Caça às cachoeiras   

A Serra da Canastra é um paraíso para quem quer passar dias alternando pedal com trilhas a pé sem se importar com estradas ruins e muitas, muitas subidas.

Queijo, cachaça e café. Trem, sô e uai. Para além dos muitos clichês que ajudam a definir Minas Gerais, há algo que me encanta naquele estado: as cachoeiras. De norte a sul, elas estão em toda a parte. Na Serra da Canastra, então, nem se fala. Um ex-guia que conheci por lá jurou de pé junto que já visitou mais de 400 delas. O fato é que a abundância de cachoeiras e outros atrativos naturais que eu via enquanto pesquisava na internet me atraíram como um ímã. “Imagina explorar tudo isso de bicicleta?”, eu pensava. Não titubeei em ir para lá nas minhas férias, em julho deste ano.

© Flávio Dagli

É difícil dizer ao certo se o número de cachoeiras mencionado pelo ex-guia é verdadeiro. Me parece que sim, tendo em vista as características da região: são nada menos que 200 mil hectares de área (o equivalente a pouco mais de 200 mil campos de futebol) em um terreno irregular, cuja altitude pode variar dos 600 aos mil metros em poucos quilômetros. Isso sem contar a hidrografia rica, que permite que qualquer riacho vire uma bela queda d’água. Aliás, é na serra que está a nascente do maior rio brasileiro, o São Francisco, que brota de um pequeno lodaçal para se transformar num gigante de 2,8 mil km de extensão, que percorre 5 estados.

Eu já sabia que não teria tempo de explorar todo esse gigante em 15 dias, então concentrei meu pedal nas regiões sul e leste da serra, nas localidades englobadas pelas cidades de Delfinópolis e São Roque de Minas. Comecei a viagem de Franca (SP), ponto escolhido por um motivo bem bobo: achei legal cruzar dois estados pedalando. Sem querer, acabei fazendo o caminho dos primeiros turistas a “descobrirem” as belezas da Canastra no começo dos anos 2000. Na época, poucas pessoas fora de Minas Gerais exploravam a serra, algo que mudou com a chegada em massa de paulistas da região noroeste do estado, que se encantaram pela natureza de lá e começaram a difundir seu achado para o resto do Brasil.

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Eu tinha algumas possíveis rotas desenhadas no meu celular, mas deixei para decidir o caminho a partir das conversas com as pessoas da região. As dicas começaram ainda na estrada, quando o Paulo, um comerciante de Cássia (MG), parou seu carro no acostamento e acenou para que eu me juntasse a ele. Entusiasta do cicloturismo e frequentador assíduo da Canastra, me passou uma lista enorme de pontos de interesse. Poucas horas depois, na balsa entre Cássia (MG) e Delfinópolis (MG), foi a vez de outro amante das duas rodas puxar assunto comigo. Sem sair de dentro de seu carro, o Marcelo, um vendedor de especiarias de Franca, me contou sobre suas aventuras pedalando nas estradas de terra da serra e sugeriu o complexo Claro como primeiro ponto de pernoite. “Você vai ficar perto das cachoeiras”, disse.

Aproveitei a parada na cidade e me abasteci com comida para, em seguida, pegar a BR 464, uma rodovia federal não asfaltada, até o meu destino. Usei o camping Casa de Pedra, que tem até piscina, como base para explorar tanto o Claro quanto o Complexo Paraíso, a apenas dois quilômetros dali, no dia seguinte.

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O Paraíso é composto por 8 cachoeiras, acessíveis ao longo de uma trilha a pé de 3,5 km, toda lindamente sinalizada em português e inglês e com um manejo impecável, que inclui cordas de segurança e pontes pelo caminho. Meu primeiro banho de cachoeira foi na das Borboletas, 2,5 km do início da trilha. Foi incrível. Parece que a água fria levou consigo todo o estresse acumulado ao longo do ano. Difícil explicar a sensação de paz que me trouxe, ainda mais por eu ter ficado absolutamente sozinho no poço. De certa forma, a viagem começou lá.

