Discussões não faltam no mundo das mountain bikes. Anos atrás muitos achavam um absurdo usar freios a disco, já que os v-brakes eram ótimos, quase perfeitos. Outro debate foram os quadros e peças em carbono. Mais atual é a discussão sobre os tamanhos de rodas, mas hoje apresento a vocês mais um tema bastante discutido aqui na Europa.

Este tema é, talvez, algo impensável para muitos atletas, mas um apoio bem-vindo para os ciclistas. A seguir, os modelos mais interessantes para 2014 dessa nova tendência, as e-mountain bikes. O que você acha?

Quem passeou em setembro pela feira Eurobike, na Alemanha, percebeu o crescimento e a presença das e-bikes nos estandes das principais marcas de bicicletas do mundo. E-mtbs não são mais produtos marginais oferecidos pelas grandes fabricantes de bicicleta, elas são vistas como um novo gênero e novo grupo no mundo dos pedais.

Tanto faz se Cannondale, Scott, Haibike ou Cube, quase todos os fabricantes tem em seus lançamentos modelos de mountain bikes com suspensão total, as conhecidas fulls, com motores elétricos. O motor elétrico parece ser uma nova e boa escolha para o uso esportivo. A Bosch, no momento, é a marca líder do mercado no fornecimento de motores elétricos para as mountain bikes e bicicletas em geral. O investimento é grande das empresas, a geometria das bicicletas tem sido constantemente desenvolvida, adaptada e aperfeiçoada ao peso dos motores elétricos fornecidos no mercado. O desenvolvimento de longe não parou e, com certeza, trará nos próximos anos modelos de motores mais potentes e leves.

Aqui na Alemanha foi realizada uma pesquisa junto aos usuários de mountain bike e a pergunta era: qual a sua opinião sobre as e-mtbs?

© Cube Divulgação

É preciso ter a cabeça aberta para novidades… A verdade é que ninguém freia a evolução e sempre haverá espaço para tudo e todos.

Veja o resultado da pesquisa:

8,53% achou terrível, pois isso não tem nada a ver com o mountain bike.
2,64%% achou tecnicamente interessante, mas isso poderia agravar o problema da aceitação do mountain bike na sociedade.
9,84% achou útil para determinados grupos: de ciclistas mais fracos ou pessoas com mobilidade reduzida.
12,29% achou uma opção como um complemento para o mountain bike.
66,70% achou que este é o futuro: o mountain bike é dinâmico e divertido.

Muitas conclusões podem ser tiradas a partir da pesquisa, por isso conversei com algumas pessoas, além de ler muitos comentários a respeito.

Um casal, com 73 e 74 anos, afirmou que há cinco anos também acharia o uso de e-mtbs um absurdo, mas com a idade mais avançada eles encontraram cada vez mais dificuldades com as montanhas mais altas, que anos atrás pedalavam com mais tranquilidade. Com o surgimento das e-mtbs, puderam novamente pedalar e curtir os antigos trajetos que percorriam no passado. Não é a questão de velocidade, mas a possibilidade de subir uma montanha sem esforço excessivo. Para eles, mountain bike com ou sem motor é melhor do que ficar em casa, sentado no sofá vendo televisão. Eles acreditam no sucesso do e-mtb, principalmente para pessoas com idade mais avançada e ativas que continuam curtindo os passeios pela natureza.

Um dos entrevistados também achou que a nova tendência não poderá ser freada e será desenvolvida cada vez mais, mas prevê problemas e rixas entre usuários de mtb e e-mtbs em trilhas. Não se pode comparar os dois tipos de ciclistas, pois as ambições esportivas de ambos diferem, mesmo que haja o respeito mútuo necessário.

Outro entrevistado fez uma consideração importante. Ele acha que deveria haver um tipo de curso básico para os usuários iniciantes de e-mtbs que subestimam os motores elétricos e sofrem acidentes, principalmente em trilhas e descidas íngremes.

Muitos acharam a tecnologia bem-vinda, principalmente para aqueles que têm algum obstáculo físico.

Um casal, com 73 e 74 anos… puderam novamente pedalar e curtir os antigos trajetos que percorriam no passado.

Seja mais um lançamento da indústria, uma moda passageira ou mesmo uma nova oferta para ciclistas, em minha opinião, não devemos perder tempo discutindo ferrenhamente lançamentos e novidades, o negócio é experimentar (ou não) e fazer aquilo que se gosta, respeitando todas as vertentes que têm surgido no mundo das bicicletas nos últimos anos e ser feliz.

