“Ainda pouco popular entre os cicloturistas e alvo de algum preconceito por parte dos mais experientes, a bike de pedal assistido, ou e-bike, chega para incluir qualquer ciclista no passeio. Eu experimentei a Trek Powerfly FS 7 no Circuito Vale Europeu, em Santa Catarina, o principal destino dos cicloturistas no Brasil. “

© Ana Cristina Sampaio

Com cerca de 8 mil cicloturistas por ano, o Circuito Vale Europeu foi o primeiro planejado e organizado especialmente para ser percorrido de bicicleta. São 300km sinalizados, cujo trajeto é circular, começando e terminando na cidade de Timbó (SC). Com uma média de 50km por dia o circuito passa por nove municípios: Timbó, Pomerode, Indaial, Ascurra, Apiúna, Rodeio, Benedito Novo, Doutor Pedrinho e Rio dos Cedros.

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A popularidade do Vale Europeu entre os ciclistas cresce a cada ano. Porém, não se trata exatamente de um circuito para inexperientes ou não condicionados. A ascensão média acumulada gira em torno dos 5 mil metros. Apesar das estradas de chão serem bem rodáveis, há subidas longas e descidas bem inclinadas, exigindo esforço físico considerável.

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Porém, a chegada das bikes elétricas de pedal assistido, conhecidas como e-bikes, está levando a qualquer cicloturista a possibilidade de percorrê-lo sem desgaste ou atraso do grupo. A Rota Cicloturismo e a Seledon Turismo são duas agências que oferecem a bicicleta aos seus clientes desde o ano passado.

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Aceitação lida com desconhecimento e preconceito

Maicon Mohr, dono da Seledon, diz que a aceitação da e-bike entre os cicloturistas ainda está no início. “É uma bicicleta que os clientes ainda não descobriram. O público brasileiro é desconfiado em relação a essa modalidade, desconhecem como funciona o equipamento”, explica. A bike de pedal assistido exige que o ciclista pedale, diferentemente da bike elétrica com acelerador. Maicon a oferece aos clientes que entram em contato e demonstram possuírem menos condicionamento físico e experiência de ciclismo. “Eles alugam no intuito de acompanhar o ritmo do restante do grupo”, informa.    

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Já Celso Pacheco, da Rota Cicloturismo, ressalta que a pequena procura se deve também à mentalidade de competição do ciclista brasileiro, mesmo fazendo turismo. “Minha experiência guiando grupos no Vale Europeu é que os próprios integrantes estimulam a competição entre eles. Poucos são os grupos em que os ciclistas são mais relaxados e uns esperam os outros”, relata. Segundo Celso, os que alugavam a bike assistida ainda são alvos de brincadeiras e constrangimentos. Apesar da aceitação ainda pequena, a divulgação vem crescendo. “É uma excelente opção para quem tem mais de 50 anos, não está em boa forma física e mesmo assim deseja acompanhar os amigos mais velozes”, garante.

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Prazer na inclusão dos mais velhos e inexperientes

Esse é o caso de Maria Lúcia Oiticica, 61 anos, arquiteta, moradora de Maceió (AL). Ela e o marido alugaram e-bikes para fazer o Circuito Vale Europeu. Em sua quinta cicloviagem – as demais foram na Holanda, Alemanha e Santiago de Compostela -, Maria Lúcia nunca pedalou outro tipo de bicicleta. “Não tenho experiência em ciclismo, então a amizade com o grupo me faz sempre optar pela bike assistida. Ela me dá liberdade para acompanhar os amigos. Quando temos limitações físicas e de resistência, mesmo que a turma ande rápido, posso acompanhar e tirar fotos sem atrapalhar a programação do grupo”, afirma. 

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Para a cicloturista, trata-se de uma inclusão no esporte para quem não tem habilidade. “Sem o pedal assistido eu não faria cicloviagens. O aluguel é em média o dobro de uma bicicleta comum, mas acho que vale a pena pelo que ela me proporciona. Chego bem, sem dores musculares”, sublinha. Ela, no entanto, relata que já foi objeto de brincadeiras dos colegas: “A questão é que todo mundo tira uma onda com você: ‘mas também, de elétrica’. Não ligo, pois não estou em busca de desafios, mas de liberdade”, conclui.

