O acelerador é inclusivo

O que uma vez era um conceito distante já virou realidade. As bicicletas elétricas foram chegando aos pouquinhos e já invadiram as ruas das cidades.

Ter a ajuda extra do motor no pedal pode ser ótimo em muitas situações. Além disso, a bicicleta elétrica é uma boa alternativa para quem gosta de pedalar, mas fica limitado por conta de um problema físico, motor ou idade.

Então, dizer que uma bicicleta com auxílio elétrico ou bicicleta com acelerador de mão, não é bicicleta – ou que não deveria existir – é, no mínimo, desamoroso, desumano e egocêntrico.

Deixado isso pra trás, é importante conhecer as opções disponíveis, as aplicações, bem como a demanda requerida.

© E-MOVING

Modos

Como ponto de partida, existem basicamente dois formatos no modo da propulsão elétrica:

  •  O pedal assistido (PAS), também chamado de pedelec;
  •  E os com acelerador embutido na manopla.

Pedal assistido

No modo pedal assistido, como o nome sugere, o motor da bike é acionado assim que o usuário passa a pedalar. A partir de um ou mais giros no pedivela o sistema elétrico é ativado. A quantidade de giro necessária no pedivela para acionar o motor, bem como a força de arrancada, vai depender do modelo, marca e configuração selecionada.

Então, pra quem é leigo no assunto, entenda que, no sistema pedal assistido é necessário a ajuda do pedal para acionar o motor. Reiteramos isso porque ainda é comum ver pessoas decepcionadas, ao “embarcar” numa e-bike e descobrir que precisa pedalar pra acionar o auxílio elétrico. Se esse for o seu caso, você precisa duma e-bike com acelerador, e não uma com pedal assistido. Já no modo com acelerador, pode-se usar apenas o sistema elétrico sem pedalar. Funciona como em uma moto: basta girar a manopla que a bicicleta se movimenta.

E-MTB com motor no movimento central

As vantagens do sistema de pedal assistido é que ele proporciona uma sensação mais intuitiva, emulando muito bem a força do pedal. O sensor de cadência fornece assistência elétrica quando as pedivelas da bicicleta estão girando. Na maioria dos modelos de e-bike urbana, a assistência elétrica é determinada pelo modo selecionado. O motor fornecerá apenas a assistência que você selecionou e não aumentará ou reduzirá a potência com base na força do seu pedal. Então mesmo que você esteja pedalando leve ou forte, o nível de assistência será o mesmo. Já em sistemas mais avançados, como os usados em eMTBs, a assistência do motor pode variar de acordo com a força aplicada no pedal.

Acelerador de mão

Existem modelos com essa opção. Funcionando de maneira semelhante ao acelerador de uma moto ou scooter. O sistema é o mesmo: motor, bateria, painel… tudo igual ao do pedal assistido. A diferença está no modo como o motor é acionado, nesse caso, ao acelerar com a mão. É só acelerar e a bike anda.

Existem aceleradores com uma única velocidade, ou seja, não importa o quanto você gire a manopla, a velocidade será sempre a mesma. Já outros permitem um ajuste preciso entre potência alta e baixa.

Existem tipos, ou mecanismos, diferentes de acelerador nas bicicletas elétricas:

  • acelerador de meia manopla, que é acionado quando você gira a manopla, de maneira semelhante aos aceleradores das motocicletas*
  • acelerador de pressão, que funciona quando a pá do acelerador é acionada para frente com o polegar do ciclista*
  • acelerador de polegar, é acionado pressionando um botão para frente com o polegar*
  • acelerador com botão liga-desliga, no qual não há como ajustar a potência*

* Nesses casos a e-bike é considerada ciclomotor

© Mobele

Opção conjunta

Existe também as duas opções juntas. E-bikes que são equipadas com as duas funções, ou seja, contam com acelerador de mão e pedal assistido (Pedelec).

Qual escolher?

Depende muito. Para escolher o melhor modelo, leve em conta suas características, necessidades e exigências.