Desci para o Claro e descobri outras tantas cachoeiras, mas a que me chamou a atenção mesmo foi a da Gruta. O nome é porque há, de fato, uma enorme gruta escondida atrás das três quedas d’água. Lugar lindo de morrer.

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Todos os caminhos levam a mais cachoeiras

Seguindo a sugestão do Wallace, que trabalha no Complexo Paraíso, decidi rumar sentido leste para passar em outro complexo de cachoeiras, o Paraíso Selvagem. Eu tinha duas opções de caminho: o sobe e desce da montanha ou a BR 464. Não teve uma alma que, ao ver minha bicicleta com seus 25 kg de carga, não dissesse: “com esse peso aí você não sobe a serra”. Com a autoconfiança ainda no nível do pré-sal (eu chamo isso de “síndrome do começo de viagem”), achei melhor ir pela rodovia.

Me despedi das famílias de macacos prego que frequentam o camping atrás de comida (um deles fez meu varal de roupa um slack line) e saí para engolir poeira dos muitos caminhões que cruzam a BR transportando banana, café e cana de açúcar dos inúmeros produtores cujas propriedades se avolumavam ao redor da estrada.

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O calor atípico de fim de julho não contribuiu muito para tornar o pedal menos sofrido, mas ao menos eu tinha uma vista privilegiada da Serra da Canastra. Sempre à minha esquerda, eu via aquele paredão enorme de rocha a perder de vista, como se fosse uma gigantesca caixa de pedra caída dos céus e que vertia água em algumas de suas fendas. Inclusive, o nome da localidade vem daí: num português já esquecido, a palavra ‘canastra’ era usada como sinônimo de baú.

Fiz uma pausa estratégica no pacato distrito de Olhos D’Água, onde as pessoas trocam dois dedinhos de prosa aqui e acolá, sem pressa, mesmo numa manhã de dia útil. “Ocê não consegue comprar pão numa hora dessa”, me alertou, às 11h, um homem com cerca de 70 anos e chapéu de palha, que papeava sem pressa na frente de uma loja de produtos agrícolas.

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Cheguei esbaforido no Paraíso Selvagem depois de cruzar um enorme canavial e empurrar a bicicleta (com 3 pães fresquinhos) numa estrada íngreme, perpendicular à federal, repleta de pedras grandes e areia – muita areia. Tudo para descobrir que o local não tinha mais camping, conforme haviam me falado. “Mas, olha, você pode ir para Santa Maria. Tem um atalho pelo meio do canavial”, me disse Jorge, que gerencia o local, apontando para a plantação lá embaixo, por onde eu havia passado minutos antes. Me perdi várias vezes, mas fui salvo por um 4G inesperado que me colocou na rota para o lugar indicado.

Tive que enfrentar mais uma estrada íngreme e repleta de pedras e areia, que realmente me fez repensar se eu deveria mesmo estar no mundo do cicloturismo. O mal estar se dissolveu no instante em que pus os olhos na área de camping. Agora, a cerca de 950 metros de altura, eu dava adeus aos grandes latifúndios e reverenciava o cerrado, com sua vegetação repleta de árvores de troncos sinuosos e cascudos e de plantas espinhentas. Ao meu redor, apenas montanhas. Acima de mim, um céu começando a ganhar aquele brilho dourado que anuncia o fim do dia. A coisa começou a ficar ainda mais surpreendente depois do pôr do sol, com o surgimento da lua crescente, Vênus, Marte e das primeiras estrelas. Era um paraíso.

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Santa Maria compreende um total de 7 cachoeiras. “Tem outras 7, mas eu preciso abrir a trilha”, me contou o Chicão, arrendatário do local. Passei todo o dia seguinte curtindo cada uma delas, em especial a que dá nome ao local. Detalhe: fiquei o tempo inteiro sozinho, acompanhado apenas pelo ruído das águas, do vento e dos pássaros.

