A temporada foi generosa em Santa Catarina para quem desejava sol e mar em abundância. A quantidade de dias com temperaturas acima dos 30° foi superior às expectativas, o que possibilitou a fruição e a chance de usufruir de tudo de bom que o verão traz consigo.

Pedalar, sem dúvida alguma, foi uma das opções de lazer ativo desta época, ainda mais quando a ação aproximava os veranistas dos lugares mais aprazíveis. É sabido que um dos melhores destinos de veraneio dos mares do sul é a Ilha de Florianópolis – SC com suas infinitas sugestões, tanto paisagísticas quanto gastronômicas.

© Therbio Felipe M. Cezar

A escolha, nesta oportunidade, foi pedalar pelo norte da ilha, recorrendo o bairro em que vivo, Jurerê Tradicional, e as demais localidades do entorno. E por que não fazê-lo com uma bike elétrica?

Ainda que seja mountain biker e cicloturista de origem, realizei um dia de pedal na simpática companhia de minha YunBike C1, com resultados bastante interessantes. Aliás, vale aproveitar o ensejo para dizer que mais e mais pessoas estão compreendendo que usar uma bike elétrica não é, em nenhuma hipótese, abrir mão do prazer de pedalar. A fim de otimizar minha carga, coloquei junto ao guidão minha bolsa para câmeras, barrinhas e demais utilidades.

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Havia milhares de carros buscando espaço para transitar, somados às motos e aos veículos de carga e transporte público, que competiam acirradamente entre si. Em meio a isto tudo, meu cauteloso pedalar me privilegiou aceder a cenários onde tais veículos não têm acesso. E quando têm, é bastante complicado.

A Praia do Forte, por exemplo, só é acessada por automóveis através de uma estreita rua com aclives bastante consideráveis, onde a paciência dos condutores se esgota nos primeiros 50 metros de subida sinuosa e restringida. É uma sensação reconfortadora passar pedalando tranquilamente entre os carros parados esperando sua vez de completar o caminho, vendo a expressão incrédula de condutores e passageiros ao notar aquele pequeno e delicado veículo deixando-os para trás.

Para quê pressa?…

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Não, não se trata de uma questão de ego, mas de inteligência. Ah, nem mesmo as skooters e motinhos tinham a mesma facilidade. A assistência ao pedal proporcionada pelo motor elétrico da C1 contribuiu para cumprir o aclive, porém, pedalar forte era uma exigência bem aceita naquele momento e da qual eu não poderia abrir mão.

A Fortaleza de São José da Ponta Grossa espera pelos visitantes no cume do monte e se apresenta como visita obrigatória a quem busca, além das belezas naturais e da vista incrível da ilha da Fortaleza do Anhatomirim, cultura e história do Brasil.

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Pausa para uma tapioca e uma água de coco junto ao cartão postal, tendo meu veículo ao lado de minha mesa, são luxos ainda para poucos, que ironia. Ao voltar pelo mesmo caminho, percebi que alguns daqueles veículos e seus condutores infelizes ainda se encontravam no mesmo ponto da subida. Um aceno ligeiro e cara de “pois é, amigo” foram tudo o que consegui dar, porque a descida pedia duas mãos no guidão, freios e olhos atentos.

Transitar pelas ruas calmas e extensamente arborizadas do bairro de Jurerê Internacional é um convite ao diletantismo sem pressa, aliás, para quê pressa? Os jardins bem cuidados são um exercício ao olhar minucioso em busca de boas ideias para o lar. Quase no centro do bairro, a ciclovia entre bosques, lagos e mansões é uma opção a mais, também utilizada por praticantes de pedestrianismo e famílias em passeio. Diga-se de passagem, todo bairro deveria ser assim. Não digo pela opulência dos casarões, mas pela oportunidade de ter à disposição lugares públicos de lazer, extremamente bem cuidados, seguros, sinalizados e plurais, com bancos à sombra e inúmeros espaços para, simplesmente, estar, quem sabe até ler um livro ou bater um papo fagueiro, longe do ruído dos veículos e da poluição.

© Therbio Felipe M. Cezar

O relevo plano nem sequer exigiu a assistência ao pedal e, em muitos momentos, nem me dei conta de que estava em uma bike elétrica.

“O lazer é um direito e deve ser amplamente difundido e realizado. Não importa como ir, ir é o que importa.”