Você realiza trajetos mais difíceis e pesados? Não quer chegar muito suado no trabalho? Em um caso assim, talvez seja melhor optar pela opção do acelerador.

Se você gosta de pedalar e quer um pedal mais intuitivo, um modelo pedelec pode ser mais vantajoso.

E lembre-se que há a opção de bicicletas com as duas alternativas, dando ao ciclista mais liberdade de escolha.

 © Peugeot

Bike com acelerador é bike?

Não, não é! Mas e daí que não seja? Será que isso tem importância?

A verdade é que a tecnologia do pedal assistido, ou acelerador, chegou para todos. Para reduzir o esforço do ciclista e tornar sua vida muito mais fácil (mobilidade), ou mais desafiadora (esporte). Mas alguém que busca uma bicicleta com acelerador não deve ser recriminado. “Cada panela encontra sua tampa”, ou cada produto acaba por encontrar seu usuário. Ou morre, “não pega” e sai do mercado. O que importa mesmo nessa onda de mobilidade elétrica e, independentemente de nomenclaturas, ficar atento com a segurança de cada condutor.

Mas estes produtos todos que estão brotando a cada esquina, não deveriam ser proibidos? Talvez. A verdade é que não são. A responsabilidade civil é de cada um que conduz.

Como se sabe, a tecnologia da mobilidade elétrica chegou com força para mudar o mundo. E da mesma forma que um carro pode marcar 240 km/h no velocímetro, enquanto a velocidade mais alta permitida no país é 120 km/h, não significa que tirar o máximo da tecnologia disponível dele vai te manter vivo, independente se ele é elétrico ou não. A responsabilidade está no condutor. E recai sobre ele pelo registro de sua carteira de habilitação e documento de propriedade. Portanto, a conduta de se manter vivo não compete a nenhum fabricante ou importador, mas a responsabilidade é de cada um. Um carro parado não provoca acidentes, muito menos uma bicicleta encostada. Não estar emplacado, ou não possuir carteira de habilitação específica, e “ufa – não pagar o IPVA”, não significa livre conduto para passar no sinal vermelho, costurar na contramão, e, matar ou morrer. Não seja tolo.

Entenda, ter razão durante uma discussão de trânsito não te manterá vivo. Nosso trânsito mata em torno de 50 mil brasileiros a cada ano, e não escolhe quem tem razão ou não. Mesmo que na legislação de trânsito esteja escrito, “o maior é responsável pelo menor”, e pode se entender maior “em peso”, “em velocidade”, “em tamanho”, na hora do acidente, o corpo humano “mais exposto” é que vai levar a pior. Fique longe da arrogância e orgulho próprio. Mantenha sempre a cabeça fria, respire fundo e dê passagem. Se não tiver ciclovia, espere os carros passarem e ganhe a rua toda pra você. O mais importante é viver. Enquanto os carros correm sem saber o porquê, pratique o “medo”. Dê valor a vida, e aos seus.

Importante: não existe no Brasil legislação que proíba a venda ou uso de qualquer um desses produtos. O que existe é uma legislação “classificatória” que, dependendo de alguns componentes como acelerador ou não, potência maior ou menor e velocidade, vai equiparar as bicicletas e outros ciclos (monociclos, biciclos, triciclos) elétricos, a bicicletas comuns ou diferente disso, à ciclomotores. Daí a legislação de trânsito vai se aplicar dependendo da classificação do produto, e a legislação fiscal também. E, pasme, uma legislação não rege sobre a outra. Logo, apesar de bikes elétricas de pedal assistido, sem acelerador, de até 350Watts, e com limite de velocidade 25km/h, serem equiparadas na legislação de trânsito à bicicleta comum, na legislação fiscal elas não são. Logo, estão dotadas de motor auxiliar e são classificadas como motos. Seus impostos no Brasil são absurdos, equiparados a álcool e cigarro. E por quê? Isso dá outra história… Bom pedal!

Por: Ricardo De Féo