Didaticamente falando, em sua tradução pura e simples, o termo gravel significa cascalho. A partir daí, temos uma ideia do que vem a ser as gravel bikes, ou bicicletas de cascalho.


Quem sou

Olá leitores e amigos da Revista Bicicleta. Aqui é o Gabriel Antonoff, de Belo Horizonte/MG, idealizador do BH Gravel, canal brasileiro exclusivo sobre gravel e praticante da modalidade há mais de 3 anos.

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Um pouco de história

Antes de conceituar “O que é gravel”, é interessante voltarmos no final dos anos 1800, quando tivemos as primeiras bicicletas “parecidas” com o que temos nos dias atuais, já com guidão “drop”, o guidão com curvatura (utilizado nas bicicletas de estrada). Na época não existia asfalto, e tampouco modelos de bicicletas com suspensão ou qualquer outra tecnologia de amortecimento. Logo, podemos dizer que a partir daí nasceram as primeiras “gravel bikes”. E na mesma época iniciaram as corridas (Tour de France), e também provas de cyclocross.

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Portanto, a história das bicicletas de época se mistura com a história das gravels, porém, sem esta nomenclatura que passou a existir somente em 2012, através da americana Salsa Cycles, que iniciou a comercialização de modelos com o rótulo “Gravel”. A partir de então, nasceu, para o mercado contemporâneo, este nicho que já era explorado por outras marcas muito antes de 2012.

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Evolução ou retrocesso?

As gravel bikes são um retrocesso em relação às MTBs?

E uma evolução das roads?

Podemos dizer que se trata de uma nova opção, com um ar de simplicidade e de “retorno às origens”.

A gravel bike é melhor ou pior que as demais?

Veio para substituí-las?

Podemos dizer que se trata de uma outra modalidade, uma outra “tocada”, uma outra “vibe” e uma pedalada extremamente divertida.

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Visualmente existe uma forte semelhança com as bicicletas de estrada, mais conhecidas como road (ou speed). Podemos dizer que são muito próximas, porém, idealizadas para uso no cascalho (na terra).

E, na essência, são bicicletas simples no quesito tecnologia de amortecimento, e extremamente modernas no quesito componentes, desenvolvimento de quadros, geometria, durabilidade, entre outros itens.


Gravel pra mim é movimento, é possibilidade de escolher o trajeto mesclando todos os tipos de terrenos.  É voar no estradão sem abrir mão da performance no asfalto.

Pedalar de gravel me permite o encontro da cidade com a natureza, me desafia a ser uma ciclista forte no asfalto e com técnica na terra. E por que não arriscar trilhas também?! Uma bicicleta completa.

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Helena Carvalho Coelho, Sense Versa, Vitória/ES


Pedalando na prática

Para quem busca uma dinâmica diferente de treinos e gosta de pedalar em estradas de terra com poeira, lama e contato com a natureza, terá neste tipo de bicicleta uma variação incrível de percurso e terreno. Seja em busca de performance, volume, intensidade ou pelo simples fato de pedalar sem qualquer objetivo além da recreação, a versatilidade falará mais alto, como por exemplo sair de casa pedalando, sem necessidade de um carro para deslocamentos.

Atenderá também o ciclista que realiza pedais urbanos, pedais curtos, pedais longos, diversos desafios como os randonneurs Brasil afora, cicloturismo e bikepaking, enfim, quem realmente gosta de pedalar.

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Estilo Gravel brasileiro

Se compararmos os terrenos que temos dentro do território brasileiro, poderemos criar vários níveis e tipos de gravel. Vide a região de Minas Gerais, com estradas lisas e rápidas, e também muito irregulares, com pedras e muito cascalho, além de, a todo instante, passar ao lado de acessos às trilhas com vários níveis de dificuldade e muito singletrack (cenário não muito usual para este tipo de bicicleta).

Repetidamente falamos sobre a “essência” da modalidade e do seu uso principal: estradas de terra, as famosas estradas de chão de qualquer interior brasileiro.

Em virtude disto, nasceu um famoso jargão: “Paviment Ends Life Begins”, ou seja, “A vida começa quando o asfalto termina”.

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Pneus e aros

Os pneus se tornaram uma das escolhas mais importantes para o sucesso da pedalada de gravel. Portanto, é importantíssimo avaliar o que se pretende fazer com a bicicleta e o que se espera que ela entregue.

As gravel bikes foram desenvolvidas para uso em asfalto e estradas de terra, entregando velocidade e agilidade em ambos os terrenos. Com isso, saem de fábrica, em sua maioria esmagadora, com pneus 38 a 42mm e rodas aro 700. Como em toda regra há exceção, temos grandes marcas sugerindo o uso de rodas menores (650B) e pneus maiores (mais borrachudos). Em termos comparativos, uma cyclocross (bicicleta semelhante, concebida para uso em provas de pista), possui pneus 33mm e aro 700.

Assim como ocorreu alguns anos atrás com a chegada das MTB´s aro 29, ocorre atualmente com as gravels. Uma enxurrada de informação (e desinformação) a respeito do uso do melhor pneu. A certeza é que existem diversas opções e cada ciclista tem a chance de usar o setup que julga ser o melhor.

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Andar de gravel é misturar o melhor dos dois mundos. Possibilita o contato com a natureza mantendo a pegada e a passada da speed. O gravel tem estilo próprio, é preciso experimentar pra entender.

