Um dos maiores granfondos da Itália, a Maratona dles Dolomites atrai milhares de ciclistas amadores para a cadeia montanhosa dos Alpes orientais no norte do país. A brasileira Flávia Teixeira vivenciou esta experiência e compartilha abaixo a emoção de estar neste verdadeiro conto de fadas do ciclismo!

Serpenteando os caminhos das montanhas das Dolomitas, 8.903 ciclistas iniciaram a 30ª edição da Maratona dles Dolomites 2016. O pelotão é tão grande que são necessários mais de 30 minutos até todos passarem pelo pórtico da largada.

Essa história de sucesso começou em 12 de julho de 1987, com 166 ciclistas largando para a primeira edição. O National Geographic descreveu a Maratona dles Dolomites como “uma das maiores, mais apaixonantes e mais caóticas corridas de bicicleta”. A brasileira Flávia Teixeira teve o prazer de escrever uma parte dessa história, participando da edição deste ano, que aconteceu em 03 de julho. Inspire-se no relato dela e comece a treinar: você vai querer estar lá no ano que vem!

© Moling Alex / Enel IMPRESSIONS

Maratona dles Dolomites, por Flávia Teixeira

Sim, eu confesso… Sou daquelas pessoas que não conseguem resistir a um bom desafio! E quando o desafio envolve um esporte encantador como o ciclismo e um roteiro fascinante de viagem? Ahh, toda e qualquer cogitação em resistir cai por terra!

Como o destino se encarrega do restante, ou seja, colocar no caminho as pessoas certas no momento certo, recebi o convite da Italy Bike Tour – associação que promove cicloturismo na Itália, através da sua proprietária Cecilia Rocha Mendes, para participar da rainha dos granfondos, a Maratona dles Dolomites!

© Moling Alex / Enel IMPRESSIONS

“uma das maiores, mais apaixonantes e mais caóticas corridas de bicicleta”.

Claro que na mesma hora meus olhos brilharam e o coração disparou pelo simples fato de me imaginar pedalando naquele cenário estonteante, em meio a quase nove mil ciclistas de 62 nacionalidades diferentes, enfrentando legendárias subidas como Campolongo, Sella, Pordoi, Gardena, Giau, Falzarego e Valparola, num evento tão tradicional que todo o percurso da prova é fechado para o trânsito dos veículos automotores.

Flávia Teixeira

Passagens compradas e malas prontas, viajei com o conforto de levar somente meus itens pessoais para o turismo e para pedalar (capacete, sapatilha e pedais). A Italy Bike Tour, sempre prezando em oferecer o mais completo serviço, alugou a bike, não menos que uma Cipollini, e fez os ajustes condizentes com as minhas medidas.

Totalmente merecedora do título de Patrimônio Mundial da Unesco, as Dolomitas são de uma beleza incrível! Seduzida pela paisagem, fui tirando fotos e mais fotos, no intuito de registrar todos os nuances daquelas montanhas. Na vila Alta Badia, a infraestrutura prima por atender o turista de forma sofisticada com seus hotéis requintados, uma deliciosa gastronomia e gentis habitantes.

Houve tempo para tudo desde a retirada do kit e visita à feira de exposição da prova até comprinhas em bike shops (afinal, qual ciclista não quer ver as novidades ou não precisa de alguma coisinha… Nem que seja mais uma câmara e um tube de CO2 reservas no caso do pneu furar, uma capa de chuva ou um modelo novo de luz de led para a bike?). Dois dias antes da prova, fizemos um treino importante para testar as bikes e familiarizar com o percurso Sellaronda acompanhados pelos guias e carro de apoio da Italy Bike Tour.

© Enel by Sportograf

“O pelotão é tão grande que são necessários mais de 30 minutos até todos passarem pelo pórtico da largada.”

A organização da prova propõe ao participante três percursos: o Sellaronda, com 55 km e 1.780 m de ascensão; o percurso médio, com 106 km e 3.130 m de ascensão; e a Maratona, com 138 km e 4.230 m de ascensão.

© Freddy Planinschek

A largada, muito bem organizada e sinalizada, é na Villa e ocorre em ondas, respeitando o número da inscrição. Assim, o cenário que se apresenta é um “mar” de ciclistas em meio às montanhas, cada um com suas expectativas (eu, em particular, estava até com um friozinho na barriga) e com um helicóptero sobrevoando… De arrepiar!! Então, é dada a largada!

© Moling Alex / Enel IMPRESSIONS

“é uma prova dura, que requer preparação física e psicológica”

O percurso do Sellaronda (Passo Campolongo – Arraba – Passo Pordoi – Loc. Roja – Passo Sella – Plan de Gralba – Passo Gardena – Corvara) é comum a todos. Aqueles que optam pelos 106 km, depois de Corvara, enfrentam novamente o Passo Campolongo, para subirem Falzarego, Valparola, passando por San Cassiano e La Villa antes de finalizarem em Corvara. Aos Maratonistas, antes de Falzarego, e já com 97 km pedalados, fica reservado o tão famoso Passo Giau, 9,9 km de extensão e 9,3% de inclinação média!

No meu caso, achei sensato optar pelo percurso médio e tive certeza dessa sensatez quando enfrentei o Falzarego, com seus 9,4 km, mas com as pernas sentindo todo esforço feito nos 85 km já pedalados.

A Maratona Dles Dolomites é uma prova dura, que requer preparação física e psicológica, tanto para os iniciantes, cuja expectativa é completar o percurso escolhido, quanto para aqueles com vontade de melhorar a performance e bater metas de tempo. Somam-se, ainda, vários fatores externos como, por exemplo, a grande variação climática nas montanhas. Além do vento gelado nas descidas, a previsão, nos dias que antecederam a prova, era de frio e dependendo do horário, chuva. Preparei-me, colocando uma segunda pele, a blusa, o corta-vento e ainda um casaco impermeável. Sim, nos deparamos com um céu nublado, mas a temperatura estava amena, inclusive nas descidas. Temendo entrar em “overheating”, tive que me virar para guardar casaco e scarfe que estavam em excesso na minha vestimenta e não me descuidei da hidratação. Sempre lembro do conselho do meu técnico, da minha nutricionista e dos atletas mais experientes: não se pode descuidar da hidratação e nem da alimentação. Caso contrário, paga-se um preço alto pois a quebra é certa! Neste aspecto, mais uma vez a organização esteve de parabéns, colocando postos de hidratação e de alimentação estratégicos e oferecendo com fartura água, coca-cola, repositor de sais minerais, frutas, waffles, sanduíches de presunto e tortinhas.

© Divulgação

Enfim, prova de endurance é isto: preparar-se fisicamente, condicionar-se psicologicamente para ficar um longo período em atividade e montar sua própria estratégia. Na Maratona Dles Dolomites, esse conjunto solidifica o desafio e a paisagem deslumbrante das montanhas o veste de encantamento.

Quando cruzei a linha de chegada, fui tomada pela emoção única de haver completado meu primeiro granfondo e no mais alto estilo, vivendo um conto de fadas do ciclismo!