Circuito de Cicloturismo Desafio de Anita: uma nova revolução.

Amanhece o mais novo Circuito de Cicloturismo de Santa Catarina, do Brasil e do Cone Sul: o Desafio de Anita! E como todo amanhecer, traz consigo revoluções. Como diria o poeta das ruas, Cesar Jihad, “a revolução começa onde termina o conformismo”. Ele, o Circuito Desafio de Anita, une as cidades-irmãs de Laguna e Tubarão, junto ao litoral sul do estado, e foi apresentado a nós, generosamente, entre os dias 27 e 31 de maio. Em nome de revoluções e evoluções, em nome de Anita Garibaldi, amanhece o nosso mais novo Circuito de Cicloturismo.

A instituição deste circuito pode ser entendida como uma ‘nova revolução’ no cicloturismo por se tratar de mais uma oportunidade onde a bicicleta, revolucionária por natureza, se demonstra transformadora das realidades, mais uma vez. Aliás, admitir que bicicletas e mulheres sejam revolucionárias por natureza é um feliz cúmulo do pleonasmo.

Fomos convidados pelas idealizadoras e gestoras do circuito, Prika Lourenço e Ângela Finardi, empresárias da Encantos do Sul Operadora de Viagens, a pedalar e presenciar este feito ousado. De quebra, fomos brindados com a graça de pedalar junto a um ícone do ciclismo uruguaio, Don Luis Omar Pineyrua Gallero, que adotou esta região e passou seu legado ao filho, o estimado ciclista Jorge Alejandro Pineyrua Cernada.

Em tempo, a expressão ‘desafio’, presente na denominação do circuito, originada do latim disfidare, quer indicar uma positiva aposta, um convite ousado a jogar-se às jornadas na companhia da própria confiança, em direção a revisitar a memória das paisagens e da cultura de um povo.

Falando em ousadias, evoluções e revoluções, o Circuito de Cicloturismo Desafio de Anita será o primeiro a participar de um Projeto de Gamificação, em App chamado Route Riders, desenvolvido pelo Instituto Caranguejo de Preservação Ambiental.

Nele, através de trinta QRCodes espalhados pelo território de Laguna e Tubarão, a experiência lúdico-cultural do usuário poderá ser ampliada, além de gerar dados sobre o comportamento do turista continuamente, contribuindo com as tomadas de decisão da gestão do circuito. Inovação a serviço da cultura! Mais uma revolução!

Seria como pensar que a própria “Heroína de Dois Mundos”, a lagunense Anita Garibaldi, estivesse propondo uma revisitação à história a bordo de bicicletas, visto que um povo sem memória é um povo sem futuro, como nos lembraria a saudosa historiadora Emília Viotti da Costa. Mais que tudo, seria muito bom pensar que, assim como Anita, mulheres, novamente, estão ousando propor uma outra realidade que, mais do que desejável, é possível.

O percurso de 132 km foi escolhido e traçado para privilegiar tanto as estâncias junto ao mar, os sítios históricos e arquitetônicos, quanto as áreas onde as águas termais têm repouso, no início da transição para as terras altas. E, por falar em altimetria, o acumulado nos três trechos é de pouco mais de 500m de elevação. E qual o motivo disto?

Vale destacar a preocupação em tornar o traçado do circuito viável, também, para cicloturistas iniciantes, contribuindo para o expressivo aumento de novos ciclistas neste segmento turístico. É importante reforçar que, quanto mais cicloturistas houver, mais o turismo será impactado por um processo humanizador e sustentável da atividade, o que é bom para o ambiente, para a comunidade, empreendedores e poder público.

Foram mais de três anos gastos para que o Circuito de Cicloturismo Desafio de Anita estivesse apto a receber gente de toda parte, como se percebeu durante os dias de lançamento. Idealizado para ser percorrido com calma em três dias de pedalada, o Desafio de Anita tem início e término no Rio do Pouso Termas Hotel, onde a hospitalidade, boa mesa e banhos em águas convidativas são parte de uma equação que dá certo.

Totens com placas diretório e sinalização vertical acessória estão dispostos pelo percurso, indicando a progressão do ciclista, os atrativos do trecho e check points, além da quilometragem por trecho.

