A Sense optou por entrar no e-MTB, como é chamado, com uma modelo full suspension aro 29”, decisão bem sábia no nosso ponto de vista, já que é onde acreditamos que está a maior diversão.

Impressões Iniciais

Como uma boa bike elétrica de all mountain, a primeira impressão visual é de uma bike robusta, porém não remete as mais monstruosas bikes de enduro, já que os pneus não são muito largos e a suspensão dianteira é uma Rock Shox Reba, modelo de canelas um pouco mais finas.

Diferente de outras marcas, a Sense optou por ter uma bateria externa e não integrada dentro do downtube. Segundo o fabricante, assim a bike fica mais parecida com uma bike tradicional. Para nós, é uma questão muito pessoal.

O grafismo nos agrada, sendo uma bike preta, com detalhes laranjas e azuis, tanto no quadro, quanto no selim e suspensão dianteira. O espaçamento dos eixos é boost, com os freios montados no padrão post mount. O cabeamento é parcialmente interno, passando por dentro do quadro na porção dianteira e por fora na traseira.

Componentes

A Impulse E-trail se encaixa na categoria trail / all mountain, devido aos seus componentes, curso e geometria. Conta com 140 de curso na suspensão traseira e dianteira, sendo a primeira uma Rock Shox Reba RLR29, específica para e-MTB, que possui trava no guidon. Já a suspensão traseira é uma Rock Shox Monarch RL, com trava externa, mas não remota.

A relação tem cassete SLX de 11 velocidades (11×46), passador também SLX, enquanto o câmbio traseiro é um XT. Ela vem equipada com uma pedivela E8000 com coroa de 34 dentes que traciona uma corrente HG601.

Os freios são os Shimano XT M8000 já com 4 pistões, sendo o rotor dianteiro de 203 mm e o traseiro de 180 mm.

As rodas são DT Swiss H1900 Spline, ambas com eixo passante e espaçamento Boost, montadas em pneus Schwalbe Nobby Nic 29 x 2.35. Apesar do pneu e rodas serem compatíveis com tubeless, a bike vem montada com câmara de ar de fábrica. No nosso teste usamos de ambas as maneiras.

Motor

Pesando apenas 2.8kg, o Shimano Steps E8000 é o motor mais avançado da Shimano. Alimentado por uma bateria com capacidade de 504 Wh, ele é capaz de gerar uma potência de 250 watts com bons 70Nm de torque.

Com os modelos Eco, Trail e Boost, ele fornece assistência de até 300%, além de ter um “Modo de caminhada” para ajudar a empurrar a bike em subidas muito inclinadas. A unidade é controlada por um display eletrônico LCD e por um passador que fica do lado esquerdo do guidão para alternar entre os modos. O sistema pode ser completamente configurado através do aplicativo E-Tube da Shimano.

Duas das maiores vantagens Steps são a fluidez de funcionamento e o Q-Factor (distância entre as pedivelas) idêntico aos de bicicletas sem pedal assistido. Em ambos os casos, os fatores contribuem para que a Impulse E-Trail “pedale” de forma similar a uma bike convencional.

Geometria

A geometria da E-Trail é típica de uma bike de trail ou enduro leve. A caixa de direção tem 67 graus, enquanto o tubo do selim tem um ângulo de 74 graus na M e 75 na L. Em ambos os casos, trata-se de uma configuração que desloca o piloto relativamente para frente quando se está sentado, facilitando o trabalho do ciclista montanha acima.

© Pedro Cury

No quesito alcance, a bike não é especialmente longa, embora o tamanho L seja bem mais comprido que o M (405,3 mm VS 440 mm). Somado ao chainstay de 460 mm, na média para bicicletas elétricas, a E-Trail fica com a distância entre-eixos de 1174,1 mm e 1216,7 mm, números que conferem boa agilidade ao conjunto.

O Teste

Tivemos a oportunidade de testar a Sense em terrenos muito variados e, ainda melhor, pedalamos com ela por mais de 10 dias na Suíça, em diferentes regiões e em todo tipo de situação.

