Oito anos atrás, a primeira edição da Revista Bicicleta chegava às bancas com o clamor “Troque o carro pela bicicleta!”. Era um clamor ousado e moderno para a época, porque naquele momento haviam mídias compromissadas em tratar do tema, mas não com a universalidade com que a Revista Bicicleta fez.
Atingir públicos era o desafio imposto, de profissionais a amadores, do fabricante ao usuário, do lojista ao gestor público, do atleta de referência ao papai comprando uma bicicleta de equilíbrio para o futuro ciclista, enfim. Não havia fronteiras para dizer mais sobre a bicicleta, porque a bicicleta é sempre algo a mais. E assim, edição a edição, a Revista Bicicleta foi criando e contando uma história que atinge, até hoje, milhões de brasileiros, sem nenhuma dúvida possível.

Era emocionante participar dos debates sobre temas de matérias, sobre a veracidade de um ou outro argumento, sobre qual capa atingiria as expectativas dos leitores. Destes oito anos da Revista Bicicleta, participei da equipe em 95% do tempo, e tive a oportunidade ímpar de dialogar com os mais expressivos personagens da história da bicicleta no Brasil. Citá-los seria uma imensa injustiça porque a matéria é breve e não caberiam eles todos e todas, aos milhares.

Vimos o movimento cidadão em torno da bicicleta e da mobilidade urbana sustentável tomar vulto com a consolidação de inúmeros coletivos que fazem parte ou não da nossa querida União de Ciclistas do Brasil – UCB; vimos e aplaudimos a Transporte Ativo dentro e fora do país escrevendo novas páginas e realizando o futuro, hoje; presenciamos o Bike Anjo ganhar as praças pelo país; o Bike É Legal, da Renata Falzoni, dar outra cor e brilho a tudo o que ela e sua equipe realizam; fomos testemunhas da proeminência do Pedala Manaus enquanto coletivo responsável por fóruns de altíssima qualidade, enfim, haveria tanto a dizer que daria um livro, e porque não?

A cada nova edição dava um frio na barriga e uma emoção sem igual por saber-me parte de algo tão especial. Várias foram as matérias polêmicas, outras que arrancaram risos dos leitores. Algumas de nossas matérias provocaram reflexões profundas, outras foram aquele momento de diletantismo em meio ao caos. Mostramos o mundo através dos materiais muito especiais que foram enviados por correspondentes, por ciclistas e cicloturistas das mais diversas partes do planeta e com os mais variados propósitos.

Ousamos muito. Sim, porque a Revista Bicicleta foi a primeira revista do meio que falou sobre o universo das mulheres e suas bicicletas com seriedade, da mesma forma como foi a primeira publicação do meio que tratou o assunto paraciclismo de maneira digna. Aqui fica o nosso agradecimento a estes dois grupos pela sua coragem e, acima de tudo, pela confiança depositada em nosso trabalho.

Mostramos aos brasileiros, ciclistas ou não, lugares que eles jamais souberam, sequer, que existiam, entre “salares e desertos, montanhas e vulcões” homenageando Olinto e Rafaela Asprino e tendo neles representados todos os cicloviajantes e suas lindas histórias pelo mundo.

Denunciamos a insustentabilidade do sistema de trânsito no Brasil, assim como a impropriedade de sentido quando empresários do setor e de fora dele banalizam a palavra sustentabilidade. Fomos além, criticando o uso da imagem feminina fetichizada como chamariz para vender mais nas feiras do setor, com a mesma veemência com que criticamos políticos que usaram a bicicleta e seu universo para promessas de campanha jamais cumpridas.

Trouxemos dicas de alimentação, suplementação e nutrição; pedimos a opinião de grandes mecânicos sobre detalhes da manutenção de bikes; fomos os primeiros no país a falar sobre bikefit, bikebox, bikelanes, ciclocidadania, cycle chic, enfim, entre tantos outros temas que chegaram aos leitores, primeiramente, através das nossas páginas.

Contamos as vitórias de grandes atletas e paratletas, falamos sobre as Olimpíadas no país, demos destaque ao Dia Mundial Sem Carro. Falamos da história da bicicleta desde os primórdios e ousamos falar sobre o seu futuro de uma maneira mais plural, que extrapola o objeto e vai ao encontro do devir.

Nos emocionamos escrevendo sobre personagens únicos e seus feitos, com a mesma paixão com que nos despedimos de vários outros símbolos do ciclismo que já não estão mais entre nós. Foram páginas difíceis de escrever, mas este é o ônus e o bônus de fazer, apenas, o que se ama.

Sabemos que nosso conteúdo foi responsável pela escolha definitiva de milhares de brasileiros pela bicicleta, pela transformação de algumas pequenas cidades pelo interior do país, pela mudança de determinadas empresas a favor do empregado-ciclista, ou seja, auxiliamos na transformação positiva de espaços, conceitos e pessoas. Ao aderir à bicicleta, somaram saúde pessoal e coletiva, sociabilidade, conservação ambiental, contribuindo com cidades mais humanizadas, porque não dizer, afinal, somos um carro a menos, não é verdade?

E ao escrever este resumo do que, observo, tenha sido a contribuição da Revista Bicicleta para a história da bicicleta no Brasil, me reservo o direito de levar a público que esta fantástica publicação, com a qualidade de texto e imagens que sempre teve, enfim, um conteúdo único no país, não era produzida por grandes editoras das metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro.

A Revista Bicicleta nasceu e foi produzida com muito orgulho e alegria dentro de uma garagem, numa cidadezinha do interior de Santa Catarina, com pouco mais de 6.000 habitantes, com poucos equipamentos, mas com muito amor.

E por ter sido feita com um amor tão absoluto pela bicicleta que caberia em outro texto, talvez, falando em como sonhos se convertem em realidade para ajudar pessoas a terem uma vida mais saudável e momentos de imensa felicidade a bordo de uma bicicleta. Valeria dizer que cada um dos 8 anos da Revista Bicicleta foi dedicado a falar sobre esta encantadora relação homem/bicicleta, uma das mais belas histórias que poderíamos ter escolhido para contar.

VALERIA DIZER QUE CADA UM DOS 8 ANOS DA REVISTA BICICLETA FOI DEDICADO A FALAR SOBRE ESTA ENCANTADORA RELAÇÃO HOMEM/BICICLETA, UMA DAS MAIS BELAS HISTÓRIAS QUE PODERÍAMOS TER ESCOLHIDO PARA CONTAR.

E viva a Bicicleta, sempre!