Estamos em um momento crucial no que concerne a inserção da bicicleta no cotidiano da cidade de São Paulo, e agora é hora de tomarmos uma posição para rebater algumas coisas que temos ouvido e lido por aí. A grande polêmica da semana é a reportagem da Folha de S. Paulo desta segunda, 26 de novembro, que relata a “irritação” dos motoristas em relação à Ciclofaixa de Lazer de São Paulo, que opera na cidade aos domingos e feriados.

Segundo a reportagem da Folha, “os motoristas têm ficado ainda mais irritados” com a diminuição da velocidade nas vias em que a ciclofaixa funciona. “Eles fecham ruas e tiram uma faixa nossa. Isso enche o saco”, disse um dos entrevistados. Na mesma reportagem, a maior parte dos comentários é ainda mais agressiva em relação aos ciclistas e à ciclofaixa.

Após essas críticas repercutirem na internet, mais especificamente nas redes sociais, sentimos a necessidade de levantar alguns argumentos que mostram a importância da Ciclofaixa de Lazer para os cidadãos e para a cidade de São Paulo.

1. A ciclofaixa é um meio de lazer democrático

A Ciclofaixa de Lazer já recebeu mais de 1 milhão de pessoas durante sua existência, e é uma das diversões mais democráticas da cidade de São Paulo aos fins de semana. Não é necessário pagar para pedalar e a ciclofaixa recebe pessoas das mais variadas idades, classes sociais e regiões da cidade.

2. A ciclofaixa insere a bicicleta na paisagem urbana

Durante a semana, as bicicletas ficam ‘escondidas’ no meio dos carros e ônibus que circulam pela capital. Aos domingos e feriados, a bicicleta é onipresente e é um ótimo incentivo para quem ainda não pedala começar a pensar em pedalar. Além disso, a ciclofaixa aumenta a percepção dos motoristas sobre a importância da bicicleta na cidade.

3. A ciclofaixa é a porta de entrada para milhares de ciclistas

Milhares de pessoas que pedalam com frequência atualmente na cidade de São Paulo começaram a usar a bicicleta na ciclofaixa. O uso da ciclofaixa serve de incentivo para novos ciclistas e aumenta a confiança das pessoas que nunca pedalaram nas ruas.

4. A ciclofaixa incentiva o exercício físico e o comércio de rua

Em uma cidade tão carente de espaços para a prática de exercícios físicos, como parques e praças, a ciclofaixa se torna em um grande atrativo para quem quer queimar calorias e ter uma vida mais saudável. E, além disso, o comércio de rua e os bares e restaurantes que se encontram no percurso da ciclofaixa viram um aumento no número de consumidores aos domingos por conta dos ciclistas que por ali pedalam

5. A ciclofaixa é um ponto de partida, e não de chegada

Uma das maiores críticas à ciclofaixa vem dos próprios ciclistas mais experientes ou mais ativistas. Segundo esses ciclistas, a ciclofaixa é apenas uma alegoria que tira o foco de coisas mais sérias, como a construção de ciclovias e ciclofaixas permanentes. Nós discordamos. Por todos os pontos citados acima, entendemos que a ciclofaixa de lazer é uma iniciativa que está mudando a mentalidade dos paulistanos aos poucos, semeando uma ideia que ainda vai render muitos frutos em um futuro próximo.

Você se lembra de como era a cidade três anos atrás? Então, muita coisa mudou de lá para cá, e a ciclofaixa de lazer teve um papel muito importante nessa mudança. Com sua ampliação cada vez mais agressiva, poderemos começar a pensar na instalação de ciclovias permanentes em algumas vias, o que seria mais um grande avanço para a cidade de São Paulo.

A Holanda é um dos países mais povoados do mundo, com mais de 450 habitantes por quilômetro quadrado! Imagine se o sistema de transporte deste país fosse baseado em veículos motores, ou principalmente em automóveis, como acontece aqui no Brasil. Certamente eles já teriam chegado a um enorme colapso de trânsito, sem contar a questão ambiental!

Mas por que eles não tiveram um “apagão viário”? Porque há muitos anos, a Holanda, e mais especificamente a capital Amsterdã, concentra seu sistema de transporte nas bicicletas, uma das maiores invenções da humanidade.

Sendo a Holanda ainda um país de baixa altitude, sem grandes relevos, com políticas de incentivo governamentais para o uso da bicicleta bastante consistentes, bem como com uma situação na qual um holandês típico não mora a mais de 6 ou 7 quilômetros de seu trabalho e/ou escola, ao longo do tempo foi-se formando uma verdadeira “ciclocivilização”. Já imaginou?

Hoje, praticamente metade da população de Amsterdã realiza seus deslocamentos com uma bicicleta. Sim, você leu corretamente: 50% da população! São mais de 20 mil quilômetros de ciclovias espalhadas pelo país. Para se ter uma idéia, o estacionamento de bicicletas da Estação Central de Amsterdã comporta mais de 8 mil delas! E eles já estão até tendo problemas de congestionamentos de bicicletas e falta de espaço para estacionar as bikes!

Lógico que não podemos dormir como São Paulo e acordar como Amsterdã. Porém, nunca estivemos tanto no caminho como antes.

E, por fim, para quem acha que a ciclofaixa “fecha a rua e tira uma faixa nossa”, como disse o motorista na reportagem da Folha, é sempre bom lembrar que a via deve ser compartilhada por todos, e a bicicleta é um veículo reconhecido no Código de Trânsito Brasileiro.

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