As idealizadoras e gestoras do Desafio de Anita, apoiadas por alguns incansáveis empreendedores locais, como o Jorge, da UsoBike, o João Batista, da RasgaMar e o Sid, do Rio do Pouso Termas Hotel, entre outros, buscaram integrar caminhos que conectassem atrativos históricos e turísticos já reconhecidos à economia criativa e ao desenvolvimento rural sustentável. Que legal!

Ao passar pela Ponte Baixa sobre o Rio Tubarão, logo nos primeiros quilômetros de pedalada, o cicloturista ingressa na viagem por um tempo, um lugar e um sentido.

Aos poucos, o percurso de 59,5km do primeiro trecho leva ao Museu Ferroviário de Tubarão, onde fragmentos de composições, máquinas e vagões em competente estágio de restauro apresentam parte da história da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina.

Atenção redobrada para alguns dos trechos urbanos onde não há cicloestruturas, tráfego calmo e compartilhado ou cultura da bicicleta. Acreditamos que, com o incremento vindo a partir de um circuito de cicloturismo, esta realidade será percebida pelos gestores e pela própria comunidade. É uma grande oportunidade para repensar a mobilidade urbana e a micromobilidade, afinal, lembramos, sempre, que se uma cidade não é efetivamente boa para o cidadão, não o será para o turista.

Seguindo o pedalar, chega-se ao Memorial de Anita, em Morrinhos, onde a inscrição hic nacitur annita itálica gens posuit e um painel feito pelo artista tubaronense Willy Alfredo Zumblick, um dos mais representativos artistas plásticos catarinenses, homenageiam a memória da revolucionária.

O local, à época do nascimento de Anita, pertencia a Laguna e, hoje, pertence a Tubarão. Percebem a relação entre Anita, Tubarão e Laguna?

Então, quero assim afirmar que, Anita e seu legado de coragem e não conformismo, mais do que das duas cidades, são do mundo.

Seguindo pedal adentro pela Estrada Geral da Madre, de onde se tem uma vista do skyline da querida Tubarão, o cicloturista se dirige a dois encontros únicos: o primeiro, com um mar de tirar o fôlego da Praia do Cardoso e, o segundo, com a fantástica contemplação do Farol de Santa Marta e sua Prainha, berço de economia criativa e de organização comunitária, surf e Boi de Mamão.

Deixe a bike na pousada, tome um açaí maravilhoso no RasgaMar e suba até o Farol. Ah, importante, não esqueça o babador. A vista é inenarrável!

Para abandonar o Farol de Santa Marta e sua gente incrível, pedale sem pressa contornando as dunas da Praia Grande pela Estrada Laguna Cinquenta. Atente e busque informações para acessar as praias da Galheta, Cigana, Ypuã, Ilhota, Teresa, Manelome, Gravatá e Ponta do Tamborete, pois algumas delas dependem de acesso realizado por trilha. O trecho oferece ainda vistas à esquerda, de quem segue sentido Laguna, das paradisíacas Lagoa de Jaguaruna e Lagoa do Imaruí, até chegar às pequenas pontes sobre os ilhotes da Barra.

Antes de cruzar o Canal da Barra pelo bote, até os molhes do lado oposto, observe os vários grupos de golfinhos dando espetáculo ao auxiliar os pescadores no tarrafear. Estamos falando de uma comunidade tradicional que preserva sua identidade e seus ofícios. Respeite.

Uma parada para degustar a gastronomia nativa é obrigatória e recomendável. Em nosso caso, tivemos a sorte de ser contemplados pela excelência gastronômica nativa do Geraldo Restaurante, a convite do Pedro David. Mas, há muitas outras escolhas, e o Marbelle e o Boião Restaurante, nos flancos, também são endereços de boa mesa. Vá a todos!

Após cruzar a barra, pedale pela Praia do Mar Grosso de Laguna, onde encontrará boas opções de hospedagem, algumas delas, bike friendly, como é o caso do tradicional Flipper Hotel. Os colaboradores são muito hospitaleiros e, o melhor, a bike fica guardada com você, dentro do quarto do hotel, sem problemas. Sinal de bom senso e hospitalidade!

