Em 1999, os técnicos da prefeitura de Viena, na Áustria, distribuíram um questionário para os moradores a fim de levantar informações sobre como eles se deslocavam na cidade. A maioria dos homens respondeu às questões em menos de cinco minutos. Já as mulheres… Escreveram sem parar!

Entre as respostas dos homens, foi comum o relato de apenas dois deslocamentos durante o dia: um para ir trabalhar de manhã, e outro para voltar para casa à tarde. Já o padrão de deslocamento das mulheres era bastante diversificado, com utilização mais ampla da infraestrutura disponível na cidade e dos diversos modais.

No questionário elas escreveram que em determinados dias tinham que levar as crianças ao médico, então, levá-los à escola antes de ir trabalhar; ou que em determinadas tardes tinham que visitar a casa de familiares idosos para ajudar nas compras, depois de sair do trabalho. Enfim, elas relataram vários motivos que as levavam para circular pela cidade.

Com base nessas respostas obtidas, os planejadores começaram a intervir na cidade. As calçadas foram alargadas e melhoradas, a iluminação pública foi reforçada para tornar as circulações noturnas mais seguras, uma escadaria foi substituída por rampas, que também foram implantadas em cruzamentos para facilitar o acesso para carrinhos de bebê e cadeirantes. Todas essas modificações resultaram em uma verdadeira transformação do espaço urbano.

A decisão do poder público ouvir homens e mulheres para planejar a cidade e a infraestrutura da mobilidade urbana não aconteceu de uma hora para outra, mas fazia parte de um projeto de integração de gênero que havia começado em 1990.

Muitos problemas urbanos poderiam ser evitados se houvesse essa sensatez de, antes de se executar alguma obra, entender quem está usando o espaço público e quais são os seus objetivos ao se deslocar. Mapear interesses e necessidades de todas as pessoas revela o que deve ser planejado e melhorado. Em especial, observar as tendências e preferências das mulheres, que apontam caminhos para a segurança e a praticidade.

Muitos problemas urbanos poderiam ser evitados se houvesse essa sensatez de, antes de se executar alguma obra, entender quem está usando o espaço público e quais são os seus objetivos ao se deslocar

© Doin Oakenhelm