© Cube Divulgação

Alguns modelos de e-mtb para 2014

© Cube Divulgação

A marca alemã Cube apresenta o E-Stereo, um modelo promissor com quadro de alumínio, baseado no modelo famoso Stereo 29. São duas versões: uma com rodas de 27,5 polegadas com 140 mm de suspensão, e outra com 29 polegadas e 120 mm de curso. A Cube também usa motores da Bosch. Custo na Alemanha a partir de € 3.000 (euros).

© Cannondale Divulgação

A Cannondale quer conquistar o mercado do e-mtb com o modelo Tramount. São dois modelos com o novo motor da Bosch com 400 Watts. O modelo top vem com o garfo Lefty de 100 milímetros de suspensão e grupo XT. Os modelos são encontrados apenas com rodas de 29 polegadas.

© Scott Divulgação

Scott tem em seu clássico E-Spark 710 um motor Bosch com desempenho de 250 Watts e bateria de 400 Wh. Características: quadro de alumínio, rodas 650B, suspensões com curso de 120 mm, freios e câmbios Shimano. A Scott oferece três tamanhos de quadros e pouco menos de 20 quilos de peso.

© Giant Divulgação

A Giant Full-E+ vem com um motor Yamaha SyncDriveC Next Generation Motor com 250 Watts e uma bateria de 400 Wh. O SmartLink, como é chamado o triângulo traseiro, tem 130 mm de suspensão para garantir as melhores condições durante a pedalada. A Full-E+, como todas as inovações da Giant, contará com rodas de 27,5 polegadas e estará disponível em duas opções. De acordo com o fabricante, o modelo top Full-E+ deve pesar 20,7 kg e custar, na Alemanha, € 4.999 (euros).

© Lapierre Divulgação

A Lapierre Overvolt FS tem suspensão fully com 140 mm de curso e um motor Bosch com 400 Watts de desempenho. A geometria da mountain bike com rodas 27,5 polegadas foi projetada para oferecer conforto e estabilidade durante a pedalada.

© Haibike Divulgação

Na Eurobike 2013 a marca Haibike apresentou 37 modelos com motores elétricos – a maior oferta de modelos e-bikes no mundo. Quem pensa em pedalar por terrenos bem acidentados, conseguirá sem problemas com o robusto modelo Nduro Pro com 180 mm de suspensão e novo motor Bosch.


E o Brasil vai encarar?

Texto: Anderson Ricardo Schörner

O mountain biking ganhou o público brasileiro. Divertido, desafiante, ao ar livre, aproximando amigos em meio à natureza, o mtb reúne em uma atividade várias características que agradam e atraem cada vez mais praticantes. Será que, assim como a maioria dos alemães que responderam à pesquisa, os brasileiros também aprovariam utilizar uma mtb elétrica? Dividir as trilhas com elas? Ou, assim como acontece com as mountain bikes comuns, os brasileiros as utilizariam até para andar na cidade, nos deslocamentos diários?

Como toda novidade, a e-mtb também enfrenta a crítica que a e-bike sofre: o auxílio elétrico é visto, por alguns, como algo que tira a essência da bicicleta, que é pedalar. Paulo de Tarso[1], presidente do Sampa Bikers, defende esta ideia: “em minha opinião, tudo que tem motor, mesmo que elétrico, é moto. Para quem não tem preparo físico é bom, mas o que adianta? Já tive a oportunidade de andar em uma dessas e é fantástico, mas para quem curte realmente a essência da bicicleta, perde a graça”.

Pedro Cury[2], editor do portal pedal.com.br, afirma que também, a princípio, não simpatiza com o conceito de e-mtb, mas analisa que há um lado positivo. “É preciso ter a cabeça aberta para as novidades. A princípio, as e-mtbs não me agradam em nada, pois acabam com o conceito de veículo movido a força humana e com o desafio físico do mountain biking. Mas, pensando por outro lado, é melhor compartilhar trilhas com e-mtbs do que com motos. Também pode ser uma opção muito mais voltada para o lazer do que para o esporte, atingindo outro público e fazendo crescer o mtb tradicional. Além disso, pode facilitar a volta aos treinos de atletas contundidos”.