© Thiago Lemos

Subindo

Nas e-MTBs, as subidas são vistas de uma forma diferente. Como temos a ajuda do motor, uma subida pode ser simplesmente um deslocamento ou então pode ser uma grande oportunidade de diversão, usando toda força do motor para vencer subidas quase impossíveis para uma bike convencional.

Como esse motor fornece 250 watts de potência e 70Nm de torque, subir apenas como deslocamento não teve qualquer problema. Em subidas bem íngremes e não técnicas, tivemos que acionar o modo Boost algumas vezes e, mesmo na marcha mais leve, manter bem o equilíbrio lateral pedalando em cadência baixa. A ótima notícia é que a bike não mostrou nenhuma tendência de empinar a frente. Usamos o tamanho L.

Nos ataques propositais e subidas mais técnicas, a bike também se saiu bem, mostrando previsibilidade e ficando limitada apenas por não usar uma pressão mais baixa nos pneus que traria maior tração em algumas situações (ver seção Pneus).

Ficha Técnica

  • Quadro Sense, alumínio SL 6061 t4-t6 dupla espessura / Horst Link / Cabeamento full interno / Boost / Eixo e-thru 12x148mm
  • Suspensão Dianteira Rock Shox Reba RLR29
  • Suspensão traseira Rock Shox Monarch RL
  • Motor Shimano E8000
  • Rodas DT Swiss H1900 Spline – Boost
  • Pneus Schwalbe Nobby Nic 29 x 2.35
  • Freios Shimano XT M8000 – 4 pistões
  • Rotores de freios Shimano RT-EM800 203mm frente / 180 mm trás
  • Passador traseiro Shimano M7000-R
  • Câmbio traseiro Shimano XT M8000
  • Pedivela Shimano E8000 34T 170MM
  • Cassete Shimano M7000 11 X 46
  • Corrente Shimano HG601
  • Selim Fizik Gobi
  • Canote Sentec Dropper
  • Guidão Sentec 760mm Back Sweep 9° Rize 6°
  • Manoplas Sentec
  • Mesa Sentec 70MM X 35.0
  • Tamanhos M e L
  • Garantia 5 anos no quadro/demais componentes de acordo com cada fabricante
  • Peso divulgado 21.10 kg
  • Preço sugerido R$ 26.990,00
© Pedro Cury

Travas nas suspensões Necessário?

Uma discussão interessante que podemos ter agora com as bikes elétricas é a necessidade de travas, principalmente travas remotas. Vamos lembrar que este é um recurso tanto de desempenho, quanto de economia de energia. Porém, quando que essa situação ocorre em uma bike trail elétrica?

Sim, mesmo com o motor, é sempre interessante economizar energia. Isso vai resultar em uma maior duração da bateria.

Porém, em que situações? Trechos longos e menos técnicos, onde não há qualquer prejuízo em travar as suspensões manualmente, certo?

Pensando assim, achamos que a trava remota, presente apenas para a suspensão dianteira, não traz benefícios e ainda atrapalha, já que é mais um mecanismo preso ao guidon, junto com passador de marcha, passador de modos de motor, visor LCD e acionamento do canote ajustável.

Descendo Suspensões

Apesar da bike ter encarado sem problemas todas as situações cabeludas que passamos, o funcionamento da suspensão precisa de um ajuste bem fino para agradar nas descidas mais técnicas. Como em outras elétricas que já testamos, o peso extra da bateria e motor acaba tornando a bike com uma sensação menos reativa e traz mais fadiga aos braços, então acertar bem as suspensões e pressão do pneu é muito importante.

Pneus

Falando em pneus, esse é um ponto em que a bike precisa realmente melhorar. Poder usar pressões bem baixas ajuda muito a diminuir a sensação menos reativa. Infelizmente, os Schwalbe Nobby Nic, mesmo usando tecnologias de proteção, ainda são muito propensos a furos por snakebite, tirando assim a possibilidade de usar pressões muito baixas.

