aos Jogos Olímpicos no auge de sua condição física, no entanto, esses competidores de elite estão em risco de sofrer lesões devido à alta exigência de performance”, disse Guermazi em comunicado da Sociedade Norte-Americana de Radiologia.

Lesões musculares no atletismo e no futebol

O estudo mostrou que o atletismo e o futebol são as modalidades mais propensas à lesões musculares, sendo que 83,9% afetaram os membros inferiores, principalmente os músculos da coxa. As lesões musculares agudas atingiram 77 atletas, sendo que mais da metade (54,3%) foi de grau 2, enquanto as de grau 1 corresponderam a 30,9% e as de grau 3 representaram 11,1% dos casos diagnosticados. Considerando os atletas do atletismo, 64,1% das lesões foram diagnosticadas em competidores de provas de curta distância.

“A maior prevalência de lesões foi observada entre os velocistas porque, diferentemente do que ocorre com os atletas de provas de média e longa distância, que correm em uma velocidade constante, o corredor de curta distância necessita de grande explosão muscular, o que acaba aumentando o risco de se machucar”, comenta Abdalla Skaf.

O especialista acrescenta que, em muitos casos, o acompanhamento dos atletas por meio de exames de imagem tem o potencial não só de diagnosticar lesões, como também de ajudar a preveni-las. No entanto, para algumas modalidades, como o futebol, essa estratégia é menos eficaz. “A nossa experiência mostra que os jogadores de futebol costumam se lesionar após um trauma ou um simples movimento durante o jogo. Poucas vezes este atleta se machuca como consequência de uma lesão que poderia ter sido diagnosticada antes da partida”, pontua Abdalla. O trabalho mostrou também que 84% das lesões por estresse (resultantes de esforço repetitivo ou uso de força excessiva), foram mais comuns no atletismo, vôlei, ginástica artística e esgrima. Já as fraturas foram mais comuns no atletismo, hóquei e ciclismo. Atrás apenas do hóquei na grama, o ciclismo (road) foi a segunda modalidade com o maior número de fraturas. Houve, inclusive, duas fraturas diagnosticadas na parede torácica.

O estudo publicado na Radiology faz parte de uma série de artigos. Outros três trabalhos foram recentemente divulgados pela revista científica British Journal of Sports Medicine.Em geral, durante as duas semanas da competição, os exames de imagem auxiliaram no diagnóstico de lesões em 6,4% dos atletas. Os autores concluem que o resultado positivo obtido com a utilização de ressonância magnética e ultrassonografia, é um indicativo de que é válido que organizadores de futuros eventos olímpicos ofereçam novamente exames de imagem. A próxima edição dos Jogos Olímpicos de Verão será realizada em 2020, em Tóquio.

Participaram na elaboração desta matéria:

Ali Guermazi, MD, PhD
Daichi Hayashi, MD, PhD
Mohamed Jarraya, MD
Michel D. Crema, MD
Roald Bahr, MD, PhD

Frank W. Roemer, MD
Richard G. Budgett, MD
Torbjorn Soligard, MS, PhD
Lars Engebretsen, MD, PhD

Do Brasil:
João Grangeiro, MD
Romulo Domingues, MD
Abdalla Skaf, MD

Infográficos: Thaís Bueno – Agência Bowler