Em uma manhã de sábado na capital paulista, alguns amigos ciclistas chegaram ao nosso ponto de encontro eufóricos, contando que a Renata Falzoni em pessoa havia feito uma espécie de escolta para o grupo, em plena Marginal Pinheiros. O ano era 2006, e esta foi a primeira vez que ouvi falar sobre a famosa bike repórter. Quase um ano depois, estava eu, com o Antonio Olinto, tocando a campainha da casa da Renata. Era nosso começo de namoro e ele aproveitou a visita para me apresentar à amiga de longa data. Uma pessoa falante de cabelos vermelhos nos recebeu com um sorriso largo e um abraço apertado, típico de quem tem o coração aberto.
Entre encontros casuais em feiras e histórias relatadas pelo Olinto, aprendi a admirar essa mulher que, em 1998, liderou um grupo de homens em uma pedalada histórica, de Paraty a Brasília, para falar com o presidente e apoiar o recém-instituído Código de Trânsito.
Há poucos meses, navegando pelas redes sociais, me deparei com a postagem de uma entrevista concedida pela Renata à repórter Paula Dip da TV Gazeta, em 1988. Suas palavras me apresentaram uma mulher forte e única, que teve a ousadia de descobrir-se e viver de acordo com a natureza de seu ser. Depois de tantos anos, foi só através dessa entrevista que passei a ter uma ideia do complexo instigante e apaixonante que é o ser humano Renata Falzoni.
Na semana em que nosso Guia de Cicloturismo Circuitos do Sul ficou pronto, conseguimos marcar novamente um encontro com ela. Entre tantas conversas e histórias, surgiu o assunto sobre mulheres brasileiras viajando sozinhas de bicicleta. Mais que depressa ela nos perguntou se não poderíamos fazer uma matéria sobre esse tema para seu portal “Bike é Legal”. Eu, que há algum tempo já pensava em montar uma espécie de “lista” com as brasileiras cicloturistas em grandes viagens solo, imediatamente abracei a ideia. O texto a seguir é uma pequena homenagem à Renata e a todas as mulheres que tomam em suas mãos o poder e a responsabilidade de realizar o que são de verdade.
Numa época em que pouco se falava sobre viagens de bicicleta no Brasil, algumas mulheres como Cau1, Chica2, Yasmin3 e Aurora4 abriram os precedentes de uma grande revolução no cicloturismo.
De lá pra cá, a lista de mulheres em viagens solo vem sendo engrossada por aquelas que decidiram fazer de suas férias uma aventura em duas rodas, em viagens de curta e média duração.
Nesse momento, pelo menos sete mulheres brasileiras estão viajando sozinhas em grandes viagens de bicicleta. Esse número, que no ano passado era dez, demonstra, mais do que a popularização do cicloturismo em nosso país, que as mulheres estão assumindo cada vez mais a responsabilidade sobre seu destino.
Fazendo jus à característica tipicamente feminina de ser “multitarefa”, elas não economizam esforços nem criatividade para abraçar e vivenciar sua natureza nômade.
Mais do que quilômetros, essas mulheres colecionam em seus alforjes experiências transformadoras – ao abrir seus braços para o mundo, recebem o abraço e a bondade do Universo, e dos seres que nele habitam.
Conheça a geração de cicloturistas brasileiras que está desbravando as Américas e o mundo:
Ada Cordeiro
Uma pedalADA pela América
“Uma viagem de bicicleta é perfeita para conhecer de maneira mais intensa os lugares e principalmente as pessoas locais. É a chance de conhecer o outro, mas de se autoconhecer também. E uma oportunidade de levar pra vida o desapego, carregar consigo apenas o essencial, dando valor ao que realmente é importante.”
Natural de Itabira/MG, 1981
Viajou de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, visitando 12 países da América do Sul (Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). E a viagem nunca termina, já tem em mente roteiros para a próxima.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como Funcionária Pública em Brasília/DF. Durante a viagem encontrou diversas formas de ganhar dinheiro ou realizar escambo (postais da viagem, artesanatos, comidinhas e serviços em hostels).
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Ana Laura Teixeira Afonso
Ana pela América
“Ter essa disponibilidade para viajar assim é estar aberto ao mundo, ao fazer diferente! Conhecer o estilo de vida de cada pessoa que encontramos pelo caminho é amar a todos sem diferença, é valorizar todas as culturas, percebendo que nenhuma é melhor ou pior que a outra, nenhuma é certa ou errada. A estrada é uma professora e tem muito a nos oferecer.”
Natural de Araxá/MG, 1989
Iniciou a viagem em fevereiro de 2016, fez uma pausa para se recuperar de uma lesão e retornou para a estrada em fevereiro de 2017. Já visitou cinco países da América do Sul (Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Brasil). No momento está em Pernambuco, Brasil.
Antes de iniciar a viagem era estudante de Tecnologia de Alimentos em Uberaba/MG. Durante a viagem produz e vende artesanatos.
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Carol Emboava
Giramérica
“Viajar de bicicleta é a prática do desapego, é levantar âncora, içar velas e ver onde o vento te leva.”
