Nove mulheres no Caminho de Santiago

O Caminho de Santiago pode ser uma história repetida, mas de todas as experiências que tive essa foi a mais marcante. Nove mulheres no Caminho de Santiago, sete delas mães, algumas nunca tinham deixado sua família para uma viagem com as amigas.

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A minha tarefa foi, junto com a Adriana, guiá-las para pedalarem os mais de duzentos quilômetros do Caminho de Santiago Central Português.

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O que eventualmente poderia ser uma tarefa simples se alguma delas tivesse previamente pedalado a distância de uma etapa…imaginem seis!

A viagem era para ter sido realizada antes da pandemia. Com o adiamento, achávamos que as mulheres teriam mais tempo para treinar e programarem-se pra o que viria, mas também sabemos que a realidade paulistana de mães atarefadas pode estragar qualquer programação.

A verdade é que a data chegou e o Caminho de Santiago foi percorrido em toda a sua extensão por todas elas. Os seis dias de esforço, viraram as mais incríveis histórias de superação.

O segredo do sucesso? Provavelmente o denominador comum chama-se força de vontade.

O querer aliado a outros detalhes mais, entre eles um bom planejamento e estratégia.

Aqui ficam algumas das dicas do nosso grupo de mulheres, para outras mulheres que eventualmente queiram se aventurar.

A escolha do trajeto

Por Portugal existem dois principais caminhos que seguem rumo a famosa Catedral de Santiago; o da Costa e o Central.

Eu particularmente gosto mais do central porque acho que ele mais rico cultural e historicamente.

As altimetrias também variam; o central tem mais subidas que o da Costa.

Começando na cidade do Porto, em Portugal, são 260 k, que optamos em dividir em 6 etapas de pedal; assim os dias com mais altimetria tornam se os dias mais curtos.

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Lembrando que para garantir o certificado de peregrino é preciso pedalar mais do que 200 quilômetros, daí a cidade do Porto ser tão emblemática para os ciclo viajantes.

Estabeleça a quantidade de etapas de acordo com seu preparo físico.

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Mulher viajante

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O Caminho de Santiago é uma ótima alternativa para aquelas que querem se iniciar nas ciclo viagens à solo.

Muitos fatores contribuem para isso; percurso marcado, muitas opções de estadia, ambiente seguro.

É uma ótima escolha de viagem para mulheres, independentemente se sozinhas ou em grupo.

O caminho é mágico e tem uma energia maravilhosa.

Escolha da data

Os melhores meses pra se fazer o Caminho de Santiago é Maio, começo de Junho e final de Setembro por serem meses com boas condições climáticas, temperaturas amenas e não muito cheios de gente.

*Dica de mãe peregrina; 

Adapte a data da viagem para não atrapalhar semana de provas das crianças, ou qualquer outra data importante, como dia das mães, aniversários.

Organize a casa e cronograma de atividades das crianças para deixar a Família por 10 dias. (Tarefa difícil!)

Opções de hospedagem

Para as mulheres que gostam de segurança, convém reservar os hotéis ou albergues com antecedência.

Existem muitas opções de hospedagem, inclusive albergues com quartos exclusivamente femininos!

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Escolha da bicicleta

Nós fizemos o caminho em mountain bike. Acreditamos ser uma excelente opção de acordo com os variados tipos de terreno do percurso.

Bike elétrica, para nós, nunca foi uma opção, nada contra, mas pelo contexto da viagem em si: acreditamos que o fato de ser uma peregrinação deveria envolver certo esforço. E esse esforço nos trouxe o gosto de superação e da maior da conquista de todas.

Juntas, nos tornamos mulheres mais fortes!

Bom Caminho!

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O Caminho da Maria Silvia

A primeira vez que ouvi sobre o “nosso caminho para Santiago de Compostela”, como eu gosto de chamar, foi por uma amiga muito querida, cheia de ideias boas e pouco convencionais, que foi a responsável por reunir todo o nosso grupo. Um grupo incrível, de mulheres maravilhosas e que funcionou de forma impecável, divertida e muito generosa!

Ao ouvir “Caminho de Santiago de Compostela”, naquela noite de junho de 2019, meus olhos brilharam e meu coração bateu mais forte! Eu sempre desejei, intimamente, realizar esse tal caminho, mas muito intimamente, pois nunca achei que fosse acontecer de fato.

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Entre Junho de 2019 e Maio de 2022, COVID e a pandemia fizeram parecer que não ia acontecer mesmo. Mas, no dia doze de maio de 22 embarquei, rumo à Porto, Portugal, para encontrar três amigas já conhecidas e outras cinco mulheres, ilustres desconhecidas, que hoje, sei que são alguns dos vários presentes que ganhei dessa viagem.