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Essa também é a opinião do engenheiro aposentado Sílvio Macero, residente em São José dos Campos (SP). Com 69 anos, ele já havia percorrido o Vale Europeu em 2016 com uma MTB normal e, em 2018, decidiu usar a assistida. “Resolvi comprar uma e-bike porque estava limitando minhas possibilidades de pedal. Tinha que escolher onde pedalar, trajetos mais curtos, e não estava mais aproveitando os pedais. Não tinha mais tempo para observar paisagens, tirar fotos”, conta.

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Sílvio começou a pedalar aos 55 anos e afirma que conseguiu ter bom rendimento por dez anos. No entanto, quando experimentou uma bike assistida percebeu que poderia voltar a fazer qualquer tipo de pedal, inclusive com pessoas jovens, sem atrasar o grupo ou chegar extenuado. “Descobri que poderia continuar pedalando e sentindo prazer por mais alguns anos. A idade estava me limitando”, enfatiza.

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Meu Circuito Vale Europeu com a Powerfly FS 7

A convite da Rota Cicloturismo e patrocínio da Trek, que cedeu a Powerfly FS 7 por meio de sua representante em Timbó (SC), a Giro 29 Bike Center 29, percorri o Circuito Vale Europeu durante seis dias. Trata-se de uma mountain bike de pedal assistido equipada com pneus 27.5+ ‘Plus’, câmbio de 11 velocidades, canote com ajuste por controle e suspensão total.

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O que posso dizer é que foi paixão nos primeiros 10 quilômetros. A experiência de pilotar uma e-bike com a potência da Powerfly é de total controle, confiança, tração e torque à medida em que imprime força ao pedal. Isso torna extremamente estimulante algumas subidas mais difíceis do Circuito, como o famoso Caminho dos Anjos – uma subida de quase nove quilômetros na saída de Rodeio, com 74 estátuas de anjos, que culmina num Cristo Redentor, tudo esculpido por um morador local. Ou o paredão do Morro do Cunha, na chegada em Timbó, em que você encara, numa subida bem íngreme de três quilômetros, um trecho de 700 metros que é uma verdadeira parede (28%).

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A bike se mostrou excelente para explorar terrenos mais difíceis, rochosos e úmidos, sendo segura para as descidas fortes, embora pese quase 30 kg.  No modo econômico, a bateria chega a uma autonomia de 80 km. Mas ela ainda possui os modos Tour, E-MTB e Turbo. Este último usei em pouquíssimas ocasiões de inclinações muito fortes, como o paredão do Cunha. A potência é absurda e você precisa pedalar de forma constante, caso contrário sente um coice da bicicleta. Tão logo a subida ameniza, é preciso usar um modo menos potente.

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Segundo Márcio Tajiri, da Giro 29 Bike Center, a Powerfly é perfeita para ciclistas que não possuem hábito de pedalar longas distâncias, e também para os com idade acima de 50 anos, pois ela te torna capaz de acompanhar os amigos e desfrutar de longos passeios, sempre com a sensação de um “novo brinquedo”. “E você ainda tem um treino cardiovascular enquanto se vê subindo morros a duas ou três vezes a velocidade que faria em uma mountain bike normal, indo muito mais longe”, avalia.   

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Eu concordo com Tajiri quando diz que a Powerfly é “uma explosão de diversão sobre duas rodas”, recomendada a todos que queiram ir além de seus limites de distância ou terreno.  

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Agradecimentos

Rota Cicloturismo, Trek Bikes Brasil, Giro 29 Bike Center e pousadas Casarão Schmidt (Pomerode), Bella Pousada (Dr. Pedrinho), Paraíso das Ilhas e LindnerHof (Alto Cedros) e Hotel Blue Hill (Timbó).

 anacris_sampaio@hotmail.com
Instagram: @anacris sampaio


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