Nunca carregue nada nas costas (nem mesmo água), tudo deve estar atado à bicicleta. Sei que muita gente gosta de utilizar mochila de hidratação, mas este equipamento é equivocado para o cicloturismo por vários motivos: primeiro, coloca o peso muito longe do centro de equilíbrio da bike; segundo, a mochila abafa e aquece as costas, o que pode até provocar escoriações com o tempo; terceiro, este é o local onde há maior incidência de raios solares em uma pedalada, o que aquecerá a água mais rápido do que em uma caramanhola no quadro da bike; quarto e mais importante, todo o peso colocado nas costas do ciclista é transferido para a parte que está apoiada na bike, ou seja, aquela região já tão sofrida chamada pelas crianças de bumbum. 

É importante distribuir o equipamento para não desequilibrar a bicicleta ou forçar demasiadamente uma parte específica da bike. Quando fizer a distribuição, tente colocar o equipamento mais pesado sempre o mais baixo e o mais próximo possível do centro de gravidade da bicicleta, ou seja, do ponto onde está o movimento central – o eixo dos pedais. Desta forma, a bicicleta fica mais estável e com melhor dirigibilidade.

Por isto, geralmente os viajantes utilizam bolsas idênticas que ficam uma de cada lado do bagageiro e são chamadas de alforjes, como os usados pelos cowboys nos filmes de bang-bang. Mas cuidado, não encha a bike com muitas bolsas, é importante que o cicloturista seja capaz de carregar todo o seu equipamento sozinho e de uma só vez quando tudo estiver desmontado. Lembre-se que você poderá ter que caminhar para pegar um avião ou outro transporte público, talvez tenha que subir um lance de escadas para chegar ao seu quarto de hotel e, nestes casos, quem vai cuidar da outra metade de seu equipamento que ficou na rua?

Quando comecei minha volta ao mundo, utilizava um par de alforjes no bagageiro de trás e um par de alforjes em um bagageiro que mandei fazer para a parte da frente da bike. Na frente, colocava as coisas de maior peso e menor volume, como ferramentas e livros. Atrás, colocava roupas, comida e barraca. Em cima do bagageiro de trás ia o saco de dormir e o isolante térmico (colchão). Desta forma, melhorava um pouco a aerodinâmica da bike.

Depois da volta ao mundo, nunca mais senti necessidade de alforjes na frente. Mesmo em grandes aventuras, como os 7 Passos Andinos, quando atravessei várias vezes o Atacama e fiquei até uma semana sem poder comprar comida, pude acomodar tudo em dois alforjes traseiros. Quando me perguntam se não desequilibra a bike em uma subida, por exemplo, respondo que se a subida for assim tão íngreme que a bicicleta empina, o melhor a fazer é empurrar a bicicleta, afinal ela pesa cerca de 45 kg.

O fato é que assim fazendo, economizo a estrutura de um bagageiro frontal e dos alforjes. Prefiro carregar o peso que só a estrutura representa, em água ou comida. Coloquei caramanholas no garfo e, juntamente com a bolsa de guidão, consigo equilibrar bem o peso entre a parte da frente e a de trás. 

© Antônio Olinto

A bolsa de guidão serve geralmente para colocar equipamentos delicados, pois ela não choca com nenhuma superfície rígida. Serve também para o visor de mapa, documentos e coisas de uso frequente, já que no geral é de fácil acesso e pode ser removida da bike com um “click”. 

Atualmente, eu só faço vídeo e a Rafaela faz as fotos, nós carregamos as câmeras em pequenas pochetes, tendo em vista a dificuldade dos terrenos que costumamos enfrentar e a delicadeza de nosso equipamento. Isto fere o princípio de “nada nas costas”, mas as estradas que pegamos não perdoariam nosso equipamento, que a rigor, é bem leve.

Outros colegas gostam de levar trailers acoplados à bike. Devo confessar que sou radicalmente contra, principalmente pelo peso da estrutura que, apesar de parecer pouco quando pedalamos no plano, pesam bastante morro acima. Alguns trailers têm rodas pequenas, fazendo-se necessário carregar peças de reposição específicas. Em um aeroporto, no ônibus, para subir uma pequena escada, você sempre terá que levar dois volumes. Isto tudo sem falar no problema que gera quando tem que enfrentar uma estrada enlameada que gruda no pneu: a força de arrasto nestes casos é incrível.

© Antônio Olinto

Somente em casos específicos o cicloturista deve optar pelo trailer: em grandes travessias sem abastecimento algum, ou então, como os suíços Cristopher e Catharine, que estão viajando com uma tandem que só tem local para quatro alforjes. Para não sobrecarregar ainda mais as rodas que já suportam duas pessoas e a bagagem, a solução foi utilizar um tipo muito ágil de trailer que nada mais é que uma roda extra igual a qualquer outra de bike. Por fim, o uso mais eficiente do trailer é como faz a Marcela, uma brasileira que viaja de bicicleta com seu filho Nahuel (de 1 ano e 10 meses). Neste caso, nada pode ser melhor que um trailer. 

© Antônio Olinto

Em meu guia do Caminho da Fé, sugiro levar cerca de 7 kg de bagagem (mais as ferramentas e peças de reposição para a bicicleta), tanto para caminhantes como para ciclistas. Sei que escrevo para peregrinos; estas pessoas já sabem que o melhor é levar muito pouco em uma viagem, sabem também que ficarão todos os dias em pousadas e lavarão roupa diariamente. Então, por que tanta complicação? Aconselho arranjar uma mochila ou uma bolsa de nylon qualquer, envolver em um plástico forte e amarrar bem no bagageiro de trás da bike. Tenho certeza que este sistema simples não trará problemas.

As soluções mais simples podem funcionar muito bem. Veja como ficou a bike do Bruno, um francês que depois de ficar oito meses no Rio de Janeiro, decidiu ir de bike até Cuzco. Sem nenhuma experiência, ele comprou uma bike brasileira, pintou bem feio para evitar roubo e colocou um bagageiro de bicicleta cargueira. Encontrei com ele no último dia de sua viagem. Ele teve que trocar a roda e pneu no meio da viagem, mas estava bem feliz e realizado, afinal nunca esqueça que o melhor é viajar de bicicleta! 

© Antônio Olinto