Nossos planos? Estavam todos documentados, pela equipe FLOWER PEOPLE representada por 2 dessas amigas, até então desconhecidas por quase todas nós. O tal documento, onde Lui e Dri registraram o programa mais as mensagens de whatsapp foram, sempre, temperados com muito suspense e provocações, que me atingiram na forma de estímulo.

Sabíamos o essencial, portanto, faríamos o Caminho Português Central do Porto à Santiago de Compostela, seriam 260km, de bicicleta, pedalando por 6 dias consecutivos já sabendo onde realizaríamos nossas paradas para dormir.

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Minha expectativa quando saí de casa? Bem, eu tinha algumas…

A principal: MEDITAR! Todos riem de mim, quando eu revelo isso. E não é para menos, como seria possível meditar, num grupo de 9 mulheres, pedalando juntas, dormindo e acordando, juntas etc?

Ainda sobre expectativas da viagem; confesso que temia um pouco pela harmonia do grupo. Muita mulher junto!

Também senti muito medo de não dar conta de pedalar os 260 km. Sempre adorei pedalar, mas minha experiência mais longa era pontual, rara e de 47 km. Quanto a frequência, minha melhor performance foi durante a pandemia. Pedalei 20km / hora, diariamente, por 7 meses, em terreno plano (era em cidade litorânea) e algumas vezes enfrentava vento forte. Realizei poucos e pequenos intervalos, motivados por pequenas viagens e outras situações que me impediam de pedalar. Mas em maio 2022, quando viajei para o “Nosso Caminho”, eu já havia quebrado esse padrão, há mais de 1 ano. Desde fevereiro de 2021 que minhas pedaladas, infelizmente, haviam se tornado esporádicas – algo como 5 ou 6 dias por mês, aqueles 20 km, em terreno plano e asfaltado. Mas continuei fazendo minha “musculação” em power plate, com minha irmã, Personal Trainer, 2 vezes por semana.

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Eu achava que era muito pouco para o tamanho do desafio. Meu medo era de não conseguir pedalar o quanto precisasse e de atrapalhar o grupo. Viajei com um pouco de dor no coração e na consciência porque, com 50 anos de idade, em 25 anos de casada e com uma filha de 10 anos, era a primeira vez que eu me aventurava a viajar sozinha, por mais que 2 dias, sem ser a trabalho.

Dois meses já se passaram, desde que concluímos o “Nosso Caminho”. E como foi? M A R A V I L H O S O!

Pedalamos! Todas pedalamos! Pedalamos tudo o que podíamos e o que tínhamos que pedalar. Como isso foi bom! Saber e sentir que éramos capazes, fortes de corpo, mas principalmente, de mente, o suficiente para vencermos cada uma das surpresas e desafios que o “Nosso Caminho de Santiago de Compostela” nos apresentou.

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Voltamos sentindo que podemos e queremos mais!

O “Caminho” ou a jornada, para quem preferir, uniu muito as 9 mulheres. Descobrimos juntas, a partir da nossa experiência comum, nosso potencial físico e mental e que somos capazes de mais do que supúnhamos.

Realizamos isso, enquanto nos apoiávamos mutuamente, nos incentivávamos, nos estimulávamos, enquanto elogiávamos a superação que cada uma realizou em relação a sí própria, enquanto nos suportávamos, nos fotografávamos, enquanto ríamos, gargalhávamos e cada vez mais nos entendíamos, nos aproximávamos, nos admirávamos, nos acolhíamos, nos igualávamos e nos uníamos!

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Foi só alegria? Não, não foi. Uma de nós caiu, uma de nós adoeceu e teve que parar antes, algumas de nós sentimos dores, algumas choramos. Mas sinto que compartilhamos algo único e que construímos uma história extraordinária e muito gostosa, da qual me orgulho e me alegro por ter feito parte!

O “Caminho” é muito maior que o “Nosso Caminho”. Ele é mágico, é grande, abrangente, contagiante e muito emocionante.

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Encher o peito, nas primeiras pedaladas e passar o dia dizendo em alto, bom e animado som, “Bom Caminho!” para os demais peregrinos que encontrávamos, no primeiro dia, me pareceu estranho. No segundo, nem tanto. No terceiro, bom. No quarto, delicioso! O encanto de falar isso para todos com quem nos cruzamos é mágico!

Se meditei?

Hoje, entendo que meditei. Meditei muito mais do que eu me propus a fazer. Eu me entreguei à aventura de viver o Caminho e nele vivi intensamente. Buen Camino!

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