Claro que a opção de usar tubeless vem à cabeça, e na verdade, foi o que fizemos no início, mas tivemos um impacto forte que empenou a lateral do aro e, sem ter ferramentas para desempeno, tivemos que optar pela câmara de ar. Se o terreno não tiver pedras, essa situação não acontecerá. Ao mesmo tempo, não vemos nenhum motivo para não usar pneus mais robustos em uma bike elétrica.

Até mesmo se o terreno não for super técnico, um pneu mais largo com pressão mais baixa vai deixar a bike mais divertida na nossa opinião, já que vai trazer mais conforto e tração em muitas situações.

Curvas

Como já esperávamos de uma bike elétrica e de rodas 29, é preciso acostumar com o “jeitão” dela fazer curvas. Uma vez acostumados, não vimos muitos problemas. Comparando com nossa experiência com testes de outras elétricas, ela se manteve uma bike com comportamento bem neutro em curvas.

Algumas trilhas que fizemos na Suíça tiveram situações extremas em singletracks com cotovelos bem fechados e inclinados. Nesta situação percebemos a limitação da geometria mais trail, menos agressiva. Porém, são situações que quase só vemos aqui em pistas de downhill.

A impulse E-Trail é uma bicicleta divertida,versátil e que te lembra muito uma bike sem pedal assistido. © Pedro Cury

Motor

Podemos dizer que a maior vantagem da Sense está em sua pedalada assistida bem intuitiva. O motor traz uma sensação bem próxima a de uma bike tradicional, ou seja, não há trancos de força nem para mais nem para menos, como já sentimos em diversas outras marcas testadas.

A Shimano oferece 3 modos de força, que podem ser controlados pelo guidon em alavancas como as de marchas, Eco, Trail e Boost, dando mais potência a cada modo. O sistema também traz mais uma vantagem. É possível, nestas mesmas alavancas, desligar e ligar completamente a assistência (modo off) – essa praticidade ajuda muito a economizar bateria quando estamos em uma descida ou queremos pedalar um pouco no plano.

Computador de Bordo

Diferente de algumas outras elétricas, a Impulse E-Trail possui um bom computador de bordo, capaz de indicar diversos dados da bicicleta e também controlar os modos de atuação. Com fácil visualização, ele indica o nível da bateria, autonomia estimada em KM, velocidade, quilometragem e odômetro. Além disso, ele permite configurar os modos de atuação conforme o gosto do ciclista.

Para nós, a simples presença de um display com informações já é uma grande vantagem, principalmente pela facilidade em visualizar o nível da bateria e em que modo a bicicleta está trabalhando – informações não facilmente disponíveis em algumas outras elétricas do mercado.

Autonomia

Quem leu nosso texto Entendendo Bikes Elétricas, sabe que apesar de ser uma informação interessante, é muito difícil definir a autonomia de uma e-MTB.

Como parâmetro, conseguimos subir aproximadamente 1.500 metros, em estrada de terra, com uma inclinação média beirando a 10%, com uma bateria. Lembrando, foi apenas subida. Estamos falando de alguém em forma, com 70 kg, variando entre os modos Eco e Trail. Para complicar ainda mais, teve outro dia que acumulamos 1.000 metros de subida, usando menos de 30% da bateria.

Esse é um parâmetro tão variável que vamos deixar de fora dos próximos textos. Mas como informação, a autonomia está dentro do esperado.

Conclusão

A Impulse E-Trail é uma bicicleta divertida, versátil e que lembra muito uma bike sem pedal assistido. Seu preço, quando comparada com modelos importados, é bem interessante, sendo a relação custo-benefício um de seus pontos altos. O sistema de propulsão funciona sem trancos e mostrou boa eficiência durante o teste. Se você anda em locais muito esburacados e com pedras, os pneus podem deixar a desejar, sendo esse o ponto mais fraco do modelo.