Também vale destacar o Poço Encantado, uma queda d’água cravada num cânion, de onde se tem uma vista da região emoldurada pelas paredes rochosas em tons ocre. De lá, avistei a plantação de cana que cruzei dois dias antes e que iria voltar a atravessar algumas horas depois para vencer a frustração de não conhecer o Paraíso Selvagem.

De fato, seria uma pena sair da face sul da serra sem visitar ao menos a cachoeira do Alpinista, acessível após 40 minutos de trilha a pé dentro de um cânion, durante a qual é preciso cruzar o rio de um lado para o outro várias vezes. A queda em si é outra lindeza, com seus quase 40 metros de altura. Ainda no Paraíso Selvagem, tomei um belo banho na cachoeira Águas Claras, na qual cheguei depois de uma trilha bem diferente: 25 minutos cruzando o cerrado com o sol a pino.

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A única frustração foi o preço cobrado: R$ 50,00 por um local que não oferece absolutamente nada ao visitante além de um banheiro. Esse foi, sem dúvidas, um ponto negativo de toda a viagem. Os preços cobrados em vários campings e no acesso a algumas cachoeiras me pareceram abusivos, principalmente quando não havia a contrapartida de uma boa infraestrutura. O próprio Paraíso Selvagem era pouco sinalizado, com placas feitas à mão já desbotadas, quase ilegíveis.

Dias depois, Seu Cirley, dono de uma pousada em Ponte Alta, outra localidade perdida na BR 464, me contou que os altos preços já haviam espantado turistas no passado. Na visão dele, a enorme procura depois da pandemia inflacionou novamente os pontos turísticos. Ele ainda trouxe uma opinião bastante particular sobre o assunto: “ninguém tem o direito de cobrar por uma cachoeira. Cachoeira não tem dono. É coisa de Deus.”

Mais perto do céu

Saí de Santa Maria com o coração apertado depois de passar os que vejo até hoje como os dias mais marcantes da viagem. Mas era hora de seguir em frente e, agora, eu tinha um destino traçado: Casca D’Anta, a primeira queda d’água do Rio São Francisco, cerca de 100 km adiante. Assim, depois de alguns quilômetros dei adeus à BR 464 e, seguindo sentido norte, comecei uma série de subidas bem puxadas até chegar ao Camping do Cocão, minha primeira parada antes do meu destino. Mas, quando se fala em Serra da Canastra, se fala em surpresas agradáveis: o camping é também a porta de entrada para a cachoeira Maria Augusta.

Cá entre nós, foi a mais bonita de toda a viagem por tudo o que ela oferece: uma queda alta e volumosa, uma “praia” enorme, um poço delicioso para se banhar e, como bônus, acesso aos lagos e pequenas quedas de sua parte alta a partir de uma trilha de pouco mais de 10 minutos. Localizada numa altitude mais baixa, a cerca de 740 metros, a região é toda cercada de árvores mais altas e frondosas, uma mistura de cerrado com mata atlântica, o chamado “cerradão”.

Foi no Cocão que passei o maior aperto das minhas férias. A estrutura de alumínio que segura os ganchos dos meus alforges caseiros quebrou. Seria o fim da linha se não fosse um toque de criatividade pessoal e a ajuda do Cocão, um simpático mineiro da serra, e sua esposa, a Silvana, paulista de Franca. Tive a ideia de usar uma placa de carro para dar forma e firmeza ao alforge, enquanto eu aproveitaria o que sobrou da placa de alumínio quebrada para dar sustentação. A Silvana descolou uma das muitas placas guardadas no camping – “o pessoal sempre perde quando cruza o rio de carro para ir à cachoeira”, explicou. O Cocão, a furadeira, que pegou emprestada do cunhado. Eu cuidei de tirar cuidadosamente as medidas improvisando meu celular como régua. Resultado: o alforge aguentou até o fim, mas chegou em São Paulo direto para a aposentadoria compulsória.

