“Essa mania de buscar lugares diferente para pedalar, baixar a trilha e partir para a aventura desperta aquela sensação desbravadora e, às vezes, nos coloca em situações um pouco inusitadas!”

Em mais uma de nossas pedaladas, nosso ponto de partida desta vez era Extrema, em Minas Gerais, a 110 km de São Paulo. É engraçado como, com essa pequena distância, mudamos de estado saindo da capital… O destino final seria Joanópolis.

Sempre ouvi falar da Cachoeira dos Pretos, mas o que eu queria mesmo era subir a Serra do Lopo. São quase 10 km de subida até a rampa de voo livre, chegando a quase 1.800 metros de altitude. O local é um conjunto de montanhas, que ainda tem a Pedra das Flores, a Pedra do Cume, o Mirante da Bauducco e a Pedra dos Cinco Dedos. Enfim, lindas imagens para guardar de lembrança lá de cima.

© Arquivo Pessoal

Joanópolis é uma microrregião de Bragança, e fica situada entre São Paulo e Minas Gerais, com uma população de 11 mil habitantes, divididas igualmente entre rural e urbana. A cidade ficou conhecida como a terra do lobisomem. Os moradores antigos garantem que viram o tal andando pelas ruas. Essa fama despertou a curiosidade dos visitantes e Joanópolis abraçou a ideia, colocando alguns bonecos espalhados pela praça e comércio local. A minha empolgação fez com que eu convencesse mais 14 pessoas a pedalarem lá, junto comigo.

© Arquivo Pessoal

Tínhamos uma certeza: era dia de escalar! A cidade de Extrema dá a impressão de ter só subida, e não das pequenas. Chegamos e o track já nos colocou para subir até o fim do asfalto. A placa Trilha da Bica indicou o verde que estava por vir. Pedalamos uns 100 m e a trilha sumiu. Entramos na mata fechada e ficou impossível pedalar entre pedras, rochas e subida. O jeito foi colocar a bike nas costas e intercalar entre carrega bike e empurra bike.

Com 1,5 km e 30 min passados, já ouvia o zum zum zum do motim de amigos querendo esfaquear o capitão do navio, que naquela situação era eu. Parei, fiz uma enquete e decidimos tentar mais um pouco. O relevo piorou e quando levamos 20 min para empurrar por 40 m, nos reunimos abaixo da bica (explicando a placa Trilha do Bicão) para a segunda convenção. Sofri impeachment por unanimidade, inclusive com meu próprio voto.

© Arquivo Pessoal

Voltamos e procuramos a via tradicional da subida da serra. Em 10 min as bicicletas já começavam a subir pela estrada de pedra. É uma escalada de 8 km com aproximadamente mil metros de altimetria, subida atrás de subida, alternando paralelepípedo e asfalto, com a cidade ficando lá embaixo e as montanhas começando a se desnudarem.

Chegamos à almejada rampa, e o templo fechado não permitiu vermos nada além das nuvens, repousamos no deck de madeira com aquele ar gelado das montanhas, na hora de partir pensei em sugerir seguirmos em frente para ver as outras pedras como indicava meu GPS, mas quando ameacei falar, recebi aquele olhar de fuzilamento de quem havia feito cross fit com a bike e decidi, quem sabe né, um outro dia voltar.

A descida começa no asfalto, com a placa sentido Joanópolis, e já se transforma em terra, pedra, buracos, avisos que só 4×4 passariam por lá, e nossas bikes com os freios apitando seguiram deslizando por 7 km.

© Arquivo Pessoal

Nossa parada seria no Capril do Bosque, um local de criação de ovinos e produção de queijo de cabra de altíssima qualidade. Sentamos em uma mesa do lado de fora, pedimos uma degustação e encontramos finalmente o lobisomem da região, num rótulo de cerveja IPA artesanal.

Hoje, pesquisando sobre a trilha, descobri que havia baixado um mapa para trekking e não para pedalada, mas isso não vou contar a eles… Deixe que descubram por aqui!