Improvável
Inédito
Histórico
Inesquecível

Com as controvérsias do isolamento social, poucas coisas no esperte recebeu tanta atenção, e polémica, como o Tour 2020.

Esta edição histórica do Tour será para sempre lembrada por uma reviravolta dramática na reta final, com Pogacar a assumir a liderança geral quando o seu rival Roglic sofreu um colapso na montanha no penúltimo dia.

Será igualmente lembrada por ultrapassar a sombra da COVID-19. A começar com dois meses de atraso devido à pandemia, a corrida começou sob rígidas diretrizes de saúde em Nice, com dúvidas de que chegaria a Paris.

Mas chegou!

Depois de 3.400km de corridas intensas, os 146 ciclistas restantes largaram no domingo (20.09.20) para um desfile dos vencedores até ao tão disputado sprint em Paris.


59 segundos. A diferença do 1º para o 2º colocado, isso depois de mais de 87 horas de pedal.

O calendário de corridas de 2020 virou de cabeça para baixo por causa da pandemia. As provas foram colocadas numa sequência totalmente diferente que levaram uma eternidade para serem ordenadas. Nesse ano, a maioria das equipes decidiram focar seus principais ciclistas direto no Tour de France (que nesse ano aconteceu antes do Giro). Por conta das idas e vindas da pandemia, o receio era de que a temporada voltasse a ser interrompida, o que atrapalharia o retorno aos patrocinadores. Por isso, nem todo mundo que participou no tour desse ano estava no seu melhor.

Mesmo assim, foi um tour com muitas emoções….afinal, o Tour…é sempre o Tour!

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Tadej Pogacar, nascido em Komenda, Eslovênia, estava prestes a se tornar profissional com Lampre logo após as categorias de juniores, nas quais conquistou a medalha de bronze no campeonato europeu (atrás dos franceses Nicolas Malle e Emilien Jeannière, que ainda não estão no pelotão profissional). Quando ele se juntou aos Emirados Árabes Unidos no final de 2018, ele estava programado para montar seu primeiro Grand Tour, seja o Giro ou La Vuelta, em 2020, para fazer sua estreia no Tour de France em 2021 como parte de seu processo de aprendizagem anterior voltando com ambições em 2022. A realidade é que ele já subiu ao pódio da La Vuelta no ano passado, sendo apenas um dos três pilotos no top 3 de um Grand Tour desde a 2ª Guerra Mundial antes de completar 21 anos, junto com Antonio Jimenez (Vuelta 1955) e Giambattista Baronchelli (Giro 1974). E agora, ele é o primeiro piloto a vencer o Tour de France em sua primeira tentativa desde Laurent Fignon em 1983.

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A 21.ª e última etapa da Volta da França, a mais tradicional prova de ciclismo de estrada do mundo, coroou no domingo, 20 de setembro de 2020, o esloveno Tadej Pogacar. Com 21 anos – completou 22 no dia seguinte, 21.09.20 – o ciclista da equipe Emirates confirmou o seu título ao completar o percurso plano até a chegada na avenida Champs Élysées, em Paris. Ele havia surpreendido no dia anterior ao conseguir inverter, no contrarrelógio de 36 km, a vantagem de 57 segundos do compatriota Primoz Roglic, da Jumbo Visma, e colocar 59 segundos de vantagem para se tornar o segundo mais jovem vencedor da história (e o mais jovem dos últimos 116 anos).

“Uma loucura. Estou muito feliz e quero agradecer os companheiros de minha equipe. Foi um tour realmente fantástico. Se eu tivesse ficado em segundo lugar, ou mesmo em último, já seria muito legal dizer que eu disputei a Volta da França. Mas cheguei ao topo do topo. Não tem alegria maior”, disse Pogacar, com a camisa amarela dada ao líder, no pódio.

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Tadej Pogacar é o primeiro esloveno a vencer um Tour de France. Ele também é o segundo ciclista mais novo a vencê-lo. Henri Cornet venceu a prova em 1904 com 19 anos. Pogacar tinha 21.


O esloveno também levou outras duas camisas: a de melhor ciclista jovem (até 25 anos, branca) e a de melhor montanhista (camisa branca com bolinhas vermelhas). A camisa verde, dada ao melhor entre os sprinters (pontos), ficou com o irlandês Sam Bennet, da Quick Step, que venceu a etapa deste domingo. A equipe campeã, pela quinta vez seguida, foi a Movistar e o mais combativo foi o suíço Marc Hirschi.