Assim como a bicicleta elétrica pode garantir acessibilidade de mais pessoas ao sistema cicloviário, a e-mtb também pode ser encarada como uma possibilidade de integrar pessoas sem preparo físico, com limitações de mobilidade, como idosos e deficientes físicos, ao divertido mundo do mountain bike. Arturo Alcora[3], responsável pelo site escoladebicicleta.com.br e diretor presidente da União de Ciclistas do Brasil – UCB, pondera: “sou purista, mas reconheço que assistência de motor elétrico nas mtbs pode trazer muito mais praticantes para o esporte. A questão será estabelecer com bom senso limites técnicos que ofereçam prazer sem aumentar os perigos. Mais ou menos a mesma questão que nas bicicletas elétricas urbanas. Onde está o ponto de equilíbrio é uma resposta que só a prática dirá. Como diabético continuarei a recomendar o pedalar sem assistência de motor, mas como alguém que está perto da terceira idade não vou afirmar que um dia não entrarei nesta. A verdade é que ninguém freia a evolução e sempre haverá espaço para tudo e todos”.

Wagner Figueiredo[4], mais conhecido como Guiné, teve contato com a novidade em uma feira internacional e aposta que a e-mtb vem com tudo nos próximos anos. “As e-mtbs já estão pegando. Trata-se de uma mtb para quem quer fazer explorações em montanhas, ou seja, gasta-se toda a autonomia subindo e desce pedalando. Diversas marcas saíram na frente. Houve muitas críticas, mas em 2013, na Interbike, elas chegaram com tudo. Havia bikes com até 9 kg. Impressionante! Ainda são poucas, mas é certo que as e-mtbs vão pegar”.

Como será o futuro das e-mtbs, afinal? Como afirmou Fábio Zander: ao invés de perder tempo discutindo se isso é só apenas uma moda passageira ou algo que veio para ficar, o negócio é fazer aquilo que se gosta e respeitar todos os estilos.

Motor central

© Scott Divulgação

Uma das principais características das e-mtbs é que a maioria delas possui o motor central, também chamado de sistema mid-drive, ao invés de possuir o motor no cubo da roda dianteira ou traseira. Não é muito conhecido no Brasil, simplesmente porque quase não tem. O motivo deve ser econômico, já que os mid-drives são mais caros. Em situações de montanha, a opção do sistema mid-drive oferece algumas vantagens.

Enquanto o motor no cubo aciona a roda, o motor central atua aproveitando as vantagens das engrenagens da bicicleta, o que permite escalar aclives com mais facilidade e torque, exigindo menos energia da bateria por permitir o motor operar em regimes de rotação aonde o motor é mais eficiente.
A segurança e dirigibilidade também são otimizados com o motor central. Quando o motor está na roda traseira, a traseira da bike fica mais pesada, afetando o equilíbrio. Com o motor na roda dianteira, perde-se em tração nas subidas. O motor central, por sua vez, fica no ponto mais baixo possível do quadro da bicicleta, mantendo um centro de gravidade baixo e reduzindo o efeito do peso adicional ao manusear a bike.

No quesito manutenção, o motor central geralmente fica independente dos outros componentes da bicicleta, livre para a manutenção, diferente do motor no cubo da roda. Mas o custo da manutenção do sistema mid-drive é maior, já que costuma ter mais peças e ser mais sofisticado.

Também pode-se fazer uma abordagem do assunto com relação à nova norma do Contran. Para exemplificar, compare a diferença que há entre os americanos e europeus. Os americanos tradicionalmente utilizam e-mtbs sem considerar limites de potência do motor e velocidade. Eles usam motores com potências altas, que seriam equiparadas ao ciclomotor no Brasil. Já os europeus geralmente atentam para a limitação de potência, que em alguns países é de 250 Watts, em outros é de 350 Watts. Eles utilizam o sistema mid-drive para ter mais capacidade de subir, mantendo o respeito aos limites de velocidade e não alterando a potência do motor. Seria o equivalente às bicicletas elétricas equiparadas à bicicleta comum no Brasil.

Os mid-drives ganham no quesito eficiência nas velocidades mais baixas, ao subir uma montanha, por exemplo, quando os motores de cubo entram na zona de RPM ineficiente, e por isso são a preferência para as e-mtbs. Mas ao atingir velocidades de 20 até 25 km/h, os motores de cubo são até mais eficientes, por terem menos perda de energia.