Chamados de veículos levíssimos, novos modais de transporte ganham espaço nos centros urbanos

Não faz muito tempo que grandes centros urbanos tiveram a mobilidade transformada com a presença de novos veículos. Patinetes e bicicletas elétricas têm aspecto de novidade por aqui, mas as primeiras iniciativas têm mais de uma década. Em 2008, os serviços de compartilhamento de bicicleta se espalharam pelo mundo, inclusive no Brasil. São parte de um conceito maior: a micromobilidade urbana. “É uma modalidade de transporte de curta distância, utilizada, em geral, para percursos de no máximo 10 km. Uma das vantagens desse modal é que ele preenche lacunas entre o transporte coletivo e o destino do usuário”, explica Valério Marochi, técnico de ensino no Centro de Mobilidade Sustentável e Inteligente do Sistema Fiep.

Os patinetes e as bicicletas são os veículos de pequeno porte mais conhecidos pela população, mas há outras opções. As principais características dessa família de veículos são o baixo peso, pequeno porte, versatilidade e sistemas de propulsão elétrica ou humana. Também fazem parte da categoria os hoverboards (skates elétricos de duas rodas), monociclos, motocicletas e scooters elétricas, e até mesmo quadriciclos elétricos. Em comum, todos contribuem para que as cidades se tornem mais amigáveis, aumentando as opções de deslocamento e diminuindo a poluição ambiental.

Fabrício Lopes, gerente executivo de Tecnologia e Inovação do Sistema Fiep, ressalta que o Paraná é um polo da indústria automotiva, sendo o primeiro estado a implementar uma eletrovia. “Estamos inseridos num ambiente que se mostra favorável a essas transformações na mobilidade urbana. O Sistema Fiep está alinhado com as demandas mundiais e atua no desenvolvimento de novas tecnologias para o avanço do setor”, observa.

Micromobilidade é tendência

A rápida expansão da micromobilidade urbana fez com que a indústria logo voltasse os olhos para uma nova forma de produzir. Segundo o Global EV Outlook 2019, em 2018 a frota de levíssimos no mundo passou dos 300 milhões. O maior mercado é a China, seguido dos Estados Unidos. Valério Marochi indica algumas razões para o rápido crescimento do segmento. “A substituição dos carros por veículos de até 10kg impacta diretamente na redução dos congestionamentos, da emissão de carbono e gases de efeito estufa”, diz. O próprio mercado automobilístico já se adapta a esse novo cenário: em 2018, a venda de carros sustentáveis no Brasil aumentou 20% em relação a 2017, de acordo com a Anfavea. “Do ponto de vista da eficiência energética, a micromobilidade é excelente. Comparativamente, com 1 kWh de energia, um patinete elétrico pode rodar aproximadamente 120 km, cerca de 100 vezes mais que um veículo de passeio convencional com a mesma quantidade de energia”, analisa Valério.

O estudo Tendências 2019/2020 elaborado pelo Observatório do Sistema Fiep inclui o assunto como um dos elementos transformadores dos negócios do futuro. Ao preencher lacunas de deslocamento nas cidades, ultrapassa os modismos e deve ser rapidamente absorvido pela indústria. Como a maior parte das peças e equipamentos vem de outros países, o Brasil pode concentrar esforços na produção desses insumos, criando oportunidades para o desenvolvimento da indústria. O cenário também é propício para novos modelos de negócios, como serviços de transporte urbano combinado.

Indústrias do Paraná já têm suporte para desenvolver produtos

Desde outubro do ano passado, o Campus da Indústria do Sistema Fiep abriga o Centro de Mobilidade Inteligente e Sustentável (CMSI). Segundo Fabrício Lopes, o foco da unidade é suportar e difundir a evolução da mobilidade, sua interação com a infraestrutura, as fontes de energia e com as tecnologias de conectividade. “O Centro ajuda a acelerar a modernização das indústrias do estado e de todo o país, formar profissionais e conectar todas as frentes de atuação tecnológica e de inovação ligadas à mobilidade sustentável”, explica Fabrício.

Por meio de palestras, workshops e cursos rápidos, o centro vem preparando a indústria para atuar no segmento de meios de transporte alternativos e eletrificados. “Com essas iniciativas, buscamos auxiliar na mudança do mindset dos profissionais envolvidos e da população em geral para entender e protagonizar a disrupção dos paradigmas automotivos e da mobilidade”, conta Valério Marochi.

A expectativa da indústria e da própria sociedade é que a micromobilidade seja um dos principais pilares de transformação do transporte urbano. De acordo com Valério, é importante pensar em políticas públicas específicas para consolidar esses modais. “Há problemas de infraestrutura urbana, como a ausência ou as condições ruins de ciclofaixas e calçadas. O mercado de manutenção também é um desafio, precisa de políticas para reposição, descarte e reciclagem de componentes. Por fim, é preciso pensar na sustentabilidade econômica dos modelos de negócio de compartilhamento de levíssimos”, finaliza o profissional.

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