A primeira aventura com a versão 2.0 do alforge foi puxada. Saí do camping (que, aliás, é uma lindeza: bem cuidado e margeado por um rio de águas cristalinas), sentido noroeste, enfrentando uma série de subidas sem fim que, em menos de 40 km, representaram uma altimetria de mais de mil metros. Consegui pedalar boa parte do caminho, mas sofrendo horrores pelas pedras soltas e pela areia em vários trechos, ainda por cima com o sol rachando na minha cabeça. O alívio eram as paisagens: a cada novo trecho de subida, eu olhava para trás e via pastos e plantações que se estendiam até onde a vista alcançava. Aos poucos vi a vegetação à minha volta perder altura e cor. Eu estava voltando ao cerrado “puro”.

© Flávio Dagli

Mais adiante, paredões enormes de serra foram surgindo ao meu lado, mas não como os precipícios perpendiculares que avistei da BR 464. A rocha ali era coberta de vegetação fina e formava concavidades que subiam lentamente até o topo da serra. Olhando para baixo da beira da estrada de terra poeirenta, dava para ver um enorme vale verdejante. E continuei subindo até chegar à temida Serra Calçada. “Até os carros têm dificuldade de subir ali”, me havia dito dias antes a Vanessa, do Camping Casa de Pedra. Bom, eu consegui, aos trancos e barrancos, pedalar – o calçamento ajudou horrores -, para espanto de alguns motoristas que desciam lentamente a estrada de pista única. Ao ver meu sofrimento, o motorista de uma caminhonete dos anos 1990 que vinha no sentido contrário brincou comigo: “o cara que inventou as subidas é muito burro! O mundo deveria ter só descida.”

Achei que a vista privilegiada das montanhas e do vale a partir do topo da serra seria imbatível, mas eu não sabia que a chegada ao Vale da Babilônia, do outro lado da montanha que eu tinha acabado de subir, guardaria tanta beleza. Além do alívio da descida e do clima esquentando à medida que a altimetria baixava, foi uma experiência única cruzar as plantações de milho e trigo por vários quilômetros, com a serra à minha volta – ora à frente, ora à direita. A estrada ali se tornou mais regular e plana, e consegui pedalar numa velocidade relativamente forte até a Pousada Guimarães, onde fui recebido com queijo, bolo e café quando falei que não comia nada desde o café da manhã. Ali, ainda acampei a poucos metros de um rio no pé da serra e sob a luz das estrelas.

A próxima etapa a ser vencida foi a temível subida da Serra Branca, um caminho percorrido por uma estrada toda esburacada, formada por uma rocha calcária meio esfarelenta, que forma diversos pontos de areia, fazendo a bicicleta patinar em qualquer tentativa de pedalar. Empurrei sem dó o 1,5 km de subida bem íngreme, muitas vezes com os pés resvalando, até atingir o chapadão que se estende por 20 km no topo da serra, com ligeiras subidas e descidas sempre rodeadas por uma vista incrível que aparecia atrás da vegetação baixa e amarelada. Aos poucos, o Morro do Carvão foi se revelando à minha frente, um gigante penhasco que despenca até o vale aos seus pés. Nem preciso repetir que a vista era de cair o queixo, né?

Mais uma descida daquelas e, finalmente, cheguei ao Camping 2 Irmãos, na entrada para a Casca D’Anta, a mais famosa cachoeira da Serra da Canastra, com seus 186 metros de queda. Por estar situada dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, inaugurado em 1972, o acesso é gratuito. Não tive coragem de mergulhar, já que só o deslocamento de ar a partir da queda de água já me congelava os ossos, mas passei um tempão contemplando a força da natureza.

© Flávio Dagli

Saideira

Eu tinha traçado a minha rota só até aquela parte. Ainda não sabia de onde pegaria o ônibus de volta para São Paulo. Por fim, decidi esticar até São Roque de Minas, numa viagem cansativa por mais uma estrada de terra poeirenta que cruzou mais um distrito pacato, São José do Barreiro, e a simpática cidade de Várzea Bonita, onde um carrinho de água de coco gelada foi saudado por mim como um água no deserto.