Natural de Pindamonhangaba/SP, 1981
Iniciou a viagem em agosto de 2013 e já visitou seis países da América do Sul (Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e Peru). No momento está no Maranhão, Brasil.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como professora de Educação Física em Taubaté/SP. Durante a viagem trabalhou como babá, monitora infantil, guia de turismo, vendedora, trabalhou também em um restaurante e em um hotel.
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Cristiane Maria Dantas Ferreira
Em bicla por América
“A viagem em bicicleta foi uma busca interna e externa por leveza e por viver com o essencial, descobrir lugares e pessoas espetaculares, me encantar com lugares, sua cultura e seu povo. Tocar o coração das pessoas, e me deixar ser tocada por eles. Ser feliz!!!”
Natural de Salvador/BA, 1974
Viajou de fevereiro de 2015 a junho de 2016, visitando seis países da América do Sul (Uruguai, Argentina , Chile, Bolívia, Peru, Equador).
Antes de iniciar a viagem trabalhava como dentista em Palmeiras/BA.
Durante a viagem trabalhou como dentista voluntária na ONG Corazones (Peru) e na Municipalidade de Santa Cruz – Galápagos (Equador). Trabalhou também como ajudante de cozinha, garçonete, auxiliar em pousada, artesã e vendendo coxinhas e brigadeiros.
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Franciele Tais
Giramérica
“Tu podes alcançar e realizar tudo que tu queres, desde que tu use teu pensamento a teu favor.
Uma frase que me define: SOY LAS GANAS DE VIVIR.”
Natural de Timbó/SC, 1991
Iniciou a viagem em agosto de 2015 e já visitou 4 países da América do Sul (Argentina, Chile, Bolívia e Peru). No momento está no Peru.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como programadora de produção e sistema de gestão de qualidade em Timbó/SC. Durante a viagem já trabalhou em bares e restaurantes como garçonete.
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Juliana Hirata
Extremos das Américas
“Viajar não é sobre destinos, nem sobre velocidade, é sobre o caminho e a viagem dentro de você.”
Natural de São Bernardo do Campo/SP, 1980
Iniciou a viagem em abril de 2016 e já visitou três países da América do Norte e Central (Alaska (EUA), Canadá, EUA e México). No momento encontra-se na fronteira México-Belize.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como bióloga (ecóloga), consultora e professora na cidade de São Paulo/SP. Durante a viagem prestou serviços de consultoria em Parques dos EUA, e segue escrevendo para revistas, jornais e sites, além de estar trabalhando em uma série de livros infantis.
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Lucineide Lima
Solita a Pedal
“Segues sempre os desejos do seu coração, segues seus sonhos.”
Nascida em Guaraí/TO, 1988
Iniciou a viagem em outubro de 2015 e já visitou 15 países da América do Sul e Central (Brasil, Uruguai, Argentina, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, Belize e México). No momento encontra-se em Playa del Carmen, México.
Antes de iniciar a viagem trabalhava em Florianópolis como caixa em uma cafeteria. Durante a viagem já trabalhou como massoterapeuta, jardinagem, vigilante e atendente, venda de artesanatos, além de trabalhar como cozinheira no barco para financiar a travessia do Canal do Panamá.
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Mariana Gonçalves de Aquino
Se minha viagem tivesse um nome seria: “Os anos mais felizes da minha vida”, pois encontrei um caminho que me traz muita felicidade e a maior sensação de liberdade que eu já experimentei.
“Não importa o que seja (contando que não atrapalhe a vida de ninguém), viva seu sonho!!!”
Natural de Brasília/DF, 1983
Viajou de maio de 2014 a outubro de 2016, visitando 24 países da Ásia e Europa (Portugal, Espanha, França, Itália, Croácia, Bósnia & Herzegovina, Montenegro, Albânia, Bulgária, Macedônia, Turquia, Nepal, Romênia, Sérvia, Hungria, Eslováquia, Áustria, República Checa, Alemanha, Tailândia, Camboja, Malásia, Kosovo, Inglaterra). Está se preparando para partir em 2018 rumo à Ásia Central.
Antes de iniciar a viagem era estudante de História em Florianópolis, trabalhando em Projetos da Universidade. Durante a viagem trabalhou em diversas atividades, desde professora de ioga a cozinheira, artesanato, colheita de uvas, modelo vivo etc.
E-mail / marigaquino@gmail.com
Pãmella Valdez Marangoni
100 frescura e 1000 destinos
“Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história.”
Natural de Dourados/MS, 1988
Iniciou a viagem em março de 2016 e já visitou nove países da América Central e Sul (Brasil, México, Cuba, Belize, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica). No momento está na Costa Rica.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como desenhista de projetos arquitetônicos em Bonito/MS. Vendeu brigadeiros pra levantar o dinheiro pra comprar sua bicicleta, e durante a viagem já trabalhou como faxineira, vendedora, fotógrafa, massagista etc.
Facebook /100Dinheiro100FrescuraE1000Destinos
Viviane Benjamim
“Nunca estou só, pois sempre tenho a companhia de mim mesma.”
Natural de Mairiporã/SP, 1981
Iniciou a viagem em março de 2016 e já visitou nove países da América do Sul (Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela). No momento encontra-se na Patagônia.
Antes de iniciar a viagem trabalhava como instrutora de autoescola em Franco da Rocha/SP. Durante a viagem vende adesivos e chaveiros.
Facebook /vivi.benjamim