Kátia Soares de Assis está à frente da Kepp’s Bike Shop, de Jundiaí-SP. Vanguardista que é, tornou-se empresária do ramo da bicicleta há 10 anos, formou-se em Educação Física e, mais recentemente, tornou-se uma das poucas mulheres que fazem Bike Fit no Brasil. Na entrevista a seguir, Kátia fala sobre sua preparação para se tornar Bike Fitter e a importância de haver mais mulheres exercendo esta profissão no Brasil, já que se trata de um mercado predominantemente masculino.

Há quanto tempo você trabalha no mercado de bicicletas? E como começou neste ramo?

Comecei no ramo há 10 anos. Sempre gostei de esporte e queria abrir um negócio próprio voltado para o ramo esportivo. Após uma análise pela região e consulta ao Sebrae, resolvemos montar uma loja de bikes, peças e acessórios. Como eu estava à frente do negócio, logo a loja começou a ser frequentada por mulheres, crianças e famílias em geral, e não apenas pelo público masculino.

A partir daí, começamos aos poucos a fazer pedais aos domingos, pedais noturnos e cicloviagens, sempre incentivando a pedalada e o uso de equipamentos de segurança. Como a rotina de pedais foi aumentando, bem como o envolvimento com a bike e conhecimento melhor das tecnologias envolvidas, comecei a participar de algumas competições amadoras de MTB, como GP Ravelli, Maratona de Tietê, Copa FBR e Desafios de Estrada no estilo Audax.

Como e quando surgiu seu interesse no Bike Fit?

Durante a faculdade, como já tinha a loja de bike, eu me interessei por biomecânica, mas não encontrei um curso voltado para a biomecânica do ciclismo. Já ouvia falar sobre o Bike Fit, mas só de forma amadora, a exemplo desses oferecidos pela internet. Com o passar do tempo, a procura por esse serviço começou a surgir, e como não há muitos profissionais no mercado, vi a necessidade de me especializar.

Como foi sua preparação para esta profissão: cursos, treinamentos, equipamentos…

Durante a construção da nossa loja, já tinha idealizado uma sala destinada ao estúdio de Bike Fit. Como tinha o espaço físico, comecei a procurar por alguns cursos, mas eram escassos, amadores, ou direcionados para uma marca específica de bike, onde somente lojistas com exclusividade poderiam participar. Em 2015, através da Trek Bikes (marca americana que representamos aqui na loja) foi trazido para o Brasil o Sistema Trek Precision Fit, desenvolvido por profissionais altamente qualificados, como médicos do esporte, especialistas em biomecânica, educadores físicos e atletas profissionais de Ciclismo e MTB.

Com o uso de ferramentas desenvolvidas especificamente para esse método, trabalhamos individualmente com cada ciclista, e com base na anatomia, ergonomia e aerodinâmica, fazemos o ajuste da bike para que ela se adeque ao corpo, sempre objetivando o conforto, o prazer da pedalada e consequentemente o aumento de desempenho do ciclista.

Há bastante procura pelo serviço de Bike Fit?

Comecei a atender em 2016, e a procura está sendo muito boa, com bastante indicação dos que já fizeram. Faço um atendimento diferenciado, converso bastante com o ciclista para entender suas dúvidas e necessidades e após a avaliação física passo para o ajuste da bike.

Qual é o perfil dos seus clientes?

Na maior proporção, atendo um público masculino entre 30 e 59 anos. Mas o público feminino na mesma faixa etária vem aumentando.

Na sua opinião, qual é a importância do Bike Fit para o ciclista? O procedimento é indicado inclusive para ciclistas amadores / urbanos?

O uso da bicicleta tem aumentado bastante durante os últimos anos, seja como meio de transporte, lazer ou competição. O uso contínuo do equipamento, a longo prazo, pode ocasionar lesões se a bike não estiver ajustada de forma correta, pois quando pedala o ciclista faz muitos movimentos repetitivos. O Bike Fit vai ajudar nesse sentido, respeitando a individualidade de cada um. O ajuste correto da bike vai proporcionar uma melhor experiência na pedalada.

Para finalizar, qual a importância de mais mulheres se tornarem Bike Fitters, como você?

Não existem no Brasil muitas profissionais do sexo feminino. Muitas mulheres não procuram o Bike Fit, quando o profissional é do sexo masculino, muitas vezes por vergonha de expor algum desconforto nas regiões sensíveis e também porque o ciclista precisa ser tocado durante o processo de identificação/medição dos pontos de articulação. Por isso, acho importante que a ciclista tenha a opção de ser atendida por uma profissional do sexo feminino, especialmente quando há um estúdio reservado, como é o meu caso, atendendo com hora marcada e fazendo acompanhamentos por e-mail e whatsapp. Em um mercado predominantemente masculino, isto é importante para que o público feminino não se sinta intimidado a procurar estes recursos para melhorar o pedal.

© Kátia Soares de Assis