Existem pneus que se tornaram famosos por terem aderência, resistência ou durabilidade. E também existem aqueles famosos por furarem com facilidade. Independente de pneu, todo ciclista está à mercê de um indesejável furo, e consequentemente, da chata tarefa de trocar o pneu. Isso exige ferramentas, peças, tempo e muita paciência.

Aparentemente, a melhor solução seria criar um pneu ‘infurável’. Muitas pessoas e empresas já tentaram muitas coisas em busca desse pneu, e alguns até conseguiram criar modelos muito resistentes. Mas essa resistência implica em pneus pesados ou muito duros e gera desconforto ou pouca aderência.

A solução vem de dentro

Não encontramos informações precisas sobre quem inventou o líquido selante e quando fez isso. O ponto é que um belo dia, alguém que provavelmente se incomodava muito com isso percebeu que o problema não eram os furos. O problema era deixar o ar vazar! Parece contraditório… mas é isso mesmo: furos, sim. Vazamentos, não!

O líquido selante é, como o nome diz, um líquido que sela o pneu por dentro contra pequenos vazamentos. O princípio é bem simples: um líquido espesso, denso, composto de fibras e adesivos, que com a rotação da roda, se espalha e forma uma fina camada por todo o interior do pneu. Assim que algo perfura o pneu, a reação inicial é o vazamento do ar sob pressão. Mas como o líquido está entre o ar e o pneu, o ar acaba empurrando o líquido para dentro do furo. E como é denso e grudento, ele acaba ‘entupindo’ o furo e interrompendo o o vazamento de ar. É como se houvesse um remendo líquido correndo dentro do pneu, pronto para parar possíveis vazamentos.

O selante serve para pequenos furos e cortes leves. Se você passar por cima de uma espada com a bike, obviamente o selante não vai conseguir cobrir toda a área cortada e a pressão do ar será perdida. Mas como boa parte dos furos são causados por pequenos objetos – cacos de vidro, espinhos e pregos, na maioria das vezes – o selante dá conta do recado. Enquanto os furos forem pequenos, o selante protegerá o pneu mesmo que hajam centenas de furos.

Os ciclistas que gostam de um passeio ou treino longo, cicloturistas e outras pessoas se beneficiam muito de passar meses pedalando sem vazamentos de ar. A proteção dura enquanto o selante estiver em boas condições. De tempos em tempos, é necessário renovar.

Posologia

Cada modalidade do ciclismo possui seus próprios pneus. Grossos, finos, com poucas ou muitas garras, com 30 ou 110 libras de pressão… Cada um desses tipos de pneu recebe uma quantidade diferente de selante, ou até mesmo um tipo diferente de selante. Além disso, os valores não são universais: a quantidade de selante no pneu pode variar de acordo com a marca e modelo do selante. Mas, para ter uma ideia de quantidade, veja estas médias: pneus speed usam em média 30-50 ml por roda, já pneus de MTB usam de 80-150ml por roda. No MTB a quantidade varia muito pois os tamanhos de roda vão de 26” à 29”, além do tamanho do pneu, que pode variar de 1,5” até 2,8”.

Nota: a maioria dos selantes são feitos para pneus tubeless, mas existem também selantes específicos para câmaras de ar. Isso não quer dizer que selantes tubeless não funcionam dentro de uma câmara de ar, mas é importante lembrar disso na hora de comprar ou trocar seu selante, ou você pode jogar seu dinheiro fora.

Para pneus tubeless, o selante é, na verdade, indispensável. Senão, cada furo resultaria na troca do pneu inteiro, e isso custaria caro.

O prazo de validade dos selantes varia, começando em 2 meses e chegando a vários meses em outros. Para saber se o selante está bom, você pode balançar o pneu e verificar se é possível ouvir o barulho do selante chacoalhando lá dentro. Se ao longo das verificações o barulho começar a diminuir ou desaparecer, significa que o selante diminuiu muito ou secou. Está na hora de trocar ou reabastecer.

Vacinando o pneu

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De alguma maneira, o selante tem que entrar dentro do pneu ou da câmara para poder cumprir sua função. É possível usar uma seringa e injetar o líquido no pneu como se fosse uma vacina, afinal de contas, o selante irá vedar o furo depois. Mas como o líquido é muito espesso e possui partículas de borracha e outros materiais que podem entupir a seringa e a agulha, esse método exige uma agulha grossa, o que poderia causar um furo que o selante não conseguiria vedar. É necessário achar a agulha mais fina possível que permita a passagem do selante sem entupir. Como esse método possui um certo ‘risco’, vamos analisar outros métodos.

No caso dos pneus tubeless, o liquido é derramado dentro de pneu. Basta abrir uma fresta entre aro e pneu com espátulas e despejar o conteúdo. Simples assim!

Já no caso dos pneus com câmara, é necessário injetar o liquido através do bico da câmara. Para isso o núcleo da válvula deve ser removido, seja Presta (fina) ou Schrader (grossa). No caso da válvula Presta com miolo removível, basta desrosquear a ponta da peça e puxar para fora. Já a válvula Schrader necessita de uma ferramenta para remoção do miolo. O líquido é injetado com a ajuda de uma mangueira, bombeada por uma seringa ou frasco. Lembre-se que existem selantes específicos para uso com câmaras, mas os selantes comuns costumam funcionar.

