Alessandro Deretti é cicloturista de Porto Alegre (RS) com algumas viagens nas costas. E em cada uma delas havia sempre um rio ou um lago que teria que ser contornado para seguir a rota. Até que um dia ele conheceu o packrafting, um pequeno bote de quatro quilos com capacidade de suportar até 150 kg e que, quando dobrado, fica do tamanho de uma barraca para duas pessoas. Isto permitiu uma nova experiência de cicloturismo, que Alessandro está disposto a divulgar para que mais pessoas também a vivenciem.

Alessandro, primeiro conte sobre como a bicicleta surgiu em sua vida e, principalmente, como iniciou no cicloturismo.

Sempre fui incentivado pelo meu pai, e todos na nossa família tinham a sua bicicletinha, era o nosso meio de locomoção, principalmente nas épocas de verão quando íamos à praia pedalando. A meninada se divertia muito com suas bicicletas e acrobacias.

Ao longo do tempo descobri que eu tinha o cicloturismo enraizado dentro de mim. Recordo minhas primeiras aventuras de criança, com aproximadamente 10 anos de idade, quando eu saía de casa com a minha BMX e uma mochila cheia e passava o dia a uns três quilômetros de distância da nossa casa de veraneio, fazendo minhas refeições e tomando banho de mar, no litoral do Rio Grande do Sul.

Com o passar do tempo veio a melhoria dos equipamentos e consegui fazer a minha primeira viagem de bicicleta, imergindo de vez no cicloturismo. Com estudos e pesquisas na web, fiz uma rota do Chuí a Montevidéu. Pronto, desde aí viciei e muitas outras aventuras vieram pela frente.

© Alessandro Deretti

E o packrafting, como o conheceu? Você já praticava rafting ou algo assim?

Sou mais experiente no ciclismo. Comecei na canoagem há aproximadamente dois anos. Pratico descidas de corredeiras e sempre quis adquirir mais experiências. Desde que comecei na canoagem, sempre tive vontade de unir os dois esportes, mas achava inviável pelo tamanho e peso do caiaque. Até que um dia, assistindo um programa chamado “Homens da Montanha”, que retrata pessoas que vivem e sobrevivem no Alaska e outros lugares inóspitos, observei que um dos protagonistas usava um pequeno bote que, enrolado, cabia na mochila. Então, comecei a pesquisar e encontrei o packrafting. São poucos os fabricantes no mundo; eles estão nos EUA, Alemanha e Rússia. Por ser um trabalho feito a mão, existe um valor agregado. Sua grande diferença é a leveza, o tamanho, a praticidade e durabilidade. O packrafting é muito forte e resistente à abrasão.

Fale sobre sua experiência de viagem unindo a bicicleta e o packrafting.

Já percorri quatro vezes a rota de Chuí a Montevidéu, pela Ruta 10. No meio do caminho existe um trajeto onde precisamos entrar na reserva de Laguna Rocha. Se a Lagoa não estiver conectada com o mar, o ciclista pode passar tranquilamente pela areia; porém, quando está conectada, o ciclista tem um problema. Este foi o momento crucial em que pensei: “se eu pudesse usar um bote aqui, tudo estaria resolvido”.

Logo depois das pesquisas e com a compra do meu primeiro packrafting, um Nortik de fabricação russa, veio a minha primeira ciclo expedição para a região dos lagos andinos, entre o Chile e a Argentina.

Passei um ano planejando uma rota circular partindo de Bariloche, totalizando 750 km pedalados e 45 km remados em duas semanas. Foi um teste crucial para mim e para o bote, pois a viagem foi planejada para ser leve e autossuficiente, dependendo somente da tração humana, levando duas semanas para ser concluída. Lembrando que este bote suporte 150 kg e isso tem que ser lembrado na hora de organizar todo o equipamento.

A região dos Lagos Andinos e o norte da Patagônia é um local de uma beleza ímpar, além das temperaturas em fevereiro – época da minha viagem – serem muito agradáveis, com uma média de 25°C ao dia e 10°C à noite. O bote foi crucial para passar por barreiras naturais, como lagos e rios.

© Alessandro Deretti

É preciso algum preparo ou treinamento para remar um packrafting?

Não é necessário grande preparo para a prática do bikerafting. Basta saber remar e nadar, o resto é só diversão.

A grande vantagem deste tipo de bote é que ele é muito estável e praticamente impossível de virar, ainda mais com o peso bem distribuído sobre ele. Isso porque os tubos de ar ficam ao redor da base do bote, deixando-o muito seguro. Claro que se você for descer um rio com uma dificuldade técnica maior, vai precisar de um equipamento mais apropriado para isso.

Este bote é para lagos e rios com classe I ou II. Existem botes para outros níveis de rios, que não seriam possíveis de utilizar numa viagem de bikerafting, por terem um peso mais elevado e praticidade prejudicada.

Na sua opinião, quais as vantagens de realizar uma viagem assim, de maneira mais autônoma e com meios de locomoção que permitem maior interação?

A grande vantagem neste estilo de viagem é a autonomia e a profunda interação com a natureza. Quanto menor o nível de locomoção, maior sua interação com a natureza. Quando você consegue sobrepor a dificuldade de passar sobre as águas, percebe que o longe pode ficar cada vez mais perto, e o melhor: tudo dependendo apenas das suas próprias forças.

Você diz que pretende trazer novos adeptos a este estilo de viagem. Como pretende fazer isto?

Como diz o ditado, “toda felicidade não é plena se não pode ser compartilhada”. Estou em busca de novos adeptos ao bikerafting. Com isso, tento divulgar ao máximo pelas redes sociais, e também faço demonstrações e palestras em eventos de cicloturismo, locais em que é possível trocar muitas informações sobre equipamentos e rotas. Sempre é uma grande diversão quando inflamos o bote e ocorre a demonstração de equipamentos.

Quais são os seus próximos planos de viagem?

Estou planejando voltar para a Argentina em fevereiro, com uma rota diferente, visando usar mais os rios como forma de navegação e cumprir trajeto, não apenas como ferramenta para atravessar obstáculos. Então, pretendo percorrer o rio Limay, 46 km correnteza abaixo até Confluencia, onde começo a pedalar em direção ao Vulcão Lanin. Será uma rota circular de duas semanas.

Para finalizar, o que viajar de bicicleta significa para você?

A bicicleta, para mim, sempre foi um instrumento de liberdade, desde a infância até os dias de hoje. Com ela consigo liberar a minha endorfina. Ela me leva a lugares que nunca imaginei estar, tendo uma dimensão muito mais ampla do mundo e da natureza. Com as viagens, além de ser um turismo de baixo custo, tenho um momento de reflexão e equilíbrio espiritual.

Para saber mais sobre o bikerafting, acesse: