Viajar… Quem não gosta? Às vezes você se pega imaginando como seria conhecer aquele lugar bonito, mas distante, que você só conhece pelas fotos. Para muitos ciclistas, a primeira coisa que vem na mente é: quero pedalar lá! Sim, a magrela tem que ir junto, ou a viagem não será a mesma.

Viajar com a bike na bagagem: eis o desafio. Levar a bicicleta em um carro com o auxílio de um rack é relativamente simples, mas como levar as bikes numa viagem de ônibus ou avião? Muitas empresas não aceitam transporte de bicicletas montadas ou cobram muito por isso. Além desse transtorno, a bicicleta pode sofrer arranhões ou até danos nos componentes.

Então, como transportar a bike em segurança?

Mala-bike e bike-case

Para resolver este problema, ciclistas foram desenvolvendo seus métodos de transporte, que vão desde plástico bolha até os bike-cases, compartimentos de transporte específicos para bicicletas.

Um dos produtos mais comercializados é a mala-bike, acessório que tem se tornado item essencial para quem viaja longe com a magrela. O nome já diz tudo: trata-se de uma mala com compartimentos nos quais se abriga a bicicleta e suas partes. O número de compartimentos varia conforme os modelos. Há um compartimento maior que abriga o quadro com o guidão virado em 90°, outros que abrigam as rodas (às vezes, apenas a roda dianteira) e, em alguns casos, outros menores para guardar o câmbio traseiro, os pedais e outros componentes, quando for necessário removê-los. Isso depende tanto do modelo de mala-bike quanto do tamanho e tipo da bicicleta.

A maioria das mala-bikes são fabricadas com tecidos como náilon e cordura, e algumas empresas aproveitaram as possibilidades dos materiais para projetar e fabricar modelos dobráveis. Há modelos que podem ser invertidos (virados do avesso), possuindo um compartimento que abriga todo o tecido dentro de si, transformando uma mala-bike grande em uma pequena bolsa portátil. Outros modelos possuem base rígida ou rodinhas e alças que facilitam o transporte. O nível de proteção das mala-bikes varia, indo desde modelos com tecido simples até modelos com diversos tipos de forros protetores.

Já os bike-cases são rígidos, oferecendo maior proteção à bicicleta. São, porém, mais pesados e mais caros. Enquanto uma mala-bike custa algumas poucas centenas de reais nos modelos mais baratos, um bike-case tem preço inicial rondando mil pilas. Uma desvantagem do bike-case é que ele não pode ser dobrado. Alguns bike-cases também possuem rodinhas e alças.

Existem ainda outras embalagens para bicicleta, como a Helium Bike Case, um modelo que combina partes maleáveis, rígidas e bolsas infláveis nas laterais para proteger a bicicleta.

Improvisando, muitos ciclistas embalam as magrelas com papelão – a caixa da bike serve muito bem – além de espumas, plástico bolha e outros materiais. São opções baratas, que dependendo da situação, dispensam uma mala-bike.

Mala-bike dá certo?

Existem vários relatos, opiniões e experiências sobre mala-bikes e bike-cases na internet, além de embalagens improvisadas. Para o público que necessita delas, as mala-bikes são muito úteis, mas não garantem tanta proteção quanto os bike-cases. O problema dessa história é o tratamento dado para as bicicletas em transporte. O descaso dos funcionários com bagagens já causou danos a muitas bicicletas e ciclistas. Portanto, é bom tomar algumas medidas preventivas.

Como cada tipo e modelo de embalagem tem suas vantagens, desvantagens e aplicações, é importante avaliar sua situação para definir qual o tipo de transporte mais adequado para sua bicicleta.

As vantagens da mala-bike

“Para viagens internacionais não tem jeito, é a melhor maneira. Aí quanto mais rígida for, melhor; e não adianta economizar. Na minha opinião a melhor mala-bike é da Evoc e a da Thule, que são semelhantes”, comenta Paulo de Tarso, presidente do Sampa Bikers, que acrescenta: “a Solid Sport tem uma mala-bike bem legal, com preço bom e que protege bem a bike. A desvantagem é o tamanho e a falta de rodinhas para carregar. Mas o custo benefício é excelente”.