Quando se trata de uma válvula Presta com núcleo não-removível, pode-se injetar o líquido com um selante que tenha frasco com bico longo e cônico. Esse bico pode ser cortado e usado para ‘envolver’ a válvula Presta aberta, como o bico da bomba de encher pneu faz. Então, é só apertar. Existe também um método que consiste em remover a trava da válvula e empurrá-la para dentro da câmara, prende-la com um grampo, injetar o líquido e recolocá-la no lugar. Há, porém, o risco da válvula resolver dar uma voltinha dentro câmara. Colocar a válvula de volta no lugar pode ser uma grande dor de cabeça.

Um frasco com bico bem pensado também pode ser de ajuda. Alguns selantes já trazem uma pequena peça que permite remover o núcleo das válvulas Schrader e Presta. Com um bico de frasco cônico, praticamente qualquer tipo de câmara e pneu pode receber a injeção.

Escolha bem

Assim como em praticamente todo tipo de produto, existem selantes que funcionam bem e outros que deixam a desejar. É comum que ciclistas se enganem na hora de comprar seus selantes, por isso a primeira dica é ficar bem atento ao tipo de selante que você precisa.

Depois de definir qual o tipo de selante, é recomendado pesquisar marcas e modelos conforme a necessidade e orçamento. A internet é uma das melhores ferramentas para isso. Em blogs e fóruns podem ser encontrados relatos e avaliações sobre a eficácia de cada modelo de selante. Com isso, você poderá fazer uma escolha segura.

Um dos selantes mais bem avaliados é Stan´s No Tubes! Já o Joe´s No Flats! possui vários modelos, dos quais o mais bem avaliado é o Elite Racers. Há também o CafféLatex da empresa italiana Effeto Mariposa, um selante diferente que cria uma espuma dentro do pneu, causando uma área de cobertura igual em todas as partes; tem, porém, a desvantagem de demorar mais para selar os furos. A alemã Continental também está presente no mercado com o Revo Sealant. Também estão no mercado Rubena, Oko-Extreme, Zéfal, Mavic, Michelin, Sludge, WTB e Kombat. E não poderia ficar de fora o Slime, selante verde que não se incomoda com gás CO2 (muitos selantes perdem eficiência ao entrar em contato com esse gás) e continua vedando muito bem por vários e vários meses.

Algumas marcas como Zéfal, Slime, Michelin e Hutchinson contam com selantes aerossóis, que são facilmente injetados por pressão, úteis para quem precisa de uma carga rápida, como competidores durante provas. Esses modelos de selante não só reparam os pneus, mas também o inflam, recuperando perdas de pressão decorrentes dos furos.

Fita anti-furo

Existem outros meios de evitar perdas de ar em um pneu. Muitas pessoas optam pela fita anti-furo, uma fita casca grossa que fica entre o pneu e a câmara, impedindo que a câmara fure. Por isso muitos se perguntam: fita anti-furo ou líquido selante?

Essa pergunta não tem resposta definida, pois os dois produtos agem de formas diferentes e geram resultados diferentes. Por exemplo: Uma fita anti-furo consegue impedir cortes grandes, mas se algo como um prego comprido a traspassar, o ar vazará. Já o selante conseguiria vedar o furo do prego, mas não conseguiria conter o vazamento de ar de um corte.

É importante analisar qual opção se encaixa melhor para as suas necessidades. Antes de tudo, priorize a compra de um bom pneu e calibre-o na pressão correta, indicada pelo fabricante na lateral do pneu. Depois decida se no seu caso será necessária mais proteção e qual o tipo apropriado.

Compensa?

Sim, compensa! Como dito, o selante funciona contra pequenos furos, mas os pequenos furos são justamente a maioria. Lembre-se que no caso do selante, seu pneu vai furar, mas você nem vai perceber.

Para os aficionados por peso talvez a proteção pareça dispensável. Mas pense bem: quem quer o mínimo possível de peso faz isso para conseguir o melhor tempo. Porém, você perderá muito mais tempo trocando e inflando um pneu do que com algumas gramas a mais de peso para levar.

Outra questão que talvez venha à sua mente é o preço. Não se preocupe, selantes não são caros. Pode-se encontrar selante suficiente para os pneus da sua bike em torno de R$ 60,00, o que não é lá nenhuma bala de troco, mas que vai sair mais barato do que trocar a câmara frequentemente – com bem menos incômodo. Fitas anti-furo são ainda mais baratas.

Selantes e fitas anti-furo são investimentos que todo ciclista deve considerar, principalmente quem não pode parar no meio do caminho. Seja prego, vidro, espinho… selante mantém seu pedal sempre para frente!

Vídeos e tutoriais de montagem:

Pneu com câmara, válvulas Schrader e Presta, com núcleo removível

Válvulas Presta com núcleo não-removível

Tubeless