A corrosão dos componentes de bicicletas é uma questão intrigante para os donos e um carma para os mecânicos. Isso mesmo! Um carma, pois a cada vez que é necessário movimentar um canote ou suporte de guidão, isso gera um alerta, pois caso o componente seja produzido em aço ou alumínio certamente ele estará mais exposto a essa reação química que é a oxidação.

A oxidação é agravada com a presença constante do suor que possui grandes quantidades de sal e minerais, sem falar dos desodorantes e protetores solares que possuem agentes químicos; estes, misturados ao suor, formam um líquido altamente corrosivo. Imagine como fica a fita de guidão, local que acumula suor: não é nada agradável!

As peças de carbono estão isentas dessa situação, porém, os parafusos que fixam essas mesmas peças também estão sujeitos à oxidação.

Quando estou trabalhando em eventos de mountain bike ou ciclismo onde os ciclistas percorrem longos trechos por períodos extensos, sempre noto uma diferença grande entre as bikes dos profissionais e as dos amadores. Essa principal diferença está no trato com o equipamento.

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O acúmulo de suor, bebidas isotônicas, poeira e outros, caso não sejam removidos, geram uma sensação de “grude” nos cabos do freio, por exemplo, deixando-os menos eficientes.

Há alguns anos, na minha primeira vez trabalhando no Tour do Rio, fiquei atento ao trabalho dos mecânicos das equipes. Notei que ao receberem as bikes ao término de cada etapa, a primeira ação dos mecânicos é lavá-las, mas as bikes pareciam limpas. Porém, a intenção é remover suor e resíduos de isotônico, além, é claro, de deixar a bike brilhando para a próxima largada.

Ou seja, no trabalho como mecânico da Shimano eu aprendo muito, especialmente nas provas de estágio, como a Brasil Ride e o Tour do Rio. Foi assim que aprendi que a bike precisa estar sempre limpa, não somente por uma questão estética, mas para funcionar melhor e durar mais.

© Ronaldo Huhm

Funcionar melhor? Isso mesmo. O acúmulo de suor, bebidas isotônicas, poeira e outros, caso não sejam removidos, geram uma sensação de “grude” nos cabos do freio, por exemplo, deixando-os menos eficientes.

Os câmbios, com exceção dos eletrônicos, são acionados por cabos de aço que correm dentro de um conduíte revestido com um polímero sintético. Esse material metálico em contato com o suor, devido à sua composição ácida, fica exposto à oxidação que levará à corrosão das partes, causando o mesmo grude e fazendo com que as trocas fiquem lentas e imprecisas.

© Ronaldo Huhm

No caso do alumínio, material fortemente empregado na construção de componentes para bicicleta, ocorre um tipo comum de corrosão específica que é como uma ferrugem, mas solta uma casca branca e penetra por baixo da pintura.

Quando há a união entre aço e alumínio, a corrosão pode dificultar o trabalho do mecânico. Por exemplo, para mover um nipple de alumínio de uma roda para alinhá-la, e o raio é de aço, se houver corrosão pode ser uma missão impossível fazer girar o nipple.

Soltar um parafuso do suporte do guidão, que é exatamente a combinação fatal de aço e alumínio, também pode ficar difícil. Se adicionarmos  algumas  gotas de suor, ao passar do tem- po  as peças podem praticamente se fundir.

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Outro ponto comum são os manetes de freio STI’s. Pedalamos com luvas que por vezes se encharcam de suor. Muitas vezes, ao final do dia de utilização da bike ela volta “limpa” e não temos a preocupação de lavá-la, mas o suor ficará ali e irá agredir o material.

E mais, caso haja arranhões que expõem o material cru, ou seja,  sem a camada de anodização ou tinta que protege o alumínio, a possibilidade da ocorrência da corrosão é multiplicada e em alguns casos leva a uma corrosão em um formato que parece uma rachadura com um pó esbranquiçado que penetra por baixo da anodização e faz caminhos entre essa camada e o alumínio.

Essa corrosão é comum nos manetes, pedivelas, câmbios dianteiros e inclusive nos pontos de fixação dos suportes de garrafa. Nesses casos, é quase impossível remover os parafusos, criando um tremendo inconveniente.

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Lembrando que isso só ocorre quando a bike é utilizada e não é lavada após o uso. Por isso, ao término de uma etapa de uma volta ciclística, por mais que as bikes estejam relativamente limpas, todas são lavadas a fim de remover todo o resíduo de bebidas isotônicas, gel e suor que se aderem à bicicleta, criando uma camada que acaba gerando a oxidação, que leva à corrosão.

Esses cuidados se estendem a todos os equipamentos, como capacete, que se não for lavado devidamente tem suas espumas deterioradas pelo suor, e os óculos, que podem ter suas nerigueiras e lentes danificadas.

Moral da história: sempre dê pelo menos um banho na bike e nos equipamentos para tirar o excesso de sujeira, principalmente aquela que contém sal acumulado!