Como é tradicional, a última etapa é plana com chegada nos Champs Élysées. Assim, os atletas completam o percurso em bloco e sem diferença de tempo. Por isso, a disputa conta apenas para os velocistas. Já os ciclistas que disputam a classificação geral (por tempo, camisa amarela), quando entram nos arredores de Paris apenas passeiam, conversam entre si, tiram fotos e até bebem champanhe enquanto pedalam, o que já vale como início de brindes e festejos para o ciclista que entra nesta etapa como líder geral e apenas com uma obrigação: completar a prova, o que Pogacar fez com tranquilidade.

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CHOSES DE LA VIE!
O Tour estava “condenado” devido a covid – mas aconteceu!
Tadej Pogacar não era o favorito – mas venceu!

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Pogacar é jovem e despreocupado. Ele é tímido e humilde, mas muito determinado a ter sucesso. “Na verdade, o meu sonho não era ganhar o Tour de France, era apenas estar no Tour de France”, disse minutos após ser presenteado com a camisa amarela. Esse sonho remonta a dez anos atrás, quando ele visitou fisicamente a corrida com seus pais Mirko e Marjeta. Ele não se lembra onde, mas estava na beira da estrada nas montanhas para assistir ao Tour de France de 2010. Ele não cita os nomes de Alberto Contador e Andy Schleck que foram os duelistas (ou mais ou menos) daquele ano porque, mais que os campeões, aos 12 anos, participou de sua primeira corrida de bicicleta pelo amor de imitar seu irmão mais velho, ele “amava a atmosfera”. O mesmo tipo de ambiente aumentou sua confiança no caminho para La Planche Des Belles Filles, onde uma enorme multidão se reuniu para celebrar o Tour de France.

No dia 25 de julho de 2010, ele também esteve na Champs-Elysées porque sua mãe não teria vindo a Paris sem visitar seus amigos dos tempos em que aprendeu a língua de Molière. Sim, Pogacar é filho de uma professora de francês! Marjeta promove tudo o que é francês em uma escola de Trbovlje, cidade natal de Roglic. “Ela adora tudo o que é francês: a língua, a cultura, a história, a gastronomia e o Tour de France é claro”, lembrou Tadej. Ele próprio não fala francês, mas um inglês muito articulado.

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Quanto recebem os ciclistas pelo Tour?

O ciclista esloveno Tadej Pogacar, recebeu 500 mil euros por vencer a prova. Ou seja, Pogacar fez 6,024€ por hora e 148,54€ por cada quilómetro percorrido. Além disso, o esloveno ganhou ainda 20 mil euros pelo prémio de ciclista mais jovem a vencer o Tour e 25 mil euros por ter sido o melhor escalador. No total, o jovem ciclista arrecadou cerca de 602.400€. No pódio final ficou ainda o também esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), segundo classificado a 59 segundos, e o australiano Richie Porte (Trek-Segafredo), terceiro a 03.30 minutos. Primoz Roglic recebeu 200 mil euros pelo segundo lugar, enquanto Richie Porte arrecadou 100 mil euros pelo terceiro. A fechar o top 10 estiveram Mikel Landa (70 mil euros), Enric Mas (50 mil euros), Miguel Ángel López (23 mil euros), Tom Dumoulin (11,500 mil euros), Rigoberto Urán (7,600 mil euros), Adam Yates (4,500 mil euros) e Damiano Caruso (3,800 euros).

O Tour repartiu 2.293 milhões de euros por 126 ciclistas, sendo que 42% do valor é dividido pelos dez melhores corredores.

E as equipes?

A equipe que mais dinheiro ganhou com o Tour deste ano foi, logicamente, a UAE Emirates de Tadej Pogacar, que arrecadou 624,230 mil euros. Em segundo lugar esteve a Jumbo-Visma de Primoz Roglic, que encaixou 342,860 mil euros e, em terceiro, a Movistar do português Nelson Oliveira, que conseguiu 166,790 mil euros.

No entanto, estes são valores muito baixos quando comparados com os praticados noutros desportos. Por exemplo, no ténis. O ano passado, o sérvio Novak Djokovic venceu o US Open e arrecadou cerca de 3,5 milhões de euros por 25 sets. Um valor astronómico quando colocado ao lado dos 500 mil euros que Pogacar recebeu por fazer 3470 quilómetros em três semanas.