Enquanto me hidratava, ouvi divertidas histórias de alguns velhinhos sentados à minha volta na praça central sobre a falta de violência no município. “Uma vez largaram o supermercado aberto a noite inteira e ninguém entrou lá”, contou um deles, para o riso de todos.

São Roque de Minas, alguns quilômetros adiante, é um município bem estruturado, com um comércio ativo e vários serviços disponíveis, além de ser uma das muitas portas de entrada para o Parque Nacional da Serra da Canastra. Como eu já estava no fim da viagem, não me aventurei muito pelas belezas locais. O máximo que consegui foi fazer a subida brutal até o parque: mil metros de altimetria em míseros 6 km (sem bagagem) – e lá se foram as minhas pernas. Me arrastei por alguns quilômetros para conhecer a nascente do Velho Chico, mas não aguentei seguir adiante. Passei o resto da tarde de boa, só observando as muitas espécies de pássaros que sobrevoavam o camping.

No dia seguinte, juntei minhas últimas forças para visitar a cachoeira do Cerradão, que seria a derradeira dessa viagem: um conjunto de 3 quedas e 2 poços, além de vários outros poços e quedas menores, onde passei horas me despedindo da natureza antes de voltar para casa. Foi aquele momento tradicional de refletir sobre a forma como a gente vive a vida, sobre prioridades.

Enquanto desarmava a barraca pela última vez, uma família de tucanos decidiu fazer um baita alvoroço na árvore logo à minha frente. Naquele momento, não pude deixar de pensar no quão prazeroso é estar fora da cidade, vivendo a vida num ritmo mais natural, sem a interferência de celulares e outras distrações: dormir quando escurece, levantar no primeiro raio de sol, pedalar em estradas de terra, tomar banho em rios e cachoeiras, conhecer pessoas, descobrir novas formas de pensar, novas culturas.

Apesar de todos os perrengues, viajar de bicicleta é sempre uma terapia. Mesmo na Serra da Canastra, um lugar onde você está constantemente longe de comércios e serviços, com estradas ruins, sem cobertura de celular e muitas subidas. Ao mesmo tempo, a região é de uma beleza ímpar e conta com um povo simpático e solícito, que sempre me ajudou nos meus momentos de cansaço e desânimo. Vale cada segundo.

© Flávio Dagli

QUEIJO CANASTRA

Não é mera força de expressão quando digo no começo da matéria que o queijo é um dos clichês que definem Minas Gerais. O quitute é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Já o queijo da região da Serra da Canastra em particular começou a ganhar fama nos últimos anos, desde que passou a ser reconhecido por em competições internacionais, especialmente na França e nos EUA, em que já ganhou o prêmio de melhor do mundo.

Ironicamente, o produto foi por muitos anos marginalizado, já que uma legislação da década de 1950 determinava que, para ser comercializado, o queijo fosse maturado por no mínimo 60 dias e recebesse o Selo de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura – o produto artesanal era feito de leite cru e os pequenos produtores tinham dificuldades em conseguir o selo.

A partir do início dos anos 2000, uma lei do estado de Minas Gerais passou a qualificar e autorizar a produção e comercialização. A norma levou à profissionalização e capacitação dos produtores até que, em 2013, graças a uma lei federal, o queijo canastra foi liberado para ser comercializado em todo o território nacional.

Pela minha experiência, notei que as queijarias só começam a aparecer aos montes a partir da região da cachoeira Casca D’Anta, na chamada “parte alta” da Canastra.

Era impressionante como cada pousada e restaurante, ou mesmo campings e casas particulares, têm produção própria. Isso sem contar as dezenas de queijarias espalhadas nas imediações de São Roque de Minas. Eu comprei o meu da Dona Ileusa, proprietária do Camping 2 Irmãos. Nascida e criada na serra, ela fazia o produto de forma totalmente caseira, a partir do leite tirado de uma vaca que vive em sua propriedade. “Esse queijo aqui é Canastra verdadeiro. Vai fazer sucesso em São Paulo”, me disse, cheia de orgulho.