Ainda pelo Mar Grosso, opções gastronômicas para todos os gostos.

Particularmente, o El Chicano, do gentil e criativo Chef Rafael, é um fusion surpreendentemente inovador entre as cozinhas Tex-Bra-Mex. Imagine comer clássicos da cozinha mexicana ou hambúrgueres acompanhados de geleia de butiá ou chutney de manga depois do pedal? Obs: Atenção especial para os taquitos e os pratos elaborados com uma janela de costela assada em jus com preparação de mais de 24h. Peça para o Rafa explicar o processo. A NASA, inclusive, está estudando o El Chicano. Bora pedalar!

Contornando o Morro da Glória, se acessa o Centro Histórico de Laguna, tombado pelo IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1985, passando pelas docas junto ao Mercado Municipal. Desça da bike, é a sugestão, porque há uma enormidade de prédios conservados que merecem, além da observação atenta, centenas de fotos.

Dentre eles, destacamos o Cine Teatro Mussi, a Matriz de Santo Antônio dos Anjos, o Museu Casa de Anita, o Museu Histórico e a Casa de Câmara e Cadeia, entre centenas de outros tantos. Depois desta reverência, siga pedalando tranquilo.

À Praça da República Juliana, têm-se uma visão do conjunto arquitetônico e da imponente estátua de Anita Garibaldi (1964), obra do escultor pelotense Antônio Caringi, considerado o maior estatuário da história da arte no Rio Grande do Sul. Se preferir, espere o anoitecer, deixe a bike no bicicletário da Piazza Pizzaria, deguste empanadas argentinas, ou quem sabe um brunch aos sábados, e contemple-se nos sinais do tempo.

A imagem de Anita, inclusive, é fortemente associada à revolução que está sendo conduzida na região por conta da implantação consciente de um circuito de cicloturismo. Tanto é que a própria logo do circuito traz a figura de Anita ao lado de uma bicicleta, ambas modernas diante de uma ideia absolutamente à frente de seu tempo. Revolução consciente.

Por fim, o terceiro trecho, regressando ao Rio do Pouso Termas Hotel, passa ao lado da Ponte Anita Garibaldi, num projeto estaiado com quase 3km de extensão, e que pode ser devidamente observada costeando a Estrada de Ferro Tereza Cristina, desde a Ponta das Laranjeiras, contrastando com a Lagoa de Cabeçudas e os bairros da costa.

O restante do caminho adentra os espaços rurais, onde a agricultura de subsistência e pequenos empreendimentos, distantes do centro urbano, buscam sobreviver.

O cicloturismo pode ser ou dar um novo alento a estes ambientes, principalmente com novos negócios voltados ao desenvolvimento rural sustentável e à economia criativa.

O silêncio das rodas da bike impacta positivamente estes cenários e traz, através do planejamento e da capacitação das pessoas para servir, incremento de receita alternativa através de um Turismo, também, Alternativo.

Chegando ao Rio do Pouso Termas Hotel, depois de guardar sua magrela no seu quarto, quando estiver na banheira com água a 37 graus, agradeça à memória de Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi, a jovem revolucionária, cujo exemplo e história, me ajudaram a escrever este texto.

2021 – Ano do Bicentenário da catarinense Anita Garibaldi.

Viva Anita! E viva a bicicleta, sempre!


BOX DE SERVIÇO

Gestão do Circuito de Cicloturismo Desafio de Anita

Encantos do Sul Operadora de Viagens

@circuitodesafiodeanita

https://www.circuitodesafiodeanita.com.br/

(48) 99122-7090

Priscilla Lourenço e Ângela Finardi

Empreendimentos citados nesta matéria:

Rio do Pouso Termas Hotel

@riodopousotermashotel

48 36221660

Sidicley Graciano e Rowilson Miranda

Uso Bike Laguna

@usobike

(48) 998067618

Jorge Alejandro Pineyrua Cernada

Flipper Hotel

@hotelflipper

(48) 3647-0558

Andresa Aquilino Caldas

Geraldo Restaurante

@geraldorestaurante

(48) 3647-5026

Pedro David

El Chicano

@elchicanoficial

(48) 99909-5712

Chef Rafael

Espaço Rasga Mar

@rasgamar

João Batista