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Destaques:

  • Tadej Pogacar não falhou em nenhuma montanha. Ganhou merecidamente a camisa de bolinhas
  • A Sunweb se saiu muito bem nos sprints, com quatro vitórias. A equipe se destacou com o seu trabalho conjunto muito efetivo.
  • O sprinter mais veloz foi do australiano da Lotto, Caleb Ewan. Porém, Sam Bennett foi mais regular. Bennett também tem o melhor embalador do ciclismo: Michael Morkov.
  • Morkov disputou o posto de melhor gregário com Damiano Caruso, da Bahrain. Caruso sempre esteve presente nos momentos mais importantes para Mikel Landa. E ainda conseguiu o décimo lugar na classificação geral. Agora, ele estará disponível para Vincenzo Nibali, que é o astro da Bahrain e não foi para o tour nesse ano. Vai ser uma dupla e tanto!
  • Wout Van Aert mostrou que consegue fazer tudo: foi bem no sprint, na fuga, como gregário e até no contrarrelógio. Ganhou duas etapas e poderia ter vencido mais se não estivesse como guarda-costas de Roglic.
  • Na etapa 20, os últimos 5 quilômetros foram incríveis; um final dos melhores que o tour já teve. A La Planche de Belles Filles é uma montanha curta e empinada que começou a ser usada recentemente no Tour. Quando usada como final em etapas normais sempre gera pequenas diferenças, já que os pilotos sobem em ritmo máximo até o topo. E Pogacar fez um final histórico. Foi um dos contrarrelógios mais emotivos e imprevisíveis dos últimos anos.
  • Tadej Pogacar é o primeiro esloveno a vencer um Tour de France. Ele também é o segundo ciclista mais novo a vencê-lo. Henri Cornet venceu a prova em 1904 com 19 anos. Pogacar tinha 21.
  • O vencedor do Tour do ano passado, Egan Bernal, abandonou o Tour na 17ª etapa. Os problemas para o colombiano de 23 anos começaram na quarta etapa do Critérium du Dauphiné. Ele abandonou a prova queixando-se de dores nas costas. No Tour, Bernal começou bem, estava com uma boa colocação na geral e deteve a camisa branca. Mas na etapa 15, ele começou a decair. Na 16ª, perdeu mais tempo nas montanhas. Por fim, abandonou o Tour.
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Pontos altos do Tour: a batalha pela camisa verde; etapas de médias montanhas com muitas fugas; muitas jovens promessas se arriscando em fugas; e, obviamente, a reviravolta na penúltima etapa.

Pontos baixos do Tour: poucas ações nas etapas de montanhas, principalmente depois da perda dos dois melhores e mais explosivos escaladores da edição do ano passado – o colombiano Egan Bernal (Ineos) e o francês Thibaut Pinot (FDJ); as etapas nos Pirineus foram sonolentas e, infelizmente, nas duas etapas desenhadas para ter vento cruzado e caos, não ventou.

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Tadej Pogacar, a segunda onda do rejuvenescimento

Após a vitória de Egan Bernal, o vencedor mais jovem (22) desde o início da camisa amarela cem anos antes (em 1919), Tadej Pogacar estabeleceu um novo recorde ao conquistar o Tour de France aos 21 anos – na verdade um dia antes de completar 22 anos. Primeiro esloveno com camisa amarela em Paris, tendo surpreendentemente revisto seu compatriota Primoz Roglic no contra-relógio conclusivo até La Planche des belles filles, o piloto da Emirates Team Emirates pegou a camisa de bolinhas e branca como bem. Ao fazer isso, ele provou que o primeiro rejuvenescimento da comunidade de campeões de ciclismo não foi apenas uma coincidência no ano passado, com o Remco Evenepoel da Bélgica aparecendo como o próximo grande acontecimento. Foi gravada na pedra porque Pogacar já sucedeu a Bernal no livro dos recordes do Tour de l’Avenir (em 2018) e do Tour of California (2019)

Classificação final

  • 1                TADEJ POGACAR          UAE TEAM EMIRATES    87h 20′ 05”        
  • 2                PRIMOŽ ROGLIC          TEAM JUMBO – VISMA  87h 21′ 04”         + 00h 00′ 59”    
  • 3                RICHIE PORTE                TREK – SEGAFREDO         87h 23′ 35”         + 00h 03′ 30”    
  • 4                MIKEL LANDA                BAHRAIN – MCLAREN     87h 26′ 03”         + 00h 05′ 58”    
  • 5                ENRIC MAS                    MOVISTAR TEAM            87h 26′ 12”         + 00h 06′ 07”    
  • 6                MIGUEL  LOPEZ             ASTANA PRO TEAM        87h 26′ 52”         + 00h 06′ 47”    
  • 7                TOM DUMOULIN         TEAM JUMBO – VISMA  87h 27′ 53”         + 00h 07′ 48”    
  • 8                RIGOBERTO URAN       EF PRO CYCLING              87h 28′ 07”         + 00h 08′ 02”    
  • 9                ADAM YATES                  MITCHELTON – SCOTT    87h 29′ 30”         + 00h 09′ 25”    
  • 10              DAMIANO CARUSO     BAHRAIN – MCLAREN     87h 34′ 08”         + 00h 14′ 03”                    
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Vídeo: OS MELHORES MOMENTOS DO TOUR 2020

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Todas as fotos são uma cortesia da A.S.O (Amaury Sport Organization)