Uma vantagem da mala-bike na hora do embarque é a similaridade com uma mala, o que pode amenizar muita implicância da parte dos funcionários. “Há tempos trouxe uma bike Phillips desmontada dentro de uma caixa e tive algum problema para embarcar com ela em Congonhas. Com a mala-bike, não tive nenhuma intercorrência para trazê-la no bagageiro do avião, junto com a minha bagagem. No momento do despacho informei no balcão da TAM do que se tratava, e como ela é uma bolsa ‘padrão’ para transportar bicicleta, passou rapidinho e sem custo. Pelas vantagens que oferece, uso sempre a minha mala-bike”, relata Valter F. Bustos, do Museu da Bicicleta (MuBI) de Joinville – SC.

A facilidade de transporte das mala-bikes também é uma vantagem, já que conseguem compactar bem a bicicleta. Poder guardar sua mala-bike em um espaço relativamente pequeno também é uma vantagem. Alguns modelos dobráveis de mala-bike permitem guardar a mala no alforje da bike ou em um guarda-volumes.

Como último ponto positivo temos o baixo custo da mala-bike em comparação com os bike-cases, além da estética em relação ao plástico-bolha e à caixa de papelão.

Desvantagens da mala-bike

A maioria das mala-bikes são feitas de tecido. Essas embalagens servem para acomodar a bike desmontada e protegê-la contra arranhões, mas não é eficiente contra impactos ou peso. Esse cargo pertence aos bike-cases. Mala-bikes de baixa qualidade podem ser um desperdício de dinheiro devido a incapacidade de proteger a bike mesmo contra danos muito pequenos.

O professor Arnaldo, conhecido blogueiro e atleta, é usuário assíduo das mala-bikes e descreve sobre sua experiência com alguns materiais com os quais elas são confeccionadas, e a dificuldade em encontrar um equilíbrio entre confecção, custo-benefício e peso. “A mala-bike de nylon é uma das opções mais baratas e leves. Vazia, não ocupa o espaço maior do que um livro, e é a mais indicada para transporte no carro próprio. No entanto, quando usada com muita frequência, como é meu caso, não dura muito, considerando que desde o ano 2000, tenho acumulado mais de 400 competições e mais de uma centena de viagens por todas as partes do planeta. Para viagens de ônibus ou várias bikes no mesmo veículo, as malas confeccionadas em lona ou algum produto semelhante tem a vantagem de serem mais resistentes ao uso contínuo e não custarem tanto. Porém, ainda é necessário proteger bem as partes mais sensíveis da bike. Bom mesmo são as mala-bikes de fibra ou um misto dos três materiais, com barras internas de alumínio, que evitam mais danos à bicicleta; mas estas tem um custo bastante elevado, pois a maioria é importada. Além disso, são mais pesadas, se comparadas aos outros modelos citados, o que pode facilmente ultrapassar os 23 kg com a bicicleta e levar ao pagamento de excesso de bagagem em voos aéreos, além de ocuparem um espaço muito grande, situação que inviabiliza o seu transporte em carros pequenos”, afirma.

Durante o manuseio por parte dos funcionários de companhias de transporte, a similaridade com uma mala comum pode ser uma desvantagem, já que a fragilidade do conteúdo não fica claramente expressa. Cabe ao ciclista identificar bem sua mala-bike como portadora de objeto frágil, além de informar aos funcionários da companhia sobre o que se trata. “É engraçado andar com uma mala-bike. Os que sabem do que se trata te dão um sorriso de cumplicidade, mas a maioria te olha com o ar de pergunta: ‘O que é isso?’, e eu tenho vontade de prender um cartaz na mala escrito: É uma bicicleta! Boa viagem!”, ironiza Luli Cox.

Vantagens do bike-case

A principal vantagem dos bike-cases é a grande proteção oferecida para a bike por serem rígidos. Um bike-case pode ser um escudo de proteção para sua bicicleta durante viagens. As vantagens da similaridade com uma mala comum e da estética também se aplicam aos bike-cases.

Desvantagens do bike-case

A principal desvantagem do bike case é que ele não pode ser comprimido ou dobrado, tornando-o pouco prático para guardar. Seu peso também pode ser um incômodo. E ainda há a questão do preço, por ser um bom tanto mais caro do que uma mala-bike.