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Igor Flori, Specialized Diverge, Belo Horizonte/MG


Competições

A primeira corrida com categoria gravel em solo brasileiro, que se tem notícia, foi realizada em 2017: Caminhos de Rosa, pela região de Cordisburgo/MG. E a primeira prova exclusivamente idealizada para gravel bike, com diversas categorias, foi realizada em Botucatu/SP, em 2019: Diverge Gravel Race / Brasil Ride.

Nos Estados Unidos, existem há anos provas épicas com centenas, milhares de participantes. Podemos destacar a “Dirty Kanza” que agora se chama “Unbound Gravel”, prova que possui uma extensa “fila de espera” para participação, e que exige um “currículo” para que o competidor possa se inscrever.

© Daniel da Silva Cunha

MTBe Road pedalam com Gravel?

Sim. Uma quantidade enorme de praticantes de MTB pedalam em terrenos 100% pedaláveis com as gravel bikes. Obviamente que um singletrack ou um rock garden não são locais indicados para este tipo de bicicleta. Mas, de um modo geral, são totalmente compatíveis se estiverem em terrenos apropriados.

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Quanto ao uso com as roads (speeds), farão um ótimo papel em um pelotão. Naturalmente, por terem pneus mais largos e relações de marcha mais compactas, perderão velocidade final. Porém, também de um modo geral, salvo os treinos no estilo “corrida”, o uso será totalmente viável.

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Não tenho um conceito sobre a gravel, ela simplesmente me trouxe um outro olhar sobre a bike, me apresentou novas paisagens, novos amigos, novas rotas e principalmente o desejo por novos desafios. A gravel não me deixa limitado entre asfalto ou terra, simplesmente vou, sem barreiras, deixo a estrada me conduzir e a gravel me levar.

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Juliano E. Gehrke, 47 anos, Ibis Hakka MX, Blumenau/SC


Pedalada mais intensa

Como dito, a relação de marcha das gravel bikes é compacta, porém, em sua maioria, elas não possuem a mesma leveza que as MTB´s. A conhecida “vovozinha” não faz parte do mundo da gravel. Com isto, é importante ter em mente que trata-se de uma pedalada mais intensa, que exigirá um pouco mais do atleta, fisicamente, mas que em contrapartida, entrega uma pedalada mais suave em trechos “rolados”.

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Existem alternativas, inclusive, realizadas por muitos, com mudanças dos cassetes, aumentando assim a quantidade de dentes e consequentemente, entregando marchas mais leves.

Toda esta intensidade poderá ser mais ou menos notada pelo estilo de pedalada, além da topografia dos locais pedalados.

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Nem tudo são flores

Uma bicicleta sem amortecimento, obviamente, terá mais impacto nos braços e em todo o corpo. Em trechos de calçamento, temos, talvez, o pior momento do pedal de gravel. E a sensação poderá melhorar (ou piorar), dependendo do tipo de pneu e calibragem utilizada. Quanto menos PSI nos pneus, maior será o conforto, assim como quanto maior o pneu escolhido, maior segurança e, principalmente, conforto.

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Interessante ressaltar, assim como ocorre em outras bicicletas, que a pedalada em pé auxiliará bastante em trechos muito irregulares, assim como uma firmeza nos braços.

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”Na origem, o gravel era somente uma superfície, o cascalho; depois passou a ser um tipo de bike. Mas somente quando você começa a viver como um gravelista que entende o verdadeiro significado.

Gravel é um estilo de viver a bicicleta, é curiosidade, é a vontade louca de explorar novos lugares, é divertir-se durante o percurso sem se preocupar com a linha de chegada”.

Cecília Rocha, 42 anos, 3T Explore PRO, Gabicce Monte/ITALIA


Conclusão e dicas

O ciclista experiente que busca volume de treino ou algo a mais, como novos roteiros, entendendo o cenário em que este tipo de bicicleta pode ser usado, ganhará uma grande aliada nos treinos. O ciclista novato que busca entrar no mundo da bike tem a possibilidade de curtir toda a versatilidade que esta bike entrega. Com isso, é uma modalidade disponível para todos e em franco crescimento no Brasil.

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É interessante ressaltar que a manutenção deste tipo de bicicleta é mais prática e rápida, gerando um custo menor se comparada com modelos que utilizam suspensões dianteiras e traseiras.

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A principal dica para a prática do gravel, assim como em qualquer esporte, é nunca ultrapassar seu limite. Antes de iniciar nos pedais em estradas de terra e afins, treine no asfalto, entenda como funcionam as trocas de marcha, entenda qual é a melhor posição em cima da bike, se familiarize com o guidão “drop”. Somente com “horas pedaladas” teremos como entender o funcionamento perfeito desta e de qualquer outra bicicleta.

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Assim, uma gravel é uma bicicleta com uma “tocada” diferente de todas as outras. Treine e curta intensamente o que ela poderá te oferecer. E para o estreante na modalidade: jamais saia para pedalar em estradas de terra com pneus extremamente cheios. O coração deste tipo de bicicleta é justamente os pneus e sua calibragem. Quanto mais vazio, maior será o conforto. Mas cuidado para não esvaziar muito, pois assim ele poderá furar (recomendamos o uso de tubeless, artifício extremamente útil para a modalidade, minimizando os possíveis problemas com pneus).

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Quanto ao uso da gravel, assim como em qualquer outra bicicleta, o limite é o ciclista quem determina. Eu, pessoalmente, procuro sempre dizer que a gravel nasceu para ser usada em estradas de terra e asfalto, mas não em trechos de singletrack extremamente técnicos. Estou certo? Cada um faz sua escolha e tem a consciência da experiência e horas de pedal para ir “além”.

Desejo a todos ótimos pedais. Sejam bem-vindos ao mundo gravel.

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