Por definição, a condromalácia significa amolecimento da cartilagem do osso denominado patela. Este osso fica bem na frente do joelho e é conhecido popularmente como a “bolacha do joelho”. O nome condromalácia vem da aglutinação de chondros (cartilagem) e malacea (amolecimento) do latim.

A cartilagem articular é o tecido que recobre todas as articulações do corpo e, como é rico em água e proteínas flexíveis como molas, conferindo-lhe a capacidade de absorver, transmitir e dispersar energia cinética. À medida que a articulação se move, a cartilagem ajuda a amortecer os ossos e permite que deslizem suavemente um contra o outro.

Durante o movimento de flexão e extensão, a patela desliza sobre uma espécie de trilho ou calha óssea do fêmur que chamamos de tróclea. Consequentemente, a cartilagem da patela é muito solicitada em movimentos como subir e descer escadas e agachar.

Hoje, a condromalácia patelar é considerada a principal causa de dor crônica anterior do joelho, por vezes referido como síndrome patelo-femoral, acometendo de 70 a 80% da população mundial, segundo última estimativa e, por este motivo continua sendo objeto de estudos pelo mundo todo.

Quando a condromalácia se inicia, a cartilagem da patela amolece e vai perdendo sua capacidade de absorver as forças as quais é submetida, levando a sobrecarga do osso logo abaixo, também chamado de subcondral, causando dor.

Causas da Condromalácia Patelar

Envelhecimento

O amolecimento da cartilagem faz parte de nosso envelhecimento e imagens do desgaste da cartilagem da patela são muito frequentes em ressonâncias magnéticas de pessoas acima dos 30 anos. Em outras palavras: em algum momento da vida, todo mundo terá condromalacia em algum exame de imagem, mas nem todos terão sintomas. Por isso, o exame físico e o bom senso do medico especialista é fundamental no diagnóstico e tratamento.

Alterações anatômicas

Muito comum em pessoas que tem a chamada patela alta, ou seja, quando a patela encontra-se em uma altura acima do normal em seu trilho (tróclea). Nessas pessoas, o início da flexão faz com que a patela entre na tróclea sob pressão elevada, levando a sobrecarga na cartilagem.

A chamada tróclea rasa que, nada mais é que uma calha onde a patela desliza sem o seu sulco bem definido também leva ao aumento da pressão na cartilagem e, finalmente, a báscula da patela, tão presente nos laudos de tomografias e radiografias que, nada mais é que uma lateralização excessiva da patela, gerando sobrecarga na cartilagem lateral (de fora) da patela.

Esporte praticado

A condromalácia é uma lesão intimamente ligada ao que chamamos de desaceleração, ou movimento de frear. Isso ocorre quando, por exemplo, descemos escadas. Para desacelerarmos, contamos com um tipo de contração muscular chamada excêntrica, realizada pelo músculo anterior da coxa, ou quadríceps. Quando este músculo está fraco ou o padrão da contração é insuficiente, a cartilagem da patela começa a receber todo o impacto do movimento, amolecendo e fragmentando-se.

Lembrando que a contração excêntrica é fundamental no gesto esportivo da corrida, das danças e dos agachamentos que realizamos nos treinos de força na academia. Isso explica sua altíssima incidência em praticantes destas modalidades esportivas.

A corrida de rua é o esporte com maior incidência da condromalacia

Distúrbios biomecânicos

Hoje em dia, existe consenso entre nós médicos especialistas que a condromalácia está intimamente ligada aos chamados distúrbios biomecânicos, ou seja, a um funcionamento inadequado dos membros inferiores em nosso dia a dia e nos esportes. Isso ocorre por haver uma sincronização inadequada da contração dos músculos dos membros inferiores durante a execução dos movimentos.

O distúrbio biomecânico mais comum é o que chamamos de valgo dinâmico, muito frequente entre mulheres, onde, na desaceleração, o músculo do quadril que estabiliza a bacia, chamado de glúteo médio tem contração mais lenta que o anterior da coxa (quadríceps). Como consequência, o joelho roda para dentro e a patela lateraliza, gerando sobrecarga na cartilagem.

Portadores de hiperfrouxidão ligamentar

São indivíduos que tem maior flexibilidade articular, com aumento na mobilidade da patela. Nestes casos, se a força, qualidade e rapidez da contração musculares não forem suficientemente boas, a patela dança e faz pressão excessiva tanto na cartilagem de dentro (medial), quanto de fora (lateral), levando também a condromalacia.

Sexo

A condromalacia tem uma grande prevalência entre mulheres. Além dos distúrbios biomecânicos citados acima, sabe-se que o tempo de reação muscular das mulheres é mais lento, se comparado ao dos homens. A falta de proteção durante todo o movimento leva a sobrecarga da cartilagem e, consequentemente, ao desenvolvimento da condromalácia.

Fatores hormonais também são muito importantes. A queda dos níveis de estrogênio na segunda metade do ciclo menstrual reduz mais ainda esta resposta muscular, agravando o problema.

Excesso de peso

Em pessoas acima do peso, além do fator mecânico do aumento das forças de cisalhamento na cartilagem da patela, existem também um aumento de enzimas que destroem a cartilagem (interleucinas).

Pé plano

Ter pés planos ou chatos pode levar a maior pressão nas articulações do joelho.

Lesões anteriores

Lesões prévias como uma luxação (quando a patela sai do seu trilho), pode aumentar o risco de desenvolver a condromalácia e demais lesões na cartilagem da patela.

Alto nível de atividade física

Sabe-se que a atividade física moderada protege a cartilagem do joelho como um todo, mas atletas e esportistas com um alto nível de atividade ou prática de exercícios frequentes acima dos limites fisiológicos que exercem pressão sobre as articulações do joelho, isso pode aumentar o risco do surgimento da condromalácia e outra condropatia patelar.

Quais os sintomas da Condromalácia Patelar

A condromalácia patelar, assim como qualquer condropatia, é uma doença de evolução lenta e progressiva. Geralmente começa com um vago desconforto na parte interna do joelho, agravado pela atividade (correr, pular, subir ou descer degraus) ou por estar sentado prolongadamente com os joelhos em posição moderadamente dobrada (a chamada “dor do cinema”).

Alguns pacientes também podem ter uma sensação vaga de “aperto” ou “incomodo articular” na frente do joelho, levando a dificuldade de uso de salto alto nas mulheres, dirigir e de ficar muito tempo em pé.

Havendo progressão da doença, o joelho pode começar a inchar, levando à perda de força muscular do quadríceps (anterior da coxa). Quando isso ocorre, são comuns queixas de que o joelho está falseando, ou saindo do lugar, muitos estalos e o que chamamos de crepitação, popularmente conhecido como rangir.

Em estágios mais avançados da condromalácia, a atrofia torna-se intensa com muita fadiga muscular e movimentos do dia-a-dia como caminhar e subir escadas, tornam-se impossíveis.

Condromalácia Patelar – Mitos e verdades

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