Quando a mala-bike ou bike-case é dispensável

“Acredito que a mala-bike seja um acessório importante para algumas pessoas, mas não para todos que viajam com suas bicicletas. Ela garante que a bicicleta chegará protegida e inteira ao seu destino, o que pode ser fundamental no caso de uma competição, mas seu peso e tamanho geralmente são complicações no caso do cicloturismo, onde menos é mais. Se vou realizar uma viagem que envolve ter que transportar a bicicleta de avião, prefiro usar uma caixa de papelão, que geralmente são jogadas fora pelas bicicletarias, de forma que posso me livrar dela assim que chegar ao meu destino, tendo a possibilidade de montar a bicicleta já no aeroporto e sair pedalando dali mesmo. Em minha volta ao mundo toda vez que precisava colocar minha bike num avião usava uma caixa de papelão e nunca tive problemas. Não tem segredo, protege muito bem e, geralmente, não custa nada”, relata Arthur Simões, de São Paulo – SP.

Será que você precisa de uma mala-bike? Para quem faz viagens com frequência, é sem dúvida um bom investimento. Para quem viaja com frequência e quer garantia de proteção, um bike-case de qualidade é um investimento melhor ainda. Mas talvez aquela viagem de fim de ano já tenha um custo alto e uma caixa de papelão pode suprir a sua necessidade. É importante avaliar bem!

Minha mala-bike ou bike-case não protege bem alguns componentes, e agora?

Alguns modelos de mala-bike protegem bem os componentes maiores, mas pode deixar a desejar com relação aos componentes menores e mais sensíveis.

“Em 1999, viajando para o Sulamericano de Triathlon com uma mala-bike de pano, cheguei ao destino com o garfo da minha bike torto. Em 2001, viajando para outra competição com uma caixa de papelão, tive a caixa aberta e alguns de meus pertences roubados. Em 2008, viajando para o mundial de Xterra no Havaí, com um case rígido de má qualidade, cheguei ao destino com ele quebrado”, diz o triatleta Rodrigo Lageani, de São Paulo – SP.

Paulo de Tarso acrescenta: “os maiores problemas que tenho em viagens nesse modelo de mala é quebrar gancheira e problemas no freio a disco, empenando o disco da roda. O ideal é tirar o disco da roda”.

Mas calma! Ainda dá para aumentar a proteção da sua bicicleta sem desmontar tudo. “O truque é fazer da bicicleta desmontada algo rígido, monobloco e o mais leve possível, de tal forma que aguente os desaforos do transporte e fique protegida”, diz a cicloativista Renata Falzoni, da capital paulista. Reforços de papelão, espumas, borrachas, cordas e similares podem acrescentar proteção no conjunto e evitar danos à bike.

Legislação

Há regras que devem ser consideradas antes de viajar levando a bicicleta. Existem limitações em relação ao que e quanto pode ser levado num avião ou ônibus. Uma caixa com uma bicicleta certamente não é pequena, portanto, é bom entender algumas regras para evitar dores de cabeça na hora da viagem.

De ônibus

A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) garante ao passageiro a franquia de até 30 kg no bagageiro do ônibus, mas o volume não deve ultrapassar 0,3 m³, nem ter mais de um metro em qualquer das dimensões. O passageiro pode levar consigo objetos de até 5 kg que caibam no porta-pacotes do ônibus.

As dimensões de uma mala-bike podem exceder essas medidas, mas isso não significa necessariamente que ela será retida no embarque, já que ela não ultrapassa o volume máximo permitido. Há empresas que aceitam transportar as bicicletas montadas, desde que estejam protegidas e não danifiquem outros objetos do bagageiro. A grande maioria, porém, exige que elas estejam desmontadas e embaladas apropriadamente (caixa de papelão, mala-bike, bike-case).

Como prevenção adicional contra danos na bike, pode ser útil pedir para colocar a bike no bagageiro por conta própria. Fica mais fácil fazer isso se você chegar cedo para o embarque. É importante lembrar que algumas empresas podem ter variações nas regras de transporte de objetos maiores. A verificação prévia é indispensável.

No avião

© EVOC / Divulgação

No caso do transporte aéreo, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) diz que a franquia dos voos nacionais para aeronaves com mais de 31 assentos é de 23 kg de bagagem. Pode-se despachar mais de um volume, desde que o peso total não exceda esse limite.

Caso o peso ultrapasse o limite da franquia, o transporte da bagagem ficará sujeito à aprovação da empresa, e haverá cobrança por excesso de peso. Artigos esportivos são incluídos na franquia, da mesma forma que uma bagagem comum.

A maior parte das empresas aéreas exige que os pedais sejam removidos e embalados, o guidão virado paralelo ao quadro e com as extremidades embaladas, e a roda dianteira removida e afixada no quadro de modo que não se solte. Algumas também exigem que a bike fique acondicionada em algum tipo de embalagem, como uma mala-bike.

