A bicicleta representa estacionamentos menores, menos lotados! A bicicleta representa ruas de fluxo mais livre…

Quem utiliza a bicicleta no cotidiano, certamente terá uma grande identificação com este tema. Já tem algum tempo que a bicicleta ganha atenção como veículo de deslocamento urbano em muitos estados do Brasil e no exterior. Aqui no país do improviso e do caos no trânsito, novas políticas deveriam surgir para que a mobilidade urbana fosse visivelmente crescente. Uma cidade cuja mobilidade possui qualidade e eficiência traz frutos positivos para a sociedade. Mais bicicletas nas ruas, com a devida segurança em foco, possuiria menos engarrafamentos, também resultaria em sistema de transporte coletivo menos saturado em horário de pico, e outros tantos benefícios de uma conduta geral mais coerente. Esta melhoria envolve todas as classes sociais, então, percebe-se a importância da bicicleta como proposta de mobilidade para a sociedade.

© Roberto Furtado e Caren Lacerda

Para a bicicleta ser uma opção em trânsito dos grandes centros, seria preciso que duas questões andassem combinadas de forma satisfatória. É preciso que as vias comportem os ciclistas de forma segura, seja pela educação dos condutores e pedestres ou por espaços adequados para a finalidade ciclística. Contudo, sabe-se que de nada adianta uma questão resolvida se houver outra em estado crítico. A mobilidade não se restringe às vias! Muitas vezes o ciclista dispõe do interesse em utilizar a bicicleta como veículo, mas chegando ao destino encontra outro problema. Onde colocar a bicicleta? Possuir um local adequado para acomodar a magrela e desta forma ir ao encontro do real objetivo parece ser outro grande desafio do ciclista. A solução é muito mais simples que a própria mobilidade, no entanto, este é um assunto completamente esquecido. Raras são as empresas e instituições, públicas ou privadas, que oferecem algum tipo de estacionamento para a bicicleta. Os bicicletários, quando existem, em sua maioria são ineficientes ou inseguros. No mundo todo estão sendo criados e instalados dispositivos para estacionamento de bicicletas de forma inteligente e criativa. Alguns são pura arte com intuito de levantar a bandeira da bicicleta, mas o foco principal deveria ser a praticidade e segurança. Obviamente, a questão segurança depende de cada localidade. No Brasil, devido à precariedade cultural e à impunidade, evidencia-se o grande número de furtos de bicicletas, mesmo quando acorrentadas em determinados locais. Já em outros lugares do planeta, nem mesmo se utiliza trava de segurança, pois cada um sabe o que lhe pertence e respeita o bem alheio. Neste momento podemos perceber que a cultura e a educação, falhas no Brasil, resultam em outros prejuízos decorrentes da falta de investimento na sociedade. Povo que não recebe educação gera problemas a ele mesmo. Perde aquele que de alguma forma é lesado, neste caso, o cidadão ciclista que acaba sendo vitimado pelo trânsito ou pelo furto.

© Roberto Furtado e Caren Lacerda

Um exemplo perfeito de bicicletário ineficiente foram estruturas de contenção instaladas de forma improvisada na última Feira do Livro de Porto Alegre. A 58ª edição da maior Feira do Livro da América Latina recebeu os ciclistas de forma completamente equivocada. Foi constatado que as estruturas chamadas de bicicletários não eram presas a nada, possibilitando o furto das mesmas e das bicicletas presas a estas. Outro problema das estruturas é que muitas bicicletas não encaixavam a roda dianteira ou traseira para acomodação perpendicular. Também foi verificado que as estruturas eram instáveis, podendo cair, e até machucar um pedestre ou ciclista.

Apesar de ser pouco valorizada, a bicicleta tem recebido alguma atenção. É preciso criar alternativas viáveis para o seu uso, sejam estas políticas ligadas ao estacionamento ou ao transporte. Conforme pode ser visto em uma das imagens de San Francisco (EUA), bicicletas são transportadas no bagageiro dianteiro do ônibus. Estas alternativas geram facilidades na mobilidade urbana de ciclistas, que por sua vez resultam em outros benefícios que se estendem a toda sociedade. As opções de locação de bicicletas com pontos distribuídos por toda cidade, bem como sistemas de ônibus e metrôs que as transportam, ou até mesmo bicicletários de qualidade, formam uma grande “trama” que viabiliza o uso deste veículo.

© Roberto Furtado e Caren Lacerda

Algumas empresas compreendem o valor de um bicicletário seguro. No local de automóveis, bicicletas! Um estacionamento cheio delas, com direito a segurança, coberto para evitar que a bicicleta fique exposta ao clima enquanto aguarda o retorno do seu usuário. Um exemplo positivo foi de um shopping de Canoas, que disponibiliza um grande bicicletário para funcionários e clientes com direito a segurança em tempo integral e sem qualquer custo. O bicicletário fica em área coberta, próximo a uma das portas de acesso. As mesmas condições válidas a motoristas de veículos automotores devem ser passadas ao cidadão ciclista, pois a bicicleta é um bem valioso para ele. Precisamos destacar que ela simboliza uma sociedade sadia, pois se traduz em um carro a menos no estacionamento de determinado ambiente! A bicicleta representa estacionamentos menores, menos lotados! A bicicleta representa ruas de fluxo mais livre, representa um cidadão com mais saúde, representa um ar menos saturado de poluição, também menos ruído.

© Roberto Furtado e Caren Lacerda

Para que a magrela seja cada vez mais viável nas ruas de uma cidade que cresce, será preciso abrir os braços para ela. Receber a bicicleta em sua empresa, em seu local de trabalho, na sua vida, será muito mais simples quando houver um bicicletário cuja finalidade é verdadeira. Enquanto você realiza a tarefa necessária, seja de trabalho ou compras para o lar, a bicicleta deverá estar segura em algum estacionamento específico. Fechar as portas para o veículo através da inexistência de bicicletário de qualidade terá resultados desfavoráveis à mobilidade do ciclista. E sem hipocrisia, um ciclista na rua representa um passageiro a menos no coletivo, ou até mesmo um carro a menos. O benefício é para a sociedade e não somente para o indivíduo que aposta no veículo do carbono zero! Este papel de alimentar a mobilidade urbana com conceitos saudáveis é feito por cada um de nós. Nós, ciclistas, motociclistas, motoristas de automóveis, passageiros de coletivos, dentre outros, podemos de alguma forma viabilizar o crescimento de ciclistas, porque ao fim, todos nós ganharemos. A socialização da bicicleta é representada por vias receptivas e bons bicicletários. Enquanto formos resistentes a isto a bicicleta ficará intimidada. A oportunidade de contaminar uns aos outros, com a ideia que favorece a todos, continuará “engavetada” como proposta que jamais se concretiza. Sejamos sensatos, precisamos dela, tanto quanto um menino precisa para ser feliz. Este pensamento é uma garantia de um futuro promissor, com rodas raiadas, bicicletários lotados e ruas quase vazias de automóveis.