De lá, segui para Canasvieiras, destino de 9 entre 10 turistas argentinos e uruguaios no verão. Passar pelos morros de Canajurê e da Crôa pedalando com a assistência elétrica foi algo realizado em poucos minutos, com chance de observar a Marina de Jurerê e a Igreja de São Francisco de Paula, patrimônio arquitetônico local.

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Em Canasvieiras, o tráfego de veículos é bem mais intenso e estacionar também é uma loteria. Mais uma vez, nada impede que eu avance até junto ao mar, me refresque e siga recorrendo o lugar. Chama a atenção pedalar por estes lugares por conta de que faltam estruturas cicloviárias que ampliem o número de ciclistas (usufruindo do lazer ou em deslocamento para o trabalho), uma lástima em espaços tão bonitos. Seria incrível que em tais localidades fossem vistas mais bicicletas compondo e compartilhando as vias. Sem dúvida alguma, este ainda é um atraso e desserviço da gestão pública e uma incongruência da própria comunidade.

De Canasvieiras até Cachoeira do Bom Jesus, uma aventura sem graça é pedalar pelo acostamento inexistente da Av. Luiz Boiteux Piazza. Trabalhadores se espremem entre orações e nenhum prazer a fim de cumprir os quilômetros entre este bairro e Canasvieiras ou no sentido contrário, em direção à Ponta das Canas, Lagoinha e Praia Brava. Mais uma vez, locais turísticos que privilegiam, se é que podemos dizer isso, apenas os veículos automotores.

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Lá, em Ponta das Canas, parei para mirar o oceano e pensar sobre os lugares que criamos. Além disso, sobre as condições que excluímos de nós mesmos e dos demais. Eu, ali, a bordo de meu veículo inteligente, brindado por minhas forças e pela engenharia a estar junto a lugares de sonho e que aprazem, assim como o ato de pedalar.

Olhei o meu celular acima do guidão para ver as horas e ele se mantinha carregado graças ao gadget, abaixo do painel de LCD no guidão, onde se encontra a entrada USB. Hora de tomar um café na Dolce Nero Cafés Especiais (que já foi matéria em edição anterior de nossa revista) e de lá seguir para a Praia dos Ingleses. Após a pausa e o excelente sabor do ouro negro, segui pela estrada da Cachoeira até encontrar a Rodovia SC-403 que leva até o maior bairro do Norte da Ilha, com aproximadamente 60 mil residentes.

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O mesmo desconforto para pedalar se sente nas “calçadovias” desregulares e nas vezes que se tem que ir à caixa de rolagem para seguir adiante.

Junto ao semáforo, a assistência elétrica colaborou para sair à frente dos carros sem muito esforço e acessar a mínima estrutura cicloviária existente para minha breve segurança. Por outro lado, não foi nada difícil acessar à areia da praia tanto na área das Gaivotas quanto no caminho que leva à Praia do Santinho, final de minha pedalada de ida.

“O relevo plano nem sequer exigiu a assistência ao pedal e, em muitos momentos, nem me dei conta de que estava em uma bike elétrica.”

Deixei a bike na casa de uns amigos franceses que lá vivem a fim de poder dar uma breve caminhada até o sítio arqueológico no costão, junto aos sambaquis, onde se encontram as inscrições rupestres que datam, aproximadamente, de 4 mil anos atrás. Após, parei para olhar e admirar os exímios surfistas que, livres, curtem suas “vias”, seu esporte e estilo de vida.

Voltei ao selim da YunBike C1 e comecei meu regresso à casa, auxiliado pelo farol de led dianteiro e pela lanterna com luzes alternadas na traseira, ambos itens de série neste modelo.

© Therbio Felipe M. Cezar

Ao final do dia e do pedal que começou às 6 h 30 min e foi até às 18 h 30 min, 69 km pedalados sem precisar recarregar a bateria da YunBike. O prazer e esforço de pedalar pela cidade não foram amputados pela escolha de uma bike eletricamente assistida. Penso que, assim como eu tive que mudar meus conceitos a respeito, ainda carecemos de um outro olhar sobre as bikes elétricas assistidas e as grandes e plurais possibilidades que elas abrem às pessoas, por exemplo, com mobilidade reduzida, que não é o meu caso mas poderia ser.

Temos que pensar de forma plural e sair dos nossos esquemas mentais egoístas.

O lazer é um direito e deve ser amplamente difundido e realizado. Não importa como ir. Ir é o que importa.

Viva a Bicicleta, sempre!