Mas existem empresas mais amigas da bike. “Em viagens pelo Brasil a dica é não levar mala-bike e viajar pela TAM. Pode levar a bike montada, sem tirar as rodas, só com o guidão alinhado com o quadro e os pedais removidos, protegida, de uma forma que o funcionário do aeroporto consiga empurrar a bike. Viajo a mais de 20 anos assim e nunca tive problemas”, recomenda Paulo de Tarso.
A TAM é a empresa de aviação que acumula as melhores experiências – o que pode ser constatado em fóruns e blogs -, não só pelo transporte gratuito da bicicleta, mas também com o tratamento dado a ela.

As normas citadas acima para os voos com origem no Brasil. Para voos com origem em outros países, aplicam-se as normas do local de origem da viagem.

Lembretes e dicas para viajar com a bike

É muito importante verificar previamente as condições da empresa com a qual se pretende viajar para evitar problemas posteriores, além de pesquisar a reputação da empresa, segurança e relatos sobre tratamento dado às bikes. Isso pode evitar muita dor de cabeça.
Tenha em mente que uma mala-bike ou bike-case são de grande ajuda, mas ainda pode ser necessário tomar algumas medidas de proteção. Com isso em mente, certifique-se de que sua bike vai viajar bem protegida.

Outro lembrete importante é com relação aos pneus e outros itens que usem fluidos sob pressão a bordo de aeronaves. “Ao viajar com bikes, é imprescindível murchar os pneus para que os mesmos não explodam durante o voo. Recomendo deixar os pneus numa pressão de no máximo 15 psi” e nunca colocar cartuchos de CO² dentro do case. Além de proibido, o material pode explodir durante o voo e danificar não só sua bicicleta, como outras bagagens”, diz Rodrigo Lageani.

Mas não é necessário esvaziar completamente os pneus. Em alguns casos, isso pode resultar em prejuízo. “Deve-se tomar cuidado para não murchar os pneus demais porque quem usa líquido selante em pneus tubeless corre o risco de ficar sem”, recomenda Luli Cox.

Caso a bike tenha freios a disco, é importante colocar entre as pastilhas um calço que não permita que os pistões do freio se movam caso o manete seja acionado. Bikes com freio a disco, novas e na caixa, incluem esses espaçadores instalados. A nota fiscal da bicicleta também precisa ir junto, caso contrário, na volta de uma viagem ao exterior, a bicicleta pode ser taxada como produto importado, o que resultaria em pagar 60% do valor da bicicleta como imposto.

Problemas com a bagagem

Caso a bagagem sofra danos ou seja extraviada, o proprietário deve procurar imediatamente a empresa de transportes para resolver o problema, ou não será atendido posteriormente.

Extravios são comuns em viagens aéreas. Para ter sua bagagem encontrada e devolvida, é necessário apresentar o tíquete da bagagem, já que ele comprova a responsabilidade da empresa sobre ela (isso também é válido em transportes terrestres). Para realizar uma reclamação, o passageiro deve preencher um formulário chamado Registro de Irregularidade de Bagagem, abreviado por RIB. É possível que a empresa se recuse a preencher o formulário. Neste caso, deve-se reclamar diretamente junto à ANAC ou órgão responsável pela aviação civil no país onde se encontra o passageiro.

Para auxiliar na recuperação em caso de extravio, identifique a mala ou embalagem da bike com seu nome completo e alguma forma de contato.

Um último ponto: talvez os funcionários não conheçam bem as regras da empresa quanto ao transporte de bicicletas. Isso é bem comum. Luli Cox dá a dica: “os preços de transporte de bike variam de companhia aérea para companhia aérea e é importante ler e saber quais são as regras. Para muitas companhias aéreas a tarifa para o Brasil é diferente, e se você embarca em um aeroporto do interior que não está acostumado a despachar bikes o atendente pode não saber e querer te cobrar errado. Portanto, tenha em mãos as normas para se proteger”.

Paulo de Tarso complementa com relação a levar a bike com rodas instaladas nos voos da TAM: “É importante ter impresso em mãos as informações do site da TAM, no menu bagagens especiais, pois muitos funcionários desconhecem essa informação e é importante bater o pé se o funcionário pedir para tirar as rodas. Não precisa”.

São vários detalhes a considerar, mas quando se trata de proteger a magrela, todo cuidado é importante. Boa viagem para você e para a sua bicicleta!